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Maternidade divina de Maria

 Maternidade divina de Maria

8.1.  Conceito de maternidade divina de Maria

** A maternidade divina de Maria é o dogma da Igreja segundo o qual Nossa Senhora é verdadeira Mãe de Deus, por haver concebido a Jesus Cristo por obra do Espírito Santo e por ter dado a luz ao Filho de Deus.
-   Maria é Mãe de Deus não quanto à natureza divina, mas sim quanto à natureza humana.
-   Por isso, a maternidade divina de Maria é o fato de ser ela verdadeiramente Mãe de Deus porque é a Mãe de Jesus Cristo que é Deus.
-   Tal dogma foi definido no século V pelo Concílio de Éfeso, datado no dia 22 de junho de 431.
-   Assim o Concílio se expressou:
  “Que seja excomungado quem não professar que Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo de Deus”.

8.2.  Dados da fé

A) Bases bíblicas

** A maternidade divina de Maria tem claras, profundas e sólidas raízes bíblicas.
-   Os evangelhos referem-se, várias vezes, a Maria como Mãe de Jesus.
-   Com o título de “Mãe”, a Virgem Santíssima é designada 25 vezes no Novo Testamento.
** De maneira concisa, São Paulo afirma que Jesus nasceu de Maria.
-   São Paulo diz textualmente
  “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gl 4,4-5).
-   Assim, Jesus Cristo, aquele que foi enviado do Pai, é também filho de Maria.

** A fundamentação bíblica encontra-se, explicitamente, em todos os evangelistas.
-   São Mateus mostra que Maria gera Jesus Cristo, Salvador e Deus - conosco, por obra do Espírito Santo (Mt 1,18-25), realizando assim a profecia de Isaías (Is 7,14)
-   Deixa patente que Jesus, o Filho de Maria, é o Salvador prometido por Deus nas Sagradas Escrituras (Mt 2,1-12).
-   Chama também Maria de mãe de Jesus (Mt 13,55).

** São Lucas diz que a concepção de Jesus por Maria procede da ação do Espírito Santo (Lc 1,26-38).
-   Mostra que ela é reconhecida como mãe do Salvador (Lc 1,39-45).
-   O evangelista deixa claro que Jesus será grande e será Filho do Altíssimo (Lc 1,32): Maria é, portanto, Mãe do Filho de Deus.
-   Cita Maria como “Mãe do Senhor” (Lc 1,43): “Senhor”, que é na Bíblia um nome divino, é aplicado a Deus e ao Messias-Rei enquanto representante de Deus.
-   Descreve que ela dá à luz a Jesus Cristo em Belém, na Judéia (Lc 2,1-7).

** São Marcos menciona que Jesus Cristo é o filho de Maria (Mc 3,31-35;6,3).

** No Evangelho de São João, Maria não é indicada pelo nome próprio, mas pela sua missão de ser mãe.
-   Nas bodas de Cana, o título “Mãe de Jesus” é repetido 3 vezes (Cf. Jo 2,1.3.5); “sua mãe” aparece 1 vez (Cf. Jo 2,12).
-   No Calvário, a denominação “Mãe de Jesus” é referida 1 vez (Cf. 19,25); “sua mãe” encontra-se 3 vezes (Cf. 19,26-27).
-   Em outro texto, João faz referência que Maria é mãe de Jesus (Jo 6,42).

** O livro dos Atos dos Apóstolos refere-se a Maria como Mãe de Jesus.
-   Ao apresentar a primeira comunidade cristã, o livro dos Atos dos Apóstolos narra que os apóstolos tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus (Cf. At 1,12-14).

** O Novo Testamento emprega em geral a expressão “mãe de Jesus” para falar de Maria.
-   Sabemos, porém, que Jesus é Deus.
-   Logo, Maria é mãe de Deus.

C) Magistério

** A maternidade divina de Maria é o mais antigo dogma mariano.
-   Foi o primeiro dogma proclamado oficialmente pela Igreja.
-   Surgiu como reação às pregações de Nestório.

**De início pastor zeloso, Nestório (380-451), patriarca de Constantinopla, incorreu na heresia que desviava a verdadeira concepção do mistério da encarnação.
-   Nestório afirmava duas naturezas de Cristo muito unidas, mas constituindo duas pessoas.
-   Por isso, manifestava que Maria é a Mãe do homem Jesus (“Crhristotókos”) ou Portadora de Deus (“Theotochos”), mas não a Mãe de Deus (“Theotókos”).
-   Conseqüentemente, Deus tinha habitado num homem, mas não se tinha feito homem.
-   Portanto, não existiu verdadeira encarnação.

** A heresia de Nestório (nestorianismo) comprometeu a fé autêntica em Jesus Salvador.
-   Se não houve a encarnação do Verbo, então a própria redenção do homem caiu por terra.
-   Essa heresia nestoriana causou grave escândalo no meio do povo e do clero, provocando divisões e paixões dentro da Igreja.
-   O nestorianismo foi combatido por São Cirilo, patriarca da Alexandria, que buscou recuperar a fé ortodoxa.
-   Em 430, o Sínodo de Roma condenou as idéias de Nestório.

** Desqualificando o nestorianismo, o Concílio de Éfeso definiu explicitamente que Maria é Mãe de Deus, aos 22 de junho de 431.
-   De acordo com o Concílio de Éfeso, Maria é verdadeira Mãe de Deus (“Theotókos”, “Dei Genitrix”, “Deipara”), mas segunda a carne, assumida pelo Verbo de Deus.
-   Por isso, O Concílio de Éfeso classificou o nestorianismo como heresia e depôs Nestório de sua sede patriarcal.
-   O povo acolheu com alegria e grande festa os resultados do Concílio.

** O objetivo do Concílio de Éfeso era afirmar a unidade da pessoa de Cristo.
-   Maria é Mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou.
-   Toda Mãe é Mãe de uma pessoa.
-   Qual a pessoa que nasceu de Maria?
-   A pessoa que nasceu de Maria é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana.

è     Maria não é, porém, a mãe apenas de carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, que tinha uma só Pessoa.
è     Daí dizer que Maria é Mãe de Deus, não enquanto Deus sem mais, mas enquanto Deus feio homem. Portanto,
è     “Theotókos” significa, teologicamente, não genitora da divindade, mas geradora do Verbo encarnado.

** O dogma da maternidade divina foi confirmado por diversos documentos do magistério da Igreja.
-   Diversos concílios da Igreja referiram-se à maternidade divina de Maria, reafirmando e esclarecendo o dogma.
-   O título “Theotókos” foi reafirmado como verdadeiro pelos concílios ecumênicos subseqüentes: Calcedônia em 451, Constantinopla II em 553 e Constantinopla II em 681.
-   O Concílio de Calcedônia deu uma formulação mais verbal e jurídica às afirmações do Concílio de Éfeso.
è     Com sua linguagem própria, dizia tal Concílio: “O Filho que antes dos séculos é gerado pelo Pai segundo a divindade, do mesmo modo, nos últimos dias, por nós e por nossa salvação, é gerado por Maria virgem Mãe de Deus segundo a humanidade”.
-   O Catecismo da Igreja Católica explica que Maria é verdadeiramente Mãe de deus porque é a mãe de Jesus (Jo 2,1;19,25) (nos. 495,466-467, 967-970).

D) Padres da Igreja

** Os Padres da Igreja já utilizavam o título de Mãe de Deus.
-   Os estudiosos estimam que o título Mãe de Deus (“Theotókos”) apareceu pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes de Alexandria (+ 250).
-   Diversos Padres da Igreja afirmavam a maternidade divina de Maria.
-   São João Damasceno (675-749) explicava tal dogma do seguinte modo:
è     “Nós dizemos que Deus nasceu de Maria, não no sentido de que a divindade do Verbo dependia de Maria, nas no sentido de que o Verbo, o qual, fora antes do tempo, nasceu do Pai, é eterno como o Pai e o Espírito Santo; na plenitude dos tempos viveu no seu seio, para nossa salvação e sem mudança, tornou carne e nasceu dela. A Virgem não gerou simplesmente um homem, mas um verdadeiro Deus, Deus não sem carne, mas feito carne”.

E) Senso dos fiéis

** Mesmo antes de oficializar o título na Igreja, o povo empregava a terminologia Mãe de Deus.
-   Nos primeiros séculos, o termo “Theotókos” era usado pelos pagãos para deusas-mães como Cibele, Astarté, Ishtar e, especialmente, a grande deusa egípcia Íris, “mãe do deus” Hórus, muito cultuada na Antiguidade.
-   O povo cristão assumiu “Theotókos” e o aplicou àquele que é a verdadeira Mãe de Deus: Virgem Maria.
-   Esse nome já se encontra na prece de súplica mais antiga, entre os séculos III e IV, dirigida a Maria, “Subtuum praesidium” (“À vossa proteção recorremos, santa mãe de Deus”) (Concílio Vaticano II. L. G., no. 66 e nota 21).
-   O grande Orígenes (+ 253) já tinha aplicado esse apelativo à Virgem Maria, sem levantar polêmica dentro da Igreja.

** Hoje, o título “Mãe de Deus” é familiar ao povo fiel.
-   Esta na segunda parte da Ave-Maria: “Santa Maria, mãe de Deus”.
-   Além disso, a imagem mariana mais popular é a da “mãe com o Menino”.
-   Assim aparece a Virgem Maria nas catacumbas desde o século II.
-   Na pintura frequentemente os artistas cristãos interpretam o sentimento popular.

8.3.  Explicação da maternidade divina de Maria

A) Como Maria pode ser Mãe de Deus se Deus é eterno?

** Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, mas segundo a carne, ou seja, segundo a humanidade de Jesus.
-   Pois Jesus é uma pessoa, e ser mãe é ser mãe de uma pessoa, que, no caso, é Deus.
-   É justamente como uma relação de pessoa a pessoa que o Concílio Vaticano II coloca na Lumen Gentium a maternidade da Virgem Maria (LG 56-59).

** A fé cristã reafirma que Jesus nasceu de Maria.
-   Os Santos Padres, como Santo Atanásio, Santo Inácio de Antioquia e Santo Irineu, fazem notar que as Sagradas Escrituras (Lc 1,35;Gl 4,4) e os Credos professam que Jesus nasceu de Maria e não em Maria ou por Maria, como queriam alguns heréticos de ontem (gnósticos) e “crentes” de hoje.
-   Para os Padres da Igreja, Maria é a origem de Jesus Cristo e não mero lugar.
-   Maria é a fonte da água salvadora (cf. Jo 4), e não simples aqueduto pelo qual teria passado o Corpo do Verbo, como dizia Valentino (+ 160), chefe dos gnósticos.

** Jesus Cristo teve verdadeira mãe humana: Virgem de Nazaré.
-   Assim como se diz que Deus (Cristo) sofreu e morreu, também se pode dizer que Ele teve uma mãe.
-   Igualmente, não são simplesmente as mãos de artistas que tocam a guitarra, mas sua pessoa, fazendo naturalmente uso das mãos.

B) Dignidade quase infinita de Maria por ser Mãe de Deus

** Por ser Mãe de Deus, Maria tem dignidade quase infinita (Santo Tomás de Aquino).
-   O Beato Duns Scotus, doutor mariano, declara que, depois de Filho de Deus, o título mais elevado é o de Mãe de Deus.
-   Maria é a primeira depois do Único (Y. Congar).
-   Maria é a infinitamente única (Ch. Péguy).
-   Além disso, como enfatiza Santo Agostinho, os dois sexos ficam honrados no plano de Deus: um pelo Filho de Deus e o outro pela Mãe de Deus.

C) A maternidade de Maria foi plenamente consciente e livre

** A maternidade de Maria foi plenamente consciente e livre.
-   A gravidez de Maria não foi de modo algum uma gravidez indesejada.
-   No texto da anunciação, Lucas mostra a Virgem Maria como uma mulher consciente, livre e decidida (Lc 1,38).
-   O Concílio Vaticano II diz:
è     “Os Santos Padres julgam que Deus não se serviu de Maria como de instrumento meramente passivo, mas julgam-na cooperando para a salvação com livre fé e obediência” (L. G., no. 56).

** Jesus mesmo ensina que mãe para ele era quem ouvia sua palavra e a punha em prática (Lc 8,21;11,27).
-   Ora, Maria foi sua mãe também e, sobretudo, por sua fé.
-   Por isso, os Santos Padres latinos, como Santo Agostinho e São Leão Magno, enfatizavam que Maria “concebeu antes na mente e depois no ventre”.
-   Santo Agostinho chegou a dizer: “Maria é mais feliz por ter sido discípula do Senhor do que mãe carnal do Senhor” (Sermão 25,7-8).

** De fato, a mãe verdadeira é aquela que acompanha sempre seu filho, na vida toda.
-   Então, a maternidade de Maria cobre toda a sua vida, da concepção ao Calvário, estendendo-se à sua existência no céu e prolongando-se até o fim dos tempos.
-   O Concílio Vaticano II afirma claramente:
è     “Esta maternidade perdura ininterruptamente até a perpétua consumação dos eleitos” (L. G., no. 62).
-   Poderíamos acrescentar: e continuará eternidade afora, pois Maria é mãe para sempre.

D) A Theotókos está a serviço de Cristo e da nossa salvação

** A Theotókos está a serviço de Cristo e da nossa salvação.
-   Confessar que Maria é Mãe de Deus é afirma o realismo do mistério da encarnação do Verbo de Deus: Jesus Cristo é verdadeiro homem, podendo sofrer e assim nos salvar.
-   Consequentemente, o dogma da maternidade divina de Maria tem valor cristológico.
-   Além disso, tal dogma tem uma dimensão soteriológica: é para a nossa salvação.
-   O próprio São Paulo afirma que Deus mandou seu Filho, feito de mulher, para que nós recebêssemos a adoção filial (Gl 4,4).

** Por conseguinte, dizer “Maria” é dizer “Cristo” e, finalmente, dizer nossa “salvação”.
-   Assim, Maria contém em pequeno o mistério da salvação por inteiro.
-   Por isso, São João Damasceno dizia:
è     “A palavra Theotókos contém toda a economia da salvação”.
-   São Leão Magno é mais explícito:
è     A fé em Maria Virgem-Mãe é como o resumo de toda a doutrina cristã.
è     De fato, dizer “Mãe” é afirmar a humanidade de Jesus, e dizer “Virgem” é afirmar a sua divindade.
-   Portanto, em Maria se concentra todo o catecismo.

E) Maria, Mãe dos fiéis

** Maria é a Mãe dos fiéis.
-   Por mandato de seu Filho unigênito, Maria tornou-se aos pés da cruz mãe dos discípulos na pessoa do discípulo âmago (Jo 19,25-28).
-   O senso dos fiéis percebe cedo essa verdade, enquanto os teólogos começaram a refletir sobre ela bastante tarde, ou seja, apenas a partir do século VIII, com Ambrósio Autperto.

** Maria é nossa mãe precisamente porque é mãe do Cristo.
-   Quer dizer: é a maternidade divina que é a base da maternidade espiritual de Maria.
-   Santo Agostinho declara que, se Maria é mãe da Cabeça, então ele é também mãe dos membros.
-   Portanto, Maria é mãe do Cristo total, ou seja, de Cristo e do Corpo, que é a Igreja (Concílio Vaticano II. L. G., no. 53).

F) Maternidade divina de Maria: razão de seu poder de mediação

** A maternidade divina de Maria é razão de seu poder de mediação.
-   Porque Maria é Mãe de Deus, ela é medianeira.
-   Pois, pelo fato dela ter sido mediadora da encarnação, ou seja, porque teve a “participação mais alta e mais real na humanidade Cristo” (A. Muller), ela pode ser hoje a nossa medianeira junto a Deus.

** Maria goza, junto ao único Mediador, de um verdadeiro direito materno (Concílio Vaticano II. L. G., no. 60-62; João Paulo II. Redemptoris Mater, II e II).
-   Com razão sentencia o povo: “Peça à mãe que o Filho atende”.
-   Todavia, o poder da Virgem Maria diante de Deus é um poder de ordem moral, como o de rainha-mãe junto ao trono do rei.
-   É um “direito de impetrar, e não de imperar” (Duns Scotus).
-   Maria não é a onipotência criadora e salvadora, mas a onipotência suplicante.

G) Maternidade divina de Maria, base da teologia marial

** A maternidade divina de Maria é base e princípio fundamental da teologia marial.
-   A maternidade divina de Maria está na origem dos demais dogmas marianos.
-   Todas as graças, privilégios e títulos de Maria estão fundamentados nesta verdade mariana.
-   A maternidade divina de Maria é a chave explicativa de seu mistério e missão.
-   Mais do que um privilégio pessoal, a maternidade de Nossa Senhora está a serviço da salvação do povo.

8.4.  Aplicações do dogma da maternidade divina de Maria

1ª) Doxologia

** O dogma da maternidade divina de Maria requer doxologia (louvor).
-   Diante da maternidade divina de Maria, nós devemos fazer a louvação a Deus pelas coisas maravilhosas que operou em Nossa Senhora, especialmente a encarnação.
-   Tudo em vista de nossa salvação.
-   E também devemos expressa nossa confiança na poderosíssima mediação da mãe de Cristo junto ao seu Filho divino.

2ª) Garantia de salvação

** O dogma da maternidade divina de Maria é garantia de salvação na nossa história.
-   O dogma da maternidade divina nos ensina que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, entrou na história humana.
-   Proclamar Maria Mãe de Deus significa proclamar que, realmente, o Reino de Deus “já está no meio de nós” (Lc 17,21;Mt 4,17).
-   Deus já está dentro de nossa história e é um dos nossos, tendo assumido tudo, menos o pecado.
-   Maria é aquela que, em nosso nome, colaborou para que isso acontecesse.

3ª) Invocação da Mãe dos viventes

** O dogma da maternidade divina justifica e fundamenta a invocação de Maria como Mãe dos viventes.
-   Tendo Jesus nos assumido como irmãos, Maria é também a Mãe de todos os viventes.
-   Se Maria é a Mãe de Jesus Cristo, ela é, também, a nossa mãe na ordem da fé.
-   O dogma da maternidade divina de Maria salienta a grandeza do mistério de Maria: junto a Jesus, ela pode interceder por nós.
-   Por isso, nós podemos invocar, com confiança, o poder da intercessão de Maria.

4ª) Imitação

** O dogma da maternidade divina de Maria implica imitação.
-   Nós somos, como Maria, chamados a encarnar a Palavra de Deus no concreto do dia a dia e na vida em sociedade (trabalho, escola, política, mercado, mídia, família, comunidade etc.).
-   Como mulher da encarnação, a figura de Maria afasta a idéia de uma religião intelectualista e alienada.
-   Os bispos nos ensinam que, com Maria, nós vivemos uma fé cristã encarnada:
è     “Sem Maria desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, e racionalismo espiritualista” (Doc. de Puebla, no. 301).
-   Por isso, imitar Maria é concretizar a Palavra de Deus em nossa existência pessoal e coletiva.

5ª) Serviço

** O dogma da maternidade divina de Maria nos coloca numa atitude de serviço.
-   A Bíblia mostra a maternidade divina de Maria como um dom, uma dignidade e um serviço.
-   Maria serve na media em que se coloca à disposição do plano de Deus (Lc 1,38).
-   A Igreja, que tem Maria como modelo, é chamada a fazer o mesmo: ser aberta ao plano de Deus.
-   Na linha de Maria, nós devemos ser servidores de Deus e da Igreja.

6ª) Dignificação da mulher

** O dogma da maternidade divina de Maria aponta para a dignificação da mulher.
-   Maria é a mulher, proclamada no Evangelho como a bendita entre as mulheres (Lc 1,42).
-   Em Maria Deus dignifica a mulher elevando-a a dimensões inimagináveis.
-   Os bispos afirmam:
è     “Em Maria, o Evangelho penetrou a feminilidade, redimiu e exaltou-a, dignificando extraordinariamente a mulher” (CNBB. Catequese Renovada, Doc. 26, no. 236).
-   Maria é assegura a grandeza da mulher.

7ª) Discipulado de Jesus

** O dogma da maternidade divina de Maria nos ensina o discipulado de Jesus.
-   Maria é o protótipo da discípula, que crê na Palavra de Deus, a medita e a coloca em prática, como ensina Jesus (Lc 8,21).
-   Como Maria, nós devemos realizar a nossa vida cristã mediante o discipulado de Jesus.
-   Como discípulos, nós devemos escutar a Palavra de Deus e praticá-la sempre.
-   Cada um de nós, como vivenciadores do compromisso cristão, devem conceber o Cristo em nosso coração pela fé e gerá-lo por meio do próprio testemunho do Evangelho no mundo contemporâneo.

8ª) Missionariedade do Reino de Deus

** O dogma da maternidade divina de Maria visualiza a missionariedade do Reino de Deus.
-   Como Mãe de Jesus, Maria é modelo de missionária por excelência, que se coloca a serviço de Deus e do seu Reino.
-   O Concílio Vaticano II afirma:
è     A Virgem Maria “deu em sua vida o exemplo daquele materno afeto do qual devem estar animados todos os que cooperam na missão apostólica da Igreja para a regeneração dos homens” (L. G., no. 65).
-   A missão materna de Maria nos impulsiona para que possamos ser agentes de pastoral da Igreja e evangelizadores no mundo.
-   Como Maria, nós devemos gerar o Cristo vivo nos corações dos outros, pelo anúncio da Palavra, pela celebração da graça sacramental e pelo testemunho de vida.

9ª) Modelo de maternidade

** O dogma da maternidade divina de Maria apresenta a Virgem de Nazaré como modelo de maternidade.
-   Em sua missão materna, Maria é exemplo especial para as mães.
-   Maria ensina as mães não só o valor da maternidade biológica, concebendo e gerando o filho como bênção de Deus.
-   Maria ensina também a importância da maternidade espiritual, comunicando a fé e a graça, da maternidade moral, transmitindo valores, e mesmo da maternidade comunitária, abrindo-se aos filhos dos outros.
-   Como Mãe de Jesus, Maria assumiu a maternidade de todos os seres humanos, adotando-os como seus filhos, irmãos de Jesus na redenção.

8.1.  Conceito de maternidade divina de Maria

** A maternidade divina de Maria é o dogma da Igreja segundo o qual Nossa Senhora é verdadeira Mãe de Deus, por haver concebido a Jesus Cristo por obra do Espírito Santo e por ter dado a luz ao Filho de Deus.
-   Maria é Mãe de Deus não quanto à natureza divina, mas sim quanto à natureza humana.
-   Por isso, a maternidade divina de Maria é o fato de ser ela verdadeiramente Mãe de Deus porque é a Mãe de Jesus Cristo que é Deus.
-   Tal dogma foi definido no século V pelo Concílio de Éfeso, datado no dia 22 de junho de 431.
-   Assim o Concílio se expressou:
  “Que seja excomungado quem não professar que Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo de Deus”.

8.2.  Dados da fé

A) Bases bíblicas

** A maternidade divina de Maria tem claras, profundas e sólidas raízes bíblicas.
-   Os evangelhos referem-se, várias vezes, a Maria como Mãe de Jesus.
-   Com o título de “Mãe”, a Virgem Santíssima é designada 25 vezes no Novo Testamento.
** De maneira concisa, São Paulo afirma que Jesus nasceu de Maria.
-   São Paulo diz textualmente
  “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gl 4,4-5).
-   Assim, Jesus Cristo, aquele que foi enviado do Pai, é também filho de Maria.

** A fundamentação bíblica encontra-se, explicitamente, em todos os evangelistas.
-   São Mateus mostra que Maria gera Jesus Cristo, Salvador e Deus - conosco, por obra do Espírito Santo (Mt 1,18-25), realizando assim a profecia de Isaías (Is 7,14)
-   Deixa patente que Jesus, o Filho de Maria, é o Salvador prometido por Deus nas Sagradas Escrituras (Mt 2,1-12).
-   Chama também Maria de mãe de Jesus (Mt 13,55).

** São Lucas diz que a concepção de Jesus por Maria procede da ação do Espírito Santo (Lc 1,26-38).
-   Mostra que ela é reconhecida como mãe do Salvador (Lc 1,39-45).
-   O evangelista deixa claro que Jesus será grande e será Filho do Altíssimo (Lc 1,32): Maria é, portanto, Mãe do Filho de Deus.
-   Cita Maria como “Mãe do Senhor” (Lc 1,43): “Senhor”, que é na Bíblia um nome divino, é aplicado a Deus e ao Messias-Rei enquanto representante de Deus.
-   Descreve que ela dá à luz a Jesus Cristo em Belém, na Judéia (Lc 2,1-7).

** São Marcos menciona que Jesus Cristo é o filho de Maria (Mc 3,31-35;6,3).

** No Evangelho de São João, Maria não é indicada pelo nome próprio, mas pela sua missão de ser mãe.
-   Nas bodas de Cana, o título “Mãe de Jesus” é repetido 3 vezes (Cf. Jo 2,1.3.5); “sua mãe” aparece 1 vez (Cf. Jo 2,12).
-   No Calvário, a denominação “Mãe de Jesus” é referida 1 vez (Cf. 19,25); “sua mãe” encontra-se 3 vezes (Cf. 19,26-27).
-   Em outro texto, João faz referência que Maria é mãe de Jesus (Jo 6,42).

** O livro dos Atos dos Apóstolos refere-se a Maria como Mãe de Jesus.
-   Ao apresentar a primeira comunidade cristã, o livro dos Atos dos Apóstolos narra que os apóstolos tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus (Cf. At 1,12-14).

** O Novo Testamento emprega em geral a expressão “mãe de Jesus” para falar de Maria.
-   Sabemos, porém, que Jesus é Deus.
-   Logo, Maria é mãe de Deus.

C) Magistério

** A maternidade divina de Maria é o mais antigo dogma mariano.
-   Foi o primeiro dogma proclamado oficialmente pela Igreja.
-   Surgiu como reação às pregações de Nestório.

**De início pastor zeloso, Nestório (380-451), patriarca de Constantinopla, incorreu na heresia que desviava a verdadeira concepção do mistério da encarnação.
-   Nestório afirmava duas naturezas de Cristo muito unidas, mas constituindo duas pessoas.
-   Por isso, manifestava que Maria é a Mãe do homem Jesus (“Crhristotókos”) ou Portadora de Deus (“Theotochos”), mas não a Mãe de Deus (“Theotókos”).
-   Conseqüentemente, Deus tinha habitado num homem, mas não se tinha feito homem.
-   Portanto, não existiu verdadeira encarnação.

** A heresia de Nestório (nestorianismo) comprometeu a fé autêntica em Jesus Salvador.
-   Se não houve a encarnação do Verbo, então a própria redenção do homem caiu por terra.
-   Essa heresia nestoriana causou grave escândalo no meio do povo e do clero, provocando divisões e paixões dentro da Igreja.
-   O nestorianismo foi combatido por São Cirilo, patriarca da Alexandria, que buscou recuperar a fé ortodoxa.
-   Em 430, o Sínodo de Roma condenou as idéias de Nestório.

** Desqualificando o nestorianismo, o Concílio de Éfeso definiu explicitamente que Maria é Mãe de Deus, aos 22 de junho de 431.
-   De acordo com o Concílio de Éfeso, Maria é verdadeira Mãe de Deus (“Theotókos”, “Dei Genitrix”, “Deipara”), mas segunda a carne, assumida pelo Verbo de Deus.
-   Por isso, O Concílio de Éfeso classificou o nestorianismo como heresia e depôs Nestório de sua sede patriarcal.
-   O povo acolheu com alegria e grande festa os resultados do Concílio.

** O objetivo do Concílio de Éfeso era afirmar a unidade da pessoa de Cristo.
-   Maria é Mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou.
-   Toda Mãe é Mãe de uma pessoa.
-   Qual a pessoa que nasceu de Maria?
-   A pessoa que nasceu de Maria é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana.

è     Maria não é, porém, a mãe apenas de carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, que tinha uma só Pessoa.
è     Daí dizer que Maria é Mãe de Deus, não enquanto Deus sem mais, mas enquanto Deus feio homem. Portanto,
è     “Theotókos” significa, teologicamente, não genitora da divindade, mas geradora do Verbo encarnado.

** O dogma da maternidade divina foi confirmado por diversos documentos do magistério da Igreja.
-   Diversos concílios da Igreja referiram-se à maternidade divina de Maria, reafirmando e esclarecendo o dogma.
-   O título “Theotókos” foi reafirmado como verdadeiro pelos concílios ecumênicos subseqüentes: Calcedônia em 451, Constantinopla II em 553 e Constantinopla II em 681.
-   O Concílio de Calcedônia deu uma formulação mais verbal e jurídica às afirmações do Concílio de Éfeso.
è     Com sua linguagem própria, dizia tal Concílio: “O Filho que antes dos séculos é gerado pelo Pai segundo a divindade, do mesmo modo, nos últimos dias, por nós e por nossa salvação, é gerado por Maria virgem Mãe de Deus segundo a humanidade”.
-   O Catecismo da Igreja Católica explica que Maria é verdadeiramente Mãe de deus porque é a mãe de Jesus (Jo 2,1;19,25) (nos. 495,466-467, 967-970).

D) Padres da Igreja

** Os Padres da Igreja já utilizavam o título de Mãe de Deus.
-   Os estudiosos estimam que o título Mãe de Deus (“Theotókos”) apareceu pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes de Alexandria (+ 250).
-   Diversos Padres da Igreja afirmavam a maternidade divina de Maria.
-   São João Damasceno (675-749) explicava tal dogma do seguinte modo:
è     “Nós dizemos que Deus nasceu de Maria, não no sentido de que a divindade do Verbo dependia de Maria, nas no sentido de que o Verbo, o qual, fora antes do tempo, nasceu do Pai, é eterno como o Pai e o Espírito Santo; na plenitude dos tempos viveu no seu seio, para nossa salvação e sem mudança, tornou carne e nasceu dela. A Virgem não gerou simplesmente um homem, mas um verdadeiro Deus, Deus não sem carne, mas feito carne”.

E) Senso dos fiéis

** Mesmo antes de oficializar o título na Igreja, o povo empregava a terminologia Mãe de Deus.
-   Nos primeiros séculos, o termo “Theotókos” era usado pelos pagãos para deusas-mães como Cibele, Astarté, Ishtar e, especialmente, a grande deusa egípcia Íris, “mãe do deus” Hórus, muito cultuada na Antiguidade.
-   O povo cristão assumiu “Theotókos” e o aplicou àquele que é a verdadeira Mãe de Deus: Virgem Maria.
-   Esse nome já se encontra na prece de súplica mais antiga, entre os séculos III e IV, dirigida a Maria, “Subtuum praesidium” (“À vossa proteção recorremos, santa mãe de Deus”) (Concílio Vaticano II. L. G., no. 66 e nota 21).
-   O grande Orígenes (+ 253) já tinha aplicado esse apelativo à Virgem Maria, sem levantar polêmica dentro da Igreja.

** Hoje, o título “Mãe de Deus” é familiar ao povo fiel.
-   Esta na segunda parte da Ave-Maria: “Santa Maria, mãe de Deus”.
-   Além disso, a imagem mariana mais popular é a da “mãe com o Menino”.
-   Assim aparece a Virgem Maria nas catacumbas desde o século II.
-   Na pintura frequentemente os artistas cristãos interpretam o sentimento popular.

8.3.  Explicação da maternidade divina de Maria

A) Como Maria pode ser Mãe de Deus se Deus é eterno?

** Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, mas segundo a carne, ou seja, segundo a humanidade de Jesus.
-   Pois Jesus é uma pessoa, e ser mãe é ser mãe de uma pessoa, que, no caso, é Deus.
-   É justamente como uma relação de pessoa a pessoa que o Concílio Vaticano II coloca na Lumen Gentium a maternidade da Virgem Maria (LG 56-59).

** A fé cristã reafirma que Jesus nasceu de Maria.
-   Os Santos Padres, como Santo Atanásio, Santo Inácio de Antioquia e Santo Irineu, fazem notar que as Sagradas Escrituras (Lc 1,35;Gl 4,4) e os Credos professam que Jesus nasceu de Maria e não em Maria ou por Maria, como queriam alguns heréticos de ontem (gnósticos) e “crentes” de hoje.
-   Para os Padres da Igreja, Maria é a origem de Jesus Cristo e não mero lugar.
-   Maria é a fonte da água salvadora (cf. Jo 4), e não simples aqueduto pelo qual teria passado o Corpo do Verbo, como dizia Valentino (+ 160), chefe dos gnósticos.

** Jesus Cristo teve verdadeira mãe humana: Virgem de Nazaré.
-   Assim como se diz que Deus (Cristo) sofreu e morreu, também se pode dizer que Ele teve uma mãe.
-   Igualmente, não são simplesmente as mãos de artistas que tocam a guitarra, mas sua pessoa, fazendo naturalmente uso das mãos.

B) Dignidade quase infinita de Maria por ser Mãe de Deus

** Por ser Mãe de Deus, Maria tem dignidade quase infinita (Santo Tomás de Aquino).
-   O Beato Duns Scotus, doutor mariano, declara que, depois de Filho de Deus, o título mais elevado é o de Mãe de Deus.
-   Maria é a primeira depois do Único (Y. Congar).
-   Maria é a infinitamente única (Ch. Péguy).
-   Além disso, como enfatiza Santo Agostinho, os dois sexos ficam honrados no plano de Deus: um pelo Filho de Deus e o outro pela Mãe de Deus.

C) A maternidade de Maria foi plenamente consciente e livre

** A maternidade de Maria foi plenamente consciente e livre.
-   A gravidez de Maria não foi de modo algum uma gravidez indesejada.
-   No texto da anunciação, Lucas mostra a Virgem Maria como uma mulher consciente, livre e decidida (Lc 1,38).
-   O Concílio Vaticano II diz:
è     “Os Santos Padres julgam que Deus não se serviu de Maria como de instrumento meramente passivo, mas julgam-na cooperando para a salvação com livre fé e obediência” (L. G., no. 56).

** Jesus mesmo ensina que mãe para ele era quem ouvia sua palavra e a punha em prática (Lc 8,21;11,27).
-   Ora, Maria foi sua mãe também e, sobretudo, por sua fé.
-   Por isso, os Santos Padres latinos, como Santo Agostinho e São Leão Magno, enfatizavam que Maria “concebeu antes na mente e depois no ventre”.
-   Santo Agostinho chegou a dizer: “Maria é mais feliz por ter sido discípula do Senhor do que mãe carnal do Senhor” (Sermão 25,7-8).

** De fato, a mãe verdadeira é aquela que acompanha sempre seu filho, na vida toda.
-   Então, a maternidade de Maria cobre toda a sua vida, da concepção ao Calvário, estendendo-se à sua existência no céu e prolongando-se até o fim dos tempos.
-   O Concílio Vaticano II afirma claramente:
è     “Esta maternidade perdura ininterruptamente até a perpétua consumação dos eleitos” (L. G., no. 62).
-   Poderíamos acrescentar: e continuará eternidade afora, pois Maria é mãe para sempre.

D) A Theotókos está a serviço de Cristo e da nossa salvação

** A Theotókos está a serviço de Cristo e da nossa salvação.
-   Confessar que Maria é Mãe de Deus é afirma o realismo do mistério da encarnação do Verbo de Deus: Jesus Cristo é verdadeiro homem, podendo sofrer e assim nos salvar.
-   Consequentemente, o dogma da maternidade divina de Maria tem valor cristológico.
-   Além disso, tal dogma tem uma dimensão soteriológica: é para a nossa salvação.
-   O próprio São Paulo afirma que Deus mandou seu Filho, feito de mulher, para que nós recebêssemos a adoção filial (Gl 4,4).

** Por conseguinte, dizer “Maria” é dizer “Cristo” e, finalmente, dizer nossa “salvação”.
-   Assim, Maria contém em pequeno o mistério da salvação por inteiro.
-   Por isso, São João Damasceno dizia:
è     “A palavra Theotókos contém toda a economia da salvação”.
-   São Leão Magno é mais explícito:
è     A fé em Maria Virgem-Mãe é como o resumo de toda a doutrina cristã.
è     De fato, dizer “Mãe” é afirmar a humanidade de Jesus, e dizer “Virgem” é afirmar a sua divindade.
-   Portanto, em Maria se concentra todo o catecismo.

E) Maria, Mãe dos fiéis

** Maria é a Mãe dos fiéis.
-   Por mandato de seu Filho unigênito, Maria tornou-se aos pés da cruz mãe dos discípulos na pessoa do discípulo âmago (Jo 19,25-28).
-   O senso dos fiéis percebe cedo essa verdade, enquanto os teólogos começaram a refletir sobre ela bastante tarde, ou seja, apenas a partir do século VIII, com Ambrósio Autperto.

** Maria é nossa mãe precisamente porque é mãe do Cristo.
-   Quer dizer: é a maternidade divina que é a base da maternidade espiritual de Maria.
-   Santo Agostinho declara que, se Maria é mãe da Cabeça, então ele é também mãe dos membros.
-   Portanto, Maria é mãe do Cristo total, ou seja, de Cristo e do Corpo, que é a Igreja (Concílio Vaticano II. L. G., no. 53).

F) Maternidade divina de Maria: razão de seu poder de mediação

** A maternidade divina de Maria é razão de seu poder de mediação.
-   Porque Maria é Mãe de Deus, ela é medianeira.
-   Pois, pelo fato dela ter sido mediadora da encarnação, ou seja, porque teve a “participação mais alta e mais real na humanidade Cristo” (A. Muller), ela pode ser hoje a nossa medianeira junto a Deus.

** Maria goza, junto ao único Mediador, de um verdadeiro direito materno (Concílio Vaticano II. L. G., no. 60-62; João Paulo II. Redemptoris Mater, II e II).
-   Com razão sentencia o povo: “Peça à mãe que o Filho atende”.
-   Todavia, o poder da Virgem Maria diante de Deus é um poder de ordem moral, como o de rainha-mãe junto ao trono do rei.
-   É um “direito de impetrar, e não de imperar” (Duns Scotus).
-   Maria não é a onipotência criadora e salvadora, mas a onipotência suplicante.

G) Maternidade divina de Maria, base da teologia marial

** A maternidade divina de Maria é base e princípio fundamental da teologia marial.
-   A maternidade divina de Maria está na origem dos demais dogmas marianos.
-   Todas as graças, privilégios e títulos de Maria estão fundamentados nesta verdade mariana.
-   A maternidade divina de Maria é a chave explicativa de seu mistério e missão.
-   Mais do que um privilégio pessoal, a maternidade de Nossa Senhora está a serviço da salvação do povo.

8.4.  Aplicações do dogma da maternidade divina de Maria

1ª) Doxologia

** O dogma da maternidade divina de Maria requer doxologia (louvor).
-   Diante da maternidade divina de Maria, nós devemos fazer a louvação a Deus pelas coisas maravilhosas que operou em Nossa Senhora, especialmente a encarnação.
-   Tudo em vista de nossa salvação.
-   E também devemos expressa nossa confiança na poderosíssima mediação da mãe de Cristo junto ao seu Filho divino.

2ª) Garantia de salvação

** O dogma da maternidade divina de Maria é garantia de salvação na nossa história.
-   O dogma da maternidade divina nos ensina que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, entrou na história humana.
-   Proclamar Maria Mãe de Deus significa proclamar que, realmente, o Reino de Deus “já está no meio de nós” (Lc 17,21;Mt 4,17).
-   Deus já está dentro de nossa história e é um dos nossos, tendo assumido tudo, menos o pecado.
-   Maria é aquela que, em nosso nome, colaborou para que isso acontecesse.

3ª) Invocação da Mãe dos viventes

** O dogma da maternidade divina justifica e fundamenta a invocação de Maria como Mãe dos viventes.
-   Tendo Jesus nos assumido como irmãos, Maria é também a Mãe de todos os viventes.
-   Se Maria é a Mãe de Jesus Cristo, ela é, também, a nossa mãe na ordem da fé.
-   O dogma da maternidade divina de Maria salienta a grandeza do mistério de Maria: junto a Jesus, ela pode interceder por nós.
-   Por isso, nós podemos invocar, com confiança, o poder da intercessão de Maria.

4ª) Imitação

** O dogma da maternidade divina de Maria implica imitação.
-   Nós somos, como Maria, chamados a encarnar a Palavra de Deus no concreto do dia a dia e na vida em sociedade (trabalho, escola, política, mercado, mídia, família, comunidade etc.).
-   Como mulher da encarnação, a figura de Maria afasta a idéia de uma religião intelectualista e alienada.
-   Os bispos nos ensinam que, com Maria, nós vivemos uma fé cristã encarnada:
è     “Sem Maria desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, e racionalismo espiritualista” (Doc. de Puebla, no. 301).
-   Por isso, imitar Maria é concretizar a Palavra de Deus em nossa existência pessoal e coletiva.

5ª) Serviço

** O dogma da maternidade divina de Maria nos coloca numa atitude de serviço.
-   A Bíblia mostra a maternidade divina de Maria como um dom, uma dignidade e um serviço.
-   Maria serve na media em que se coloca à disposição do plano de Deus (Lc 1,38).
-   A Igreja, que tem Maria como modelo, é chamada a fazer o mesmo: ser aberta ao plano de Deus.
-   Na linha de Maria, nós devemos ser servidores de Deus e da Igreja.

6ª) Dignificação da mulher

** O dogma da maternidade divina de Maria aponta para a dignificação da mulher.
-   Maria é a mulher, proclamada no Evangelho como a bendita entre as mulheres (Lc 1,42).
-   Em Maria Deus dignifica a mulher elevando-a a dimensões inimagináveis.
-   Os bispos afirmam:
è     “Em Maria, o Evangelho penetrou a feminilidade, redimiu e exaltou-a, dignificando extraordinariamente a mulher” (CNBB. Catequese Renovada, Doc. 26, no. 236).
-   Maria é assegura a grandeza da mulher.

7ª) Discipulado de Jesus

** O dogma da maternidade divina de Maria nos ensina o discipulado de Jesus.
-   Maria é o protótipo da discípula, que crê na Palavra de Deus, a medita e a coloca em prática, como ensina Jesus (Lc 8,21).
-   Como Maria, nós devemos realizar a nossa vida cristã mediante o discipulado de Jesus.
-   Como discípulos, nós devemos escutar a Palavra de Deus e praticá-la sempre.
-   Cada um de nós, como vivenciadores do compromisso cristão, devem conceber o Cristo em nosso coração pela fé e gerá-lo por meio do próprio testemunho do Evangelho no mundo contemporâneo.

8ª) Missionariedade do Reino de Deus

** O dogma da maternidade divina de Maria visualiza a missionariedade do Reino de Deus.
-   Como Mãe de Jesus, Maria é modelo de missionária por excelência, que se coloca a serviço de Deus e do seu Reino.
-   O Concílio Vaticano II afirma:
è     A Virgem Maria “deu em sua vida o exemplo daquele materno afeto do qual devem estar animados todos os que cooperam na missão apostólica da Igreja para a regeneração dos homens” (L. G., no. 65).
-   A missão materna de Maria nos impulsiona para que possamos ser agentes de pastoral da Igreja e evangelizadores no mundo.
-   Como Maria, nós devemos gerar o Cristo vivo nos corações dos outros, pelo anúncio da Palavra, pela celebração da graça sacramental e pelo testemunho de vida.

9ª) Modelo de maternidade

** O dogma da maternidade divina de Maria apresenta a Virgem de Nazaré como modelo de maternidade.
-   Em sua missão materna, Maria é exemplo especial para as mães.
-   Maria ensina as mães não só o valor da maternidade biológica, concebendo e gerando o filho como bênção de Deus.
-   Maria ensina também a importância da maternidade espiritual, comunicando a fé e a graça, da maternidade moral, transmitindo valores, e mesmo da maternidade comunitária, abrindo-se aos filhos dos outros.

-   Como Mãe de Jesus, Maria assumiu a maternidade de todos os seres humanos, adotando-os como seus filhos, irmãos de Jesus na redenção.

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