1.  
Assunção de Maria
11.1.  Conceito de assunção de Maria
** A assunção de Maria é dogma
segundo o qual Maria, terminando seu tempo na terra, foi imediatamente elevada
ao céu em corpo e alma.
-   Maria está viva e ressuscita
junto da Santíssima Trindade.
-   Na comunhão dos santos, Maria
intercede por nós, seus devotos.
-   Após realizar o projeto de Deus
com disponibilidade e perseverança, Maria foi glorificada de forma total.
-   A Mãe de Jesus já é o que somos
chamados a ser após a ressurreição da carne. 
11.2.  Dados da fé
A) Magistério
-   No século XX, centenas de
petições em favor da assunção de Maria foram levadas à Santa Sé até o Papa Pio
XII (1939-1958).
-   Em 1946, o mesmo Pontífice fez
uma consulta aos bispos do mundo inteiro sobre veracidade e a conveniência de
se proclamar mais este dogma mariano.
◙   A posição favorável dos bispos
foi quase unânime.
◙   Mais de 200 teólogos, em todas as
partes da Igreja, demonstraram interesse e entusiasmo pela definição dogmática.
-   Na Constituição apostólica
“Munificentissimus Deus”, o Papa fez o seguinte pronunciamento:
è    
“A Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria,
terminado o curso da vida terrena, foi assunta à glória celeste em corpo e
alma”.
-   No dogma, Pio XII afirma que
Maria já se encontra no estado em que os justos se encontrarão depois da
ressurreição final.
** O Catecismo
da Igreja Católica afirma a verdade fundamental da assunção de Maria (no.
966).
-   Terminado o curso da vida
terrena, Maria foi assunta em corpo e alma à glória celeste.
-   Para que mais plenamente
estivesse conforme o seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da
morte, Maria foi exaltada pelo Salvador como rainha do universo.
-   A assunção de Maria é uma
participação singular na ressurreição de seu Filho.
-   A assunção de Maria é uma
antecipação da ressurreição dos cristãos.
B) Senso dos fiéis
a) Vitória do senso dos fiéis
** O dogma
da assunção de Maria, além da Imaculada Conceição, é outra vitória do
senso comum dos fiéis, que não se engana em questões de fé (Concílio Vaticano
II. L. G., no. 12).
-   O senso dos fiéis não funda dogma
algum, mas testemunha a verdade de um dogma.
-   Pio XII, na Constituição
“Manificentissimus Deus”, refere-se ao argumento decisivo da chama “conspiração
dos bispos e dos fiéis”.
-   A fé na assunção de Maria é um
fato eclesial.
-   Isso se mostra claramente nas
várias expressões do senso dos fiéis, especialmente no chamado movimento
assuncionista.
b) Petições em favor do dogma da
assunção de Maria
** De fato, o movimento assuncionista jogou sobre
Roma uma avalanche de petições
em favor do dogma da assunção de Maria.
-   Eis as etapas principais desse
processo:
1ª. Etapa:
** No ocidente, a partir do século XV, o povo católico continuava
acreditando na assunção de Nossa Senhora, com o apoio de muitos teólogos.
-   Nos séculos XVIII e XIX foram
apresentadas à Santa Sé várias petições em favor da definição do dogma da
assunção de Maria.
-   A primeira petição foi do Pe.
Cesário Shguanin (1692-1769), Servo de Maria, quase duzentos anos antes da
definição.
-   Veio depois, 1863, 
-   No século XIX destacaram-se as
petições do Cardeal Sterkx e de dom Sanchez em 1849, como da a rainha da
Espanha, Isabela, em 1863, sob sugestão de Santo Antônio Maria Claret.
-   Por ocasião do Concílio Vaticano
I (1870) cerca de 200 bispos pediram ao Papa Pio IX a definição dogmática da
assunção de Maria.
-   Pio IX respondeu a esses pedidos
que a assunção de Maria era, sim, uma verdade de fé, mas que não tinha ainda
chegado o tempo de sua definição.
2ª. Etapa:
** Outros entusiastas
se jogaram na iniciativa:
-   D. Luigi Vacari, beneditino e
depois bispo, que tentou mobilizar os bispos no Concílio Vaticano I para
declarar o dogma, tendo sido freado pelo Santo ofício.
-   O advogado, hoje beato, Bártolo
Longo, fundador do Santuário de Pompei, no início do século XX, recolheu
milhares de assinaturas dos peregrinos em favor do dogma.
-   Graças aos missionários, esse
movimento se espalhou pela África, Ásia e Oceania.
-   No Brasil, em particular,
recolheram-se 100 mil assinaturas.
-   A reação dos Papas Pio X e Bento
XV foi mandar aprofundar a questão do ponto de vista teológico.
3ª. Etapa:
** Já a partir dos anos 30 do século XX, mais e
mais petições foram se acumulando em Roma graças ao trabalho de promoção do dogma de diversos homens.
-   Os defensores foram o padre
jesuíta Salvador, novamente o beato B. Longo (122 volumes em 1929) e o padre estadunidense
Mateus Crawley.
-   Mais de mil imagens da Assunta
foram distribuídas pelo mundo.
-   Resultado: de 1863 até 1921 tinha
sido recolhidas mais de 1,6 bilhão de assinaturas em favor do dogma; e de 1921
até 1940, quase 6,5 bilhões.
-   De cada cinco dioceses no mundo,
quatro tinham feito esse pedido.
-   Em 1942, esses documentos foram
reunidos por G. Hentrich e R. G. de Moos em dois grandes volumes.
4ª. Etapa:
** Enfim, como fizera Pio IX para o dogma da
Imaculada, também o Papa Pio XII
consultou, em 1946, os bispos do mundo inteiro para verificar o sentimento do
povo fiel a respeito da verdade da assunção de Maria.
-   Mais de 98% responderam
positivamente a respeito da doutrina da assunção de Maria.
-   Isso é democracia.
-   Mais é uma democracia de
verificação, não democracia de constituição, como as modernas.
c) Expressões do senso dos fiéis
** As manifestações
do senso dos fiéis foram decisivas para a definição do dogma da
assunção de Maria.
■  Apócrifos assuncionistas
** Os apócrifos
assuncionistas começaram talvez ainda no século II nos círculos
judeu-cristãos e explodiram no Oriente a partir do século VI.
-   Falavam do fim da vida de Maria
em termos de dormição (“kóimesis”), de trânsito ou de descanso.
-   O relato, embora contado em
muitíssimas e variadas expressões, continha cinco episódios.
î     
Um anjo anuncia a Maria sua morte próxima.
î     
Todos os apóstolos são milagrosamente transportados
ao redor de seu leito.
î     
A virgem morre como todo ser humano (o que favorece
a tese mortalista).
î     
No enterro, os judeus fazem protestos contra ela, a
mãe do sedutor.
î     
Depois de sepultada, ressuscita e é levada ao
Paraíso (Apócrifo “Morte e assunção de Maria”).
** É um pouco entranho que, até a explosão dos
apócrifos assuncionistas pelos anos 500, só havia indícios vagos do destino
final de Maria.
-   A hipótese de Pe. B. Bagatti, no
início dos anos 1970, encontrara no Vale de Josafat, em Jerusalém, o túmulo em que Maria  fora
depositada.
-   A hipótese de Pe. B. Bagatti é a
seguinte: nos primeiro séculos, o túmulo de Maria estava sob os cuidados dos
judeu-cristãos, de modo que a grande Igreja, da qual eles se separaram, tinha
perdido contato com a tradição do “trânsito” corporal de Maria.
■  Festas
** O povo começar a celebrar a festa litúrgica da assunção de Maria, fixada em 15 de agosto
(seria o dies natalis de Maria, como para os santos), desde o século VI, na
Basílica que a imperatriz Eudóxia (século V) tinha mandado construir no lugar
do “passamento” de Maria em Jerusalém.
-   O imperador Maurício (582-603)
levou esta festa para Bizâncio (Constantinopla) e a difundiu por todo o
Império, de modo que se tornou, com o tempo, a maior festa mariana, promovendo
assim a crença na assunção de Maria.
-   Já no Oriente a festa teve início
no século VII em Roma, patrocinada pelo Papa S. Sérgio I (687-701), com uma
procissão solene que começava com a famosa oração Veneranda:
█ 
“É para nós digno de veneração esse dia em que a
Santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal. Não podei, entretanto, ficar
submetida aos laços da morte aquela que gerou de si mesma e encarnou o vosso
Filho, Senhor nosso”.
-   De Roma, a festa passou para a
França e a Inglaterra no século VIII, tomando o título de “Assunção de Santa
Maria”.
î     
Essa
festa era realizada com grande solenidade na corte de Carlos Magno, ao qual o
Papa Adriano II enviara aquela oração.
-   Sublinhava-se então fortemente o
aspecto da assunção corporal de Maria.
■  Homilias
** Na festa da assunção de Maria, os homiliastas começaram a exaltar
Maria, falando de sua assunção também corporal.
-   Um dos homiliastas era Teoktenos,
bispo de Lívia, perto de Jericó (século VI).
-   Usavam-se aí os chamados
argumentos de conveniência, aplicando à Virgem gloriosa diversas imagens
bíblicas.
-   Explicava-se que a Virgem fora
arrebatada ao céu ao modo de Henoc (Gn 5,24) e de Elias (2Rs 2,3.5.9.10).
■  Imagística
** O povo
devoto e seus artistas começaram a representar a Virgem subindo ao céu,
transportada por Cristo ou pelos anjos.
-   Representavam também a Virgem
reinando no céu, como a Mulher do Apocalipse (cap. 12).
C) Santo Padres
■  Crença dos Padres da Igreja antigos
** Os Santos
Padres abordam a crença da assunção de Maria a partir do século IV.
-   Santo Efrém, Timóteo de Jerusalém
e Santo Epifânio falam sobre assunção da Virgem Maria.
-   S.
Efrém (+ 373) afirmava que o corpo virginal de Maria não sofreu corrupção
depois da morte.
-   S.
Epifânio (+ 403) dizia que o fim dela foi prodigioso e que ela possuía o Reino
dos Céus ainda com a carne.
■  Patrística tardia
** Foi na patrística
tardia, a partir do século VI, que emergiu a doutrina mais elaborada da
assunção corporal de Maria.
-   No Ocidente, Gregório de Tours,
defendeu a doutrina da assunção de Maria no século VI.
-   Depois vieram Santo Ildefonso, no
século VII, e Santo Beda, no século VIII.
-   No Oriente, a partir do século
VIII, o tema da assunção ganha maior desenvolvimento, graças especialmente à
homilias de padres como Germano de Constantinopla, André de Creta, João
Damasceno e Teodoro Estudita.
-   Eram numerosos os testemunhos de
escritores e teólogos que defendiam a assunção de Maria, embora houvesse textos
que apresentavam incertezas sobre seu aspecto corporal.
-   Do século X em diante, os
orientais consolidaram sua convicção sobre a glorificação corpórea da Virgem
Santíssima, amplamente divulgada entre o clero, os teólogos e o povo em geral.
■  Carta “Vós me obrigais”
** No século IX surge a Carta “Vós me obrigais”, atribuída a São Jerônimo (século
IV), mas que era do monge Pascásio Radberto.
-   Na Carta se levantam dúvidas
sobre a autenticidade do apócrifo “Trânsito” e, em particular, sobre o aspecto corporal
da glorificação da Virgem Maria, sem, contudo, excluí-lo de todo.
-   Esse escrito teve grande
influência na Igreja latina.
-   Isso porque bloqueou fortemente o
desenvolvimento da crença na assunção de Maria, também por ter sido usado no
“Breviário Romano” durante setecentos anos, até a reforma de Pio V (1568).
■  “Livro da assunção da Beata Maria Virgem”
** Entretanto, para rebater a Carta, surgiu lá pelo
século XII um outro escrito, o “Livro
da assunção da Beata Maria Virgem”.
-   Esse escrito era atribuído a
Santo Agostinho (século V), mas, na verdade, não fora redigido por ele.
-   A base de sua argumentação
teológica é esta: “carne de Cristo – carne de Maria”.
-   Tal escrito contribuiu muito par
manter viva a consciência assuncionista, pois contava com o reconhecimento de
Santo Alberto, de Santo Tomás, de São Boaventura e de outros doutores.
-   Uma versão desse escrito foi
inserida na “Legenda áurea” de Jacopo de Varazze (+ 1298), difundindo mais
entre o povo a devoção da assunção.
D) Bases Bíblicas
■  Referência implícita e indireta da Bíblia
** A assunção de Nossa Senhora está radicada na Sagrada Escritura, conforme a
interpretação dos Padres da Igreja, teólogos e oradores sacros.
-   Não há nenhum texto da Bíblia que
faça referência explícita e direta à assunção de Maria.
-   Todavia, a tradição da Igreja
buscou fundamentação na Bíblia, recorrendo a certos temas e textos de modo
indireto e implícito.
-   A assunção de Maria não está
explícita na Bíblia, mas se deduz a partir da Bíblia.
■  Critério de interpretação bíblica: conjunto da
mensagem escriturística
** A Igreja busca o fundamenta da verdade da
assunção de Maria na Bíblia como um
todo.
-   Não é este ou aquele texto que
depõe em favor da glorificação da Mãe do Cristo, mas o conjunto da mensagem
bíblica.
-   As idéias comuns dos textos e
temas bíblicos são:
î A íntima associação de Maria ao
destino do Filho.
î A santidade plena da Mãe de
Jesus.
-   Baseando-se nas idéias comuns da
Bíblia, o povo de Deus descobriu e deduziu a verdade da glorificação imediata e
total da Mãe de Deus.
-   Assim, Maria participa da glória
de Jesus Cristo, assim como participou de sua vida, paixão e morte.
■  Textos e temas bíblicos
** De acordo com a tradição da Igreja, há diversos textos e temas que sustentam a
verdade da assunção de Maria.
-   Os textos e temas, que fazem a
referências bíblicas à assunção de Maria, são os seguintes:
◙Gn 3,15: mulher
vitoriosa
** Em Gn
3,15, aparece a mulher vitoriosa
sobre a serpente, símbolo do mal.
-   A mulher vitoriosa é interpretada
como Maria, a Mãe do Redentor.
-   Assim, Maria vence o pecado.
-   Então, Maria também vence as
conseqüências do pecado: a morte e sua corrupção.
-   Pois, para Paulo, ser vitorioso
significa  vencer não só o pecado mas
também a morte (1Cor 15,54).
◙Gn 3,6 e Lc 1,38: Nova
Eva
** Em Gn
3,6 e Lc 1,38, temos a figura da Nova
Eva.
-   Maria é a representação da Nova
Eva na história da salvação.
-   Como não comeu do “fruto da
morte”, então ela também não podia morrer corporalmente.
◙Sl 131,8 e Ap 11,19:
nova arca
**
Baseados em Sl 131,8 e Ap 11,19, os autores cristãos interpretam Maria como a nova arca.
-   A arca era o lugar da presença
divina e tornou-se imagem (símbolo) de Maria.
-   A madeira da velha arca deveria
ser incorruptível, por isso tinha que ser de acácia.
î Ainda mais, devia ser
incorruptível o corpo imaculado e virginal de Maria, inteiramente consagrado a
Cristo e à sua missão, não podendo, portanto, ser tragada pela morte (Ap
11,19).
-   Segundo os Padres da Igreja, vale
para a Assunta o que se diz da arca: “Levantai-vos, Senhor,
para vir ao vosso repouso, vós e a arca de vossa majestade” (Sl 131,8).
-   Ora, na ascensão, Cristo se
levantou; logo, Maria, sua arca, deve tê-lo seguido.
◙Lc 2,51-52: mãe
perfeita
** Em Lc
2,51-52, o evangelista destaca Maria como mãe
perfeita, qual Jesus era obediente.
-   Jesus, filho perfeito, como
prescreve o quarto mandamento (Ex 20,12), deve ter honrado perfeitamente sua
perfeita mãe.
-   Como, podendo e devendo, não iria
fazê-la, senão elevando-a ao céu também com o corpo.
◙Sl 44: rainha-mãe
** No
Salmo 44, temos a figura da
rainha-mãe.
-   A mãe do Rei merecia ser colocada
à direita do Filho, vitorioso da morte (Sl 44).
-   Os textos de Mt 2,11 (magos) e de
Lc 1,32-33 (visitação) fazem alusão a Maria como Rinha-mãe (“Ghebirah”).
-   Também a rainha-esposa se senta
no trono do Rei: “Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu
amado?” (Ct
8,5).
◙Lc 1,28: Maria repleta
da graça
** No
texto de Lucas (1,28), Maria é repleta da graça.
-   Lucas diz:
î “Ave, cheia de graça, o Senhor é
contigo” (Lc 1,28).
-   A assunção é a expressão final
dos favores divinos, dos quais Maria estava repleta.
◙Ap 12: mulher vestida
de sol
** Em Ap
12, o autor faz referência à mulher
vestida de sol.
-   Tal mulher é subtraída ao ataque
do mortífero dragão (Ap 12).
-   Sobre a mulher vestida de luz, as
traves não têm mais poder.
-   Maria participa da glória do
Filho, como participou de sua vida, perseguição e morte.
-   A Igreja viu na mulher do
Apocalipse a figura da Virgem glorificada, imagem escatológica da Igreja
(Concílio Vaticano II. L. G., no. 68).
◙Fl 3,10: primeira
pessoa tocada pelo poder da ressurreição de Cristo.
** Maria
é a primeira pessoa humana
tocada plenamente pelo poder da ressurreição de Cristo (Fl 3,10).
-   Pois ensina São Paulo: “Assim
em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem. Como primícias,
Cristo; em seguida, os que forem de Cristo” (1Cor 15,22-23).
-   Ora, a Virgem Maria foi a
criatura que mais pertenceu a Cristo.
-   Então, Maria será a primeira a
receber o efeito da ressurreição, ressuscitando logo após a morte.
-   Karl Rahner, em escrito póstumo,
diz que Maria, para ser a redimida primeira e integral, tinha que ressuscitar e
tornar-se, assim, o elo entre o primogênito dentro os mortos e a humanidade à
espera da ressurreição.
◙Jo 19,25-27: Maria como
participante do mistério pascal de Cristo
** A
partir de Jo 19,25-27, observamos que Maria participou totalmente do mistério pascal de Cristo.
-   A Virgem Maria foi singular e
generosa companheira de seu Filho (Concílio Vaticano II. L. G., no.
61).
-   Ora, se ela participou fiel e
plenamente do destino de Jesus na humilhação e paixão, como não haveria de
participar de sua glorificação?
-   De fato, lê-se: “Se
morrermos com Ele, com Ele viveremos. Se soubermos perseverar, com Ele
reinaremos” (2Tm
2,11-12;cf. Mt 19,27-30).
11.3.  Explicação teológica
A) Caráter teocêntrico e cristocêntrico do dogma da assunção de Maria
** O dogma da assunção de Maria tem caráter teocêntrico e cristocêntrico.
-   Antes de exaltar Maria, o dogma
exalta a Santíssima Trindade.
-   O dogma destaca a força da
ressurreição de Jesus.
-   Além disso, o dogma tem uma
finalidade soteriológico-pastoral: redunda em benefício de todo o povo de Deus.
B) Conexão do dogma da assunção de Maria com os outros três dogmas
marianos
** O dogma da assunção de Maria tem conexão com os outros três dogmas
marianos.
-   O dogma da assunção ganha luz
quando articulado, em termos de conexão dos mistérios, com os outros dogmas
marianos.
-   O dogma da assunção é coroação
dos três dogmas marianos anteriores.
-   A seguir, demonstraremos tal
conexão:
■  Conexão com a maternidade divina de Maria:
î Maria esteve unida a Cristo por
um laço íntimo e indissolúvel.
î Isso em todos os níveis: corporal
(pela geração), psicológico (pelo afeto) e espiritual (pela comunhão em sua
missão).
î Como poderia, então, estar
separada do Filho glorioso em virtude da morte corporal?
■  Conexão com a virgindade de Maria:
î Já que o corpo de Maria, porque
plasmado e ungido pelo Espírito da Vida, foi mantido sempre íntegro, como
poderia ter sofrido a dissolução da morte?
■  Conexão com a imaculada conceição de Maria:
î Por ser Toda santa (“Panaghia”),
Maria nada deveu ao pecado.
î Portanto, ela também nada deveu à
morte, que é o salário do pecado (Rm 6,23).
C) Maria foi assunta na glória celeste
** Maria foi assunta
na glória celeste.
-   Note que a definição infalível
não diz que Maria foi elevada ao céu, como se diz de modo popular.
-   Mas declara precisamente que ela
foi assunta na glória celeste, a fim de evitar todo entendimento espacializado
do fato da assunção.
-   Ademais, o “foi assunta” (ou
assumida ou ainda arrebatada) é um passivo divino: foi Deus que elevou Maria à
glória do Reino.
D) Questão aberta da morte de Maria
** Há o debate teológico sobre a morte de Maria, pois é ainda uma
questão aberta.
-   Na definição infalível do dogma
da assunção de Maria, Pio XII diz: “terminado o curso de sua vida terrena”.
-   Essa expressão deixa em aberto a
questão teológica: Maria morreu de verdade, como pensa o conhecido mariólogo
franciscano Balic, ou só adormeceu (morte aparente), como defendeu o grande
estudioso do dogma Jugie?
-   A tese mortalista, de que Maria
morreu mesmo, representa hoje a tendência dominante, mas não única.
E) Assunção de Maria no quadro escatológico da ressurreição na morte
** Há teólogos hoje que repensam a assunção de
Maria no quadro da escatologia da ressurreição “na” morte e não “depois” da morte.
-   Os teólogos afirmam, em
conseqüência, que a assunção de Maria não seria um caso exclusivo, mas apenas
típico.
-   Sem falar na debilidade
antropológica e bíblica desta visão teológica, ela esvazia o sentido da
assunção como privilégio mariano, tão enfatizado pela bula definitória (que
repete três vezes o termo privilégio).
-   No documento “A esperança cristã
na ressurreição” (Ed. Vozes, 1994), a Comissão Teológica Internacional se opõe
à escatologia da morte total seguida da ressurreição imediata e repropõe a
idéia do tempo intermédio entre o pós-morte e o fim dos tempos.
11.4.  Aplicações atuais do dogma da
assunção de Maria
A) Maria como imagem e início da Igreja do futuro.
** Maria é a imagem
e início da Igreja do futuro.
-   A assunção de Maria recorda-nos o
destino de nossa existência, pois um dia nós estaremos com Deus eternamente.
-   A assunção de Maria lembra-nos o
objetivo de nossa vida: estar, um dia, definitivamente, com Deus.
î     
Uma irmã
e mãe nossa – irmã na ordem da criação, mãe na ordem da graça -, já está com
Deus.
î     
Então,
renova em nosso coração a esperança de recebermos o idêntico prêmio e a mesma
herança eterna.
-   Maria na glória é sinal de
esperança segura e de conforto para o povo peregrino, porque ela é a imagem e
começo da Igreja consumada (Concílio Vaticano II. L. G., no. 68).
-   Sem dúvida, a ressurreição de
Cristo é garantia bastante forte para a nossa ressurreição, mas a assunção de
Maria reforça tal garantia e lhe acrescenta novos matizes, tipicamente
femininos.
B) Assunção de Maria confirma o sentido da vida como plenitude de
felicidade total
** A assunção de Maria confirma o sentido da vida como plenitude de
felicidade em corpo e alma (total).
-   O fiel se convence mais
fortemente de que o destino do ser humano é a glória perene e plena.
-   Somos cidadãos do céu, pois Jesus
transformará nosso mísero corpo semelhante ao seu corpo glorioso (Fl 3,20-21).
-   A festa da assunção é a festa de
nosso destino, pois o dogma se torna, ao lado e depois da ressurreição de
Cristo, terapia para o desespero humano diante do absurdo e do vazio valorial
provocados pela “morte de Deus”.
-   Ademais, afirmando que aquele que
sofreu as setes dores é agora coroada com doze estrelas, a assunção aparece
também como resposta ao problema do sofrimento.
C) A assunção de Maria afirma o valor da vida humana
** A assunção de Maria afirma o valor da vida humana.
-   A vida humana é sempre sagrada,
inclusive em sua dimensão biológica.
-   Foi um das lições que tirou Pio
XII do dogma, visto a partir da Segunda Guerra Mundial, que havia pouco
terminada.
-   A assunção é um protesto contra
todos os ataques à vida humana, como a guerra e a fome.
-   Mais amplamente, assunção de
Maria exalta toda forma de vida, como quer o movimento ecológico atual.
D) A assunção de Maria aponta-nos para a santificação de nosso corpo
** A assunção de Maria aponta-nos para a santificação de nosso corpo.
-   O corpo de Maria entrou na glória
celeste, todo santificado pela força do Espírito Santo.
-   O dogma manifesta o destino do
corpo santificado pela graça.
-   O dogma evidencia a criação
material participando do corpo ressuscitado de Cristo.
-   O dogma mostra a integridade
humana, corpo e alma, reinando após a peregrinação da história.
E) A assunção de Maria proclama a dignidade do corpo humano
** A assunção de Maria proclama a dignidade do corpo humano.
-   Sem nosso corpo não seríamos
completos e, por isso, nem totalmente felizes.
-   Isso vale especialmente em
relação aos corpos mais degradados, como são os corpos dos pobres (por causa da
fome, da exploração e do abandono) e os corpos das mulheres (pela exploração
sexual e comercial).
-   A assunção de Maria leva a
respeitar o corpo humano, tratando-o inclusive com toda pureza e castidade,
pois nosso corpo é templo do Espírito Santo, é para a santidade e não para o
pecado.
-   Nessa linha exclamou o Pe.
Ricardo Lombardi no Coliseu, às vésperas da declaração do dogma da assunção: “Jovens,
levantai a cabeça e olhai! No céu há um corpo de mulher”.
-   E Pe. Ricardo convidava os
rapazes e moças a se relacionar entre si com todo o respeito.
F) A assunção de Maria é o resgate do valor e digna da mulher
** A assunção de Maria é o resgate do valor e digna da mulher no mundo atual.
-   Uma mulher, Maria, já participa
da glória que está reservada à humanidade.
-   Nasce, para nós, um desafio:
lutar em favor das mulheres que, humilhadas, não têm podido deixar transparecer
sua grande vocação.
-   Em Maria, a dignidade da mulher é
reconhecida pelo Criador.
-   O mundo precisa caminhar e
progredir para chegar ao reconhecimento do valor da mulher.
G) A assunção de Maria aponta para a glorificação de todo o cosmo
** A assunção de Maria aponta para a glorificação de todo o cosmo.
-   No corpo glorioso de Maria começa
a criação material a ter parte no corpo ressuscitado de Cristo (Documento de Puebla,
no. 398).
-   Isso também é sugerido pelo
sublimes atavios cósmicos que embelezam a mulher do Apocalipse.
-   O autor do Apocalipse descreve a
figura da mulher vestida com sol, tendo a sua debaixo dos pés, e sobre a cabeça
um coroa de doze estrelas (Ap 12,1).
-   O corpo glorificado de Maria é
sinal da redenção de todo o cosmo.
H) A glorificação de Maria em alma e corpo é a exaltação da matéria e da
terra integradas no plano da salvação
** A glorificação de Maria em alma e corpo é a exaltação da matéria e da terra
integradas no plano da salvação.
-   Nas expressões de Karl Rahner, a
assunção é um canto à matéria e um elogio à fé que ama a terra, contra todos os
caluniadores do cristianismo, que o declaram inimigo da ordem natural.
-   Por sua parte, G. Jung, que era protestante,
via no dogma da assunção de Maria na glória a imagem da integração apoteótica
dos pólos contrários: corpo e alma, matéria e espírito, terra e céu, feminino e
masculino, eros e ágape.
î A assunção seria um símbolo que
responde, com eficácia poderosa, as profundas necessidades psíquicas do povo,
colaborando para seu equilíbrio emocional.
î No meio de suas dores e
tragédias, os humildes encontram nesse símbolo uma fonte riquíssima de consolo
e de esperança.
î Por isso, Jung, embora
protestante, considera a proclamação do dogma da assunção o acontecimento
religioso mais importante depois da reforma (C. G. Jung. Resposta a Jó, in
Obras completas. Editora Vozes).
-   Assim, Maria glorificada é a
garantia da realização plena do plano de salvação para a terra.
I) A assunção de Maria indica o valor que Deus dá aos pobres e humildes
** A assunção de Maria indica o valor que Deus dá
aos pobres e humildes.
-   A Virgem glorificada é um sinal
eloqüente do jeito de Deus agir, pois exalta os humildes (Lc 1,52; cf. 14,11.18).
-   De fato, Maria é a serva que foi
elevada a rainha (Lc 1,28.48).
-   Isso infunde imensa esperança aos
humilhados e ofendidos de nossa sociedade e desperta neles a coragem para lutar
por sua dignidade.
-   A assunção de Maria reforça a
prática cristã que se qualifica pelo serviço e pela generosidade em favor dos
outros.
J) A assunção de Maria é sinal da presença pneumática e da intervenção
poderosa da Mãe de Deus na história humana
** A assunção de Maria é sinal da presença pneumática e da intervenção poderosa da Mãe de
Deus na história humana.
-   Já glorificada, Maria é a Mãe da
Igreja, que continua cooperando na salvação dos seguidores de seu Filho, que
somos nós, peregrinos dentro da história da salvação.
-   O documento de Puebla afirma:
î     
“Ela,
gloriosa no céu, atua na terra. Participando do domínio do Cristo ressuscitado,
‘cuida com amor materno dos irmãos de seus filhos, que ainda peregrinam’ (LG
62); seu grande cuidado é este: que os cristãos ‘tenham vida abundante e
cheguem à maturidade da plenitude de Cristo’ (Cf. Jo 10,0;Ef 4,13)” (Doc. de
Puebla, no. 288).
-   Glorificada em corpo e alma, a
Virgem Santíssima está particularmente presente a nós e pode mais junto de
Deus, já que ela, com um corpo espiritualizado, está perto de cada um e
plenamente viva no meio do povo de Deus.
î     
Maria é a
nova arca da aliança (“Shekihah” = tenda ou morada).
-   A presença materna de Maria é uma
presença realíssima, presença em corpo e alma, de sorte que ela se torna
verdadeiramente a protagonista da história (Doc. de Puebla, no.
293).
î     
Tal
presença pneumática suscita no povo fiel confiança ilimitada e súplica em todas
as circunstâncias.
Komentarze
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!