AVE
MARIA
A
saudação que o Arcanjo Gabriel dirigiu à Virgem Santíssima ecoa ao longo dos
séculos. É a oração mais repetida pelos lábios dos católicos - por conta da
oração do Rosário, mais do que o próprio “Pai nosso”! -, apesar de sua forma,
tal como a conhecemos hoje, ser relativamente recente.
A
primeira parte da oração, como se sabe, foi tirada das Sagradas Escrituras. Foi
composta, portanto, pelo próprio Deus, tendo saído da boca de São Gabriel -
“Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” [1] - e de Santa Isabel - “Bendita és
tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” [2]. As duas frases
compõem um louvor à Virgem Maria e, ao mesmo tempo, uma profissão de fé
nos mistérios relacionados à sua vida. Era rezada desde os primórdios na liturgia bizantina e foi adicionada à liturgia latina por São Gregório Magno, que a manteve como antífona do ofertório.
nos mistérios relacionados à sua vida. Era rezada desde os primórdios na liturgia bizantina e foi adicionada à liturgia latina por São Gregório Magno, que a manteve como antífona do ofertório.
“Bendito é o fruto do teu ventre”: Isabel
contrapõe Maria a Eva. Enquanto esta quis tomar para si o fruto da árvore,
aquela entrega o fruto do seu ventre. O seu louvor prossegue: “Como mereço que
a mãe do meu Senhor venha me visitar?” O Papa Bento XVI comenta que “é o
Espírito Santo que abre os olhos de Isabel e que a leva a reconhecer em Maria a
verdadeira arca da aliança, a Mãe de Deus, que vem para a visitar” [3].
A
segunda parte da oração, bem posterior, é uma súplica dos fiéis, que durante
muito tempo foi rezada na oração litúrgica das Completas, pedindo à Santíssima
Virgem proteção na hora da morte. Foi no século XVI que o santo Papa Pio V “bateu
o martelo” e definiu o texto da oração tal como é conhecida hoje, já com o
acréscimo dos nomes de Jesus e Maria.
A
“Ave Maria” está muito ligada à história da Ordem dos frades dominicanos. São
Pio V, por exemplo, era dominicano. Ainda, de acordo com a Tradição da Igreja,
o Santo Rosário - ou “Saltério Mariano”, como era chamado - teria sido entregue
a São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores. Enfim, o texto que
guia a meditação desta aula foi escrito por Santo Tomás de Aquino, que também
era frade dominicano.
Em
seu comentário à saudação angélica, o Aquinate recorda que, “na antiguidade, a
aparição dos Anjos aos homens era um acontecimento de grande importância e os
homens sentiam-se extremamente honrados em poder testemunhar sua veneração aos
Anjos. (...) Mas um Anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se
tinha ouvido dizer antes que o Anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem,
reverenciando-a e dizendo: ‘Ave’.” [4].
Explicando
que, por sua natureza espiritual, familiaridade com Deus e plenitude de graças,
os anjos são superiores aos homens, o Doutor Angélico escreve que “não convinha
ao Anjo inclinar-se diante do homem, até o dia em que apareceu uma criatura
humana que sobrepujava os Anjos por sua plenitude de graças, por sua
familiaridade com Deus e por sua dignidade. Esta criatura humana foi a
bem-aventurada Virgem Maria. Para reconhecer esta superioridade, o Anjo lhe
testemunhou sua veneração por esta palavra: ‘Ave’.” [5].
Mas,
ainda que fosse grandiosa, ensina São Luís de Montfort, retomando uma Tradição
dos Santos Padres, que Jesus “quis humilhá-la e escondê-la durante a vida para
favorecer a sua humildade”, a qual “foi tão profunda, que [ela] não teve na
Terra atrativo mais poderoso nem mais contínuo que o de se esconder de si mesma
e de toda criatura, para que só Deus a conhecesse” [6]
Se,
todavia, os próprios anjos do Céu a saúdam, quanto mais nós, humanos, não
devemos saudá-la!
Na
liturgia, por exemplo, existe a bela tradição de inclinar-se diante do
santíssimo nome de Maria, cuja celebração, a propósito, é no próximo dia 12 de
setembro. Não se sabe exatamente qual a origem etimológica do nome Maria. Santo
Tomás mesmo dá três significados diferentes ao nome da Mãe de Deus: “iluminada
interiormente” [7], “soberana” [8] e “estrela do mar” [9]. É certo, porém, que,
ao invés do significado do nome honrá-la, foi ela, com a sua vida de graça e
virtudes, que tornou o seu nome honroso [10].
Quanto
à dificuldade que os protestantes têm com a oração da “Ave Maria”, é importante
lembrar que, embora a sua forma tenha evoluído até o século XVI, a sua essência
é apostólica. Os primeiros cristãos já veneravam a Virgem Maria com a saudação
angélica. Na Basílica da Anunciação, em Nazaré, há um grafite do século III, na
base de uma coluna, com as palavras do anjo: Ave Maria. Ainda mais cedo, no
século II, foi composta a famosa oração Sub tuum praesidium, na qual os
cristãos invocavam o refúgio da “Virgem gloriosa e bendita” e “santa Mãe de
Deus”.
Se é
verdade, portanto, que o texto da oração angélica levou tempo para evoluir, a
atitude filial a Maria é muito antiga por parte dos cristãos, mais antiga que o
próprio Cânon do Novo Testamento. Não deixa de ser incoerente a atitude de
quem, reconhecendo inspirados os 27 livros escolhidos pelos bispos da Igreja
Católica, rejeita, no entanto, a devoção à Virgem Maria, que é muito mais
primitiva que a própria Bíblia.
Komentarze
Prześlij komentarz
Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!