A Igreja
deve respirar com os seus dois pulmões!
João Paulo II costumava dizer que, por causa do
cisma das igrejas orientais, a Igreja estaria respirando por um só pulmão e
que, a fim de voltar a respirar pelos dois, seria mister a comunhão entre as
igrejas do Ocidente e do Oriente (Papa João Paulo II, Ut unum sint, 54, e Redemptoris Mater, 34). A
Igreja de Cristo recebe seu oxigênio de dois pulmões: oriental e ocidental.
Duas tradições, dois modos complementares de viver o único evangelho.
Ut unum sint, 54. O outro acontecimento que me
apraz recordar, é a celebração do Milénio do Baptismo da Rus' (988-1988). A
Igreja Católica, e de modo particular esta Sé Apostólica, quis tomar parte nas
celebrações jubilares, e procurou sublinhar como o Baptismo conferido, em Kiev,
a S. Vladimiro fora um dos acontecimentos centrais para a evangelização do
mundo. A ele devem a sua fé, não apenas as grandes nações eslavas do Leste
europeu, mas também aqueles povos que vivem para além dos Montes Urais até ao
Alasca.
E, nesta perspectiva, encontra a sua motivação mais
profunda, aquela afirmação, que usei várias vezes: a Igreja deve respirar com
os seus dois pulmões! No primeiro milénio da história do cristianismo, essa
frase referia-se sobretudo ao binómio Bizâncio-Roma; desde o baptismo da Rússia
para a frente, ela vê alargarem-se os seus confins: a evangelização estendeu-se
a um âmbito muito mais vasto, a ponto de abraçar praticamente a Igreja inteira.
Se se considera ainda que esse acontecimento salvífico, verificado ao longo das
margens do Dniepre, remonta a uma época em que a Igreja no Oriente e no
Ocidente não estava dividida, compreende-se claramente como a perspectiva a
seguir para a plena comunhão, seja aquela da unidade na legítima diversidade.
Isto mesmo o afirmei vigorosamente na Epístola encíclica Slavorum
apostoli, 85 dedicada aos Santos Cirilo e Metódio, e na Carta
apostólica Euntes in mundum, dirigida aos fiéis da Igreja Católica
na comemoração do Milénio do Baptismo da Rus' de Kiev.
Redemptoris
Mater, 34. Tamanha riqueza de louvores, acumulada pelas diversas formas da grande
tradição da Igreja, poderia ajudar-nos a fazer com que a mesma Igreja torne a
respirar plenamente "com os seus dois pulmões": o Oriente e o
Ocidente. Como já afirmei, por mais de uma vez, isso é necessário mais do que
nunca, nos dias de hoje. Seria um valioso auxílio para fazer progredir o
diálogo em vias de atuação entre a Igreja católica e as Igrejas e as
Comunidades eclesiais do Ocidente. E seria também a via para a Igreja que está
a caminho poder cantar e viver de modo mais perfeito o seu
"Magnificat".
Os dois pulmões da Igreja
de Cristo. Entre
a Igreja Católica Apostólica Romana e as Igrejas Ortodoxas existem algumas
diferenças e os pontos comuns. É importante saber isso agora, porque o Cisma
entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente é a grande ferida entre os Católicos.
A Igreja de Cristo recebe
seu oxigênio de dois pulmões: oriental e ocidental. Duas tradições, dois modos
complementares de viver o único evangelho. (Papa João Paulo II – Séc. XX). Embora
haja divergências entre católicos e ortodoxos, é preciso que se diga que ambas
possuem a mesma raiz. Ambas são católicas. Ambas têm a Eucaristia. Ambas têm
sacramentos. Ambas veneram a Santíssima Mãe de Deus, Maria Santíssima. E os
ortodoxos até antes de 1054, eram católicos.
Naquele tempo, a Igreja era dividida em
Patriarcados. Isso porque os Apóstolos saíram evangelizando outras terras. Do
mesmo jeito que São Pedro e São Paulo foram para Roma, outros apóstolos foram
para outros lugares: Grécia, Constantinopla, Antioquia, além de Jerusalém.
Nesses lugares, do mesmo jeito que São Pedro deixou sucessores, os demais
apóstolos também deixaram seus sucessores. Com o tempo, foram estabelecidos os
grandes patriarcados. Nesse período, o Patriarcado Romano tinha, como era de
ser, a primazia sobre os demais Patriarcados. Mas daí um dia tudo isso mudou.
A história do Cisma começou quando Miguel Cerulário
se tornou patriarca de Constantinopla, no ano de 1043. Ele deu início a uma
campanha contra as Igrejas latinas na cidade de Constantinopla. Essa foi uma
atitude não muito feliz da parte deste Patriarca. Além disso, Cerulário começou
a se envolver em uma discussão teológica sobre o Espírito Santo (Ele afirmava
que o Espírito Santo procedia apenas do Pai, enquanto os teólogos latinos
afirmavam que o Espírito Santo procedia do Pai e do Filho).
Para resolver essa questão, Roma enviou o Cardeal
Humberto a Constantinopla em 1054 para tentar resolver este problema. No
entanto, o diálogo foi ineficaz. O Cardeal Humberto no fervor da discussão,
acabou excomungando o patriarca Cerulário. Esse ato foi entendido como um ato
de excomunhão para toda a Igreja Bizantina. Por isso as Igrejas Orientais da
época (que eram os demais patriarcados), convocaram um sínodo, e nesse sínodo,
a Igreja Bizantina acabou excomungando o Papa Leão IX. Ou seja, houve ai, uma
excomunhão pelas duas partes.
Houveram várias tentativas de reunificação. Nos
Concílios Ecumênicos de Lyon (1274) e Florença (1439) foi tentada uma
reconciliação, mas as reuniões mostraram-se efêmeras. As mútuas excomunhões só
foram “levantadas” em Dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI e o Patriarca
Atenágoras I, por forma a aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos.
Aliás, essa história de Atenágoras e Paulo VI,
merecia um filme, um livro e todas as homenagens que se pudessem prestar a dois
homens. Uma história de perdão, amizade, respeito e amor a Igreja de Cristo. As
excomunhões, entretanto, foram retiradas pelas duas Igrejas em 1966. Somente
recentemente o diálogo entre elas foi efetivamente retomado, a fim de sanar o
cisma.
Apesar das diferenças quanto aos costumes,
disciplinas e em alguns pontos teológicos, no essencial da fé apostólica,
católicos e ortodoxos conservam juntos aquilo que a tradição chama de
verdadeira fé: hierarquia, sucessão apostólica, sacerdócio, eucaristia,
sacramentos etc. Paulo VI falava dos “dois pulmões”, referindo-se ao ocidente e
oriente. São João Paulo II disse que a “Igreja deve voltar a respirar com os dois
pulmões” e
assinou o primeiro documento da Obra dos Pequenos Monges do Pater Noster, que
inclui esse apostolado pela unidade entre ocidente e oriente. Bento XVI repetia
essa expressão. Os últimos Papas, portanto, construíram uma ponte para
favorecer a unidade. O Papa Francisco já deu sinais muito vigorosos do
fortalecimento desse diálogo. Tudo indica que “os dois pulmões” já começam a
respirar no mesmo compasso, rumo à unidade.
O Santo Padre, papa Francisco, participou
(março 2015), na Capela Redemptoris Mater,
no Vaticano, juntamente com seus colaboradores da Cúria Romana, da segunda
pregação de Quaresma do Padre Raniero Cantalamessa.
O
pregador oficial da Casa Pontifícia meditou sobre o tema: “Dois pulmões, um só
respiro: Oriente e Ocidente perante o mistério da Trindade”. O frei Capuchinho
recordou, no início da sua pregação, a recente visita do Papa Francisco à
Turquia, cujo ponto alto foi o seu encontro com o patriarca ortodoxo
Bartolomeu. Um momento inédito, que levou à importante exortação ao Oriente
cristão e o Ocidente latino a “compartilhar plenamente a fé comum.
A
Igreja precisa respirar com dois pulmões e um só fôlego; precisa acolher
plenamente a abordagem da ortodoxia à Trindade na sua vida interna, isto é, na
oração, na contemplação, na liturgia, na mística; e precisa manter presente a
abordagem latina em sua missão evangelizadora.
Para
dar passos adiante no âmbito ecumênico, às vezes, vale mais um abraço, como o
do Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu, do que muitas discussões
doutrinais, disse o pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, em
entrevista ao jornal vaticano “L’Osservatore Romano”. Ele falou sobre as
pregações para a Quaresma, que terão início na sexta-feira, 27 de fevereiro.
O
religioso capuchinho fará reflexões sobre o tema “Dois pulmões, um só respiro.
Oriente e Ocidente unidos na profissão da mesma fé”. As pregações serão na
capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, na presença do Papa.
Por
que a escolha deste tema? - Frei Raniero: O apelo a partilhar plenamente a
fé que une Oriente e Ocidente, lançado por Francisco por ocasião do recente
encontro com Bartolomeu, fez nascer em mim o desejo de dar uma pequena
contribuição para a realização deste desejo que não é somente do Papa, mas de
toda a cristandade. Como o corpo humano, também o corpo de Cristo, a Igreja,
segundo uma imagem querida para João Paulo II, tem dois pulmões e, como no
corpo humano, eles devem respirar uníssonos. Daí, o título das pregações.
O
senhor faz votos de uma mudança de linha em âmbito ecumênico. Pode explicar-nos
a que se refere? Até então, no esforço de promover a unidade entre os
cristãos, prevaleceu a linha de resolver primeiro as diferenças, para depois
partilhar aquilo que temos em comum; ora, a linha que tem tomado pé em âmbitos
ecumênicos é partilhar aquilo que temos em comum, para depois, num clima de
fraterno respeito, resolver as diferenças. O resultado mais surpreendente desta
mudança de perspectiva é que as mesmas reais diferenças doutrinais, em vez de
aparecer como um “erro”, ou uma “heresia” do outro, muitas vezes nos parecem um
necessário corretivo e um enriquecimento da própria posição. Teve-se um exemplo
disso, em outra situação, com o Acordo de 1999 entre a Igreja Católica e a
Federação Mundial das Igrejas luteranas, a propósito da justificação mediante a
fé.”
Quais
são os pontos de contato e os que mais se distanciam entre tradição ocidental e
tradição oriental? Os grandes mistérios da fé, nos quais verificarei os
pontos em comum, embora na diversidade das duas tradições, são o mistério da
Trindade, a pessoa de Cristo, a pessoa do Espírito Santo e a doutrina da
salvação. Dois pulmões, um único respiro: essa será a convicção pela qual
pretendo me deixar guiar em tal caminho de revisitação. Francisco fala de
“diferenças reconciliadas”: não silenciadas ou banalizadas, mas reconciliadas.
Um sábio pensador pagão do Séc. IV, Quinto Aurélio Símaco, recordava uma
verdade que adquire todo o seu valor se aplicada às relações entre as várias
teologias do Oriente e do Ocidente: Uno itinere non potest perveniri ad tam
grande secretum (Não se pode chegar a um mistério tão grande percorrendo um
único caminho). Tratando-se de simples pregações quaresmais, é evidente que
abordarei problemas tão complexos sem nenhuma pretensão de inteireza, com uma
intenção prática e orientadora, mais que especulativa.
Em
quais aspectos os esforços ecumênicos podem se concentrar? No âmbito do
diálogo ecumênico oficial, sei que o epicentro do interesse, neste momento, é o
tema da Igreja. A Comissão Fé e Constituição, da qual também a Igreja católica
faz parte, tem concentrado seus esforços sobre este epicentro, e elaborou um
documento intitulado “A Igreja: rumo a uma visão comum”, que marca um notável passo
adiante na identificação daquilo que deve ser o dado fundamental comum a todos,
e daquelas que, por sua vez, são as características próprias e compartilháveis
de cada tradição cristã.
Até
que ponto gestos como a recente visita do Papa Francisco ao Patriarca
Bartolomeu pode influenciar no caminho ecumênico? A experiência demonstrou
que os verdadeiros “saltos de qualidade” nas relações entre Igreja Católica e
Ortodoxia não foram tanto os diálogos bilaterais, mas dois abraços: o abraço
entre Paulo VI e Atenágoras, e, ultimamente, o abraço entre Francisco e
Bartolomeu. Mas isso já se tornou uma convicção comum: o ecumenismo doutrinal
deve ser acompanhado, e, aliás, precedido, de um ecumenismo do ágape, ou seja,
da caridade e da amizade. É inacreditável quantos muros pareciam indestrutíveis
e caíram, como o muro de Berlim, de um dia para o outro, unicamente com um
abraço ou um gesto de reconciliação. Nos últimos tempos como presidente do
Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o Cardeal Walter
Kasper insistia muito sobre a necessidade de um “ecumenismo espiritual” que
aplaine o terreno para o ecumenismo doutrinal.
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!