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Discursos do papa na Polônia JMJ 2016

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À POLÓNIA
POR OCASIÃO DA XXXI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(27-31 DE JULHO DE 2016)





Bem-aventurados os misericordiosos
(Hino Jornada Mundial da Juventude - Cracóvia 2016)
Título original: Błogosławieni Miłosierni
Letra: Jakub Blycharz
Versão: Pe. Zezinho, scj, Pe. Joãozinho, scj e Jonas Rodrigues (Versão oficial aprovada pela CNBB)

Levantarei meu olhar aos montes
De onde o auxílio virá
Deus é a força de quem tem fé
Misericórdia Ele é
Quando erramos Ele é por nós
Mostra-nos o colo do Pai
Com seu sangue libertador
Livra do mal e da dor
Bem aventurados os misericordiosos
Porque eles alcançarão misericórdia

Sem seu perdão quando eu cair
Quem poderá me levantar?
Se Deus perdoa quem somos nós
Para não perdoar?

O sangue de Cristo nos resgatou
Ele ressuscitou!
Grite pro mundo inteiro ouvir
Jesus Cristo é o Senhor!

Deixa o teu medo e tem fé
Um novo tempo virá
Cristo está vivo: vivo entre nós!
E um dia Ele voltará!




ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Cracóvia, Castelo de Wawel
Quarta-feira 27 de julho de 2016

Senhor Presidente,
Distintas Autoridades
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Magníficos Reitores,
Senhoras e Senhores!

Com deferência, saúdo o Senhor Presidente e agradeço o seu acolhimento generoso e as palavras amáveis. Sinto-me feliz por poder saudar os ilustres membros do Governo e do Parlamento, os Reitores das universidades, as Autoridades regionais e municipais, bem como os membros do Corpo Diplomático e as outras Autoridades presentes. É a primeira vez que visito a Europa Centro-Oriental e estou contente por começar da Polónia, que, entre os seus filhos, conta o inesquecível São João Paulo II, idealizador e promotor das Jornadas Mundiais da Juventude. Ele gostava de falar da Europa que respira com os seus dois pulmões: o sonho dum novo humanismo europeu é animado pela respiração criativa e harmónica destes dois pulmões e pela civilização comum que tem no cristianismo as suas raízes mais sólidas.

A memória caracteriza o povo polaco. Sempre me impressionou o sentido vivo da história do Papa João Paulo II. Quando falava dos povos, partia da sua história procurando fazer ressaltar os seus tesouros de humanidade e espiritualidade. A consciência da identidade, livre de complexos de superioridade, é indispensável para organizar uma comunidade nacional com base no seu património humano, social, político, económico e religioso, para inspirar a sociedade e a cultura, mantendo-as simultaneamente fiéis à tradição e abertas à renovação e ao futuro. Foi nesta perspectiva que celebrastes, recentemente, os mil e cinquenta anos do Batismo da Polónia. Foi certamente um momento forte de unidade nacional, que confirmou como a concórdia, mesmo na diversidade das opiniões, é a estrada segura para se alcançar o bem comum de todo o povo polaco.

E uma profícua cooperação internacional e a mútua consideração maturam através da consciência e do respeito pela identidade própria e alheia. Não pode haver diálogo, se cada qual não parte da sua própria identidade. Mas, na vida diária de cada indivíduo e também de cada sociedade, há dois tipos de memória: a boa e a má, a positiva e a negativa. A memória boa é aquela que a Bíblia nos mostra no Magnificat, o cântico de Maria, que louva o Senhor e a sua obra de salvação. Ao contrário, a memória negativa é aquela que mantém o olhar da mente e do coração obsessivamente fixo no mal, a começar pelo mal cometido pelos outros. Vendo a vossa história recente, agradeço a Deus porque soubestes fazer prevalecer a memória boa, celebrando, por exemplo, os cinquenta anos do perdão, mutuamente oferecido e recebido, entre os episcopados polaco e alemão, depois da II Guerra Mundial. Apesar de a iniciativa envolver inicialmente apenas as comunidades eclesiais, todavia desencadeou um processo social, político, cultural e religioso irreversível, mudando a história das relações entre os dois povos. E, na mesma linha, recordamos também a Declaração Conjunta entre a Igreja Católica da Polónia e a Igreja Ortodoxa de Moscovo: um ato que deu início a um processo de aproximação e fraternidade não apenas entre as duas Igrejas, mas também entre os dois povos.

Assim a nobre nação polaca mostra como se pode fazer crescer a memória boa e deixar para trás a má. Para isso, requer-se uma esperança e confiança firmes n'Aquele que guia os destinos dos povos, abre portas fechadas, transforma as dificuldades em oportunidades e cria novos cenários onde parecia impossível. Disto mesmo dão testemunho as vicissitudes históricas da Polónia: depois das tempestades e das trevas, o vosso povo, restabelecido na sua dignidade, pôde cantar, como os judeus no regresso de Babilónia: «Parecia-nos viver um sonho. A nossa boca encheu-se de sorrisos e a nossa língua de canções» (Sal 126/125, 1-2). A consciência do caminho feito e a alegria pelas metas alcançadas dão força e serenidade para se enfrentar os desafios atuais, que requerem a coragem da verdade e um compromisso ético constante, a fim de que os processos decisórios e operativos, bem como as relações humanas sejam sempre respeitosos da dignidade da pessoa. E, com isto, está relacionada toda a atividade, incluindo a economia, a relação com o meio ambiente e a própria forma de gerir o complexo fenómeno migratório.

Este último exige um suplemento de sabedoria e misericórdia, para superar os medos e produzir um bem maior. É preciso identificar as causas da emigração da Polónia, facilitando o regresso de quantos o queiram fazer. Simultaneamente é precisa a disponibilidade para acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; a solidariedade para com aqueles que estão privados dos seus direitos fundamentais, designadamente o de professar com liberdade e segurança a sua fé. Ao mesmo tempo, devem ser estimuladas colaborações e sinergias a nível internacional a fim de se encontrar soluções para os conflitos e as guerras, que forçam tantas pessoas a deixar as suas casas e a sua pátria. Trata-se, pois, de fazer o possível para aliviar os seus sofrimentos, sem se cansar de trabalhar com inteligência e ininterruptamente pela justiça e a paz, testemunhando com os factos os valores humanos e cristãos.

À luz da sua história milenária, convido a nação polaca a olhar com esperança o futuro e as questões que tem de enfrentar. Esta atitude favorece um clima de respeito entre todas as componentes da sociedade e um diálogo construtivo entre as diferentes posições; além disso cria as melhores condições para um crescimento civil, económico e até demográfico, alentando a confiança de oferecer uma vida boa aos próprios filhos. Com efeito, estes não deverão apenas enfrentar problemas, mas poderão usufruir da beleza da criação, do bem que soubermos fazer e difundir, da esperança que lhes soubermos dar. Assim as próprias políticas sociais a favor da família – núcleo primário e fundamental da sociedade –, que visam socorrer as mais frágeis e pobres e apoiá-las no acolhimento responsável da vida, serão ainda mais eficazes. A vida deve ser sempre acolhida e protegida – as duas coisas juntas: acolhida e protegida – desde a concepção até à morte natural, e todos somos chamados a respeitá-la e cuidar dela. Por outro lado, compete ao Estado, à Igreja e à sociedade acompanhar e ajudar concretamente quem está em situação de grave dificuldade, para que o filho não seja jamais sentido como um fardo, mas como um dom, e as pessoas mais frágeis e pobres não se vejam abandonadas.

Senhor Presidente, a nação polaca pode – como sucedeu em todo o seu longo percurso histórico – contar com a colaboração da Igreja Católica, para que, à luz dos princípios cristãos que a inspiram e que forjaram a história e a identidade da Polónia, saiba nas novas condições históricas avançar no seu caminho, fiel às suas melhores tradições e repleta de confiança e esperança, mesmo nos momentos difíceis.

Ao mesmo tempo que lhe renovo a expressão da minha gratidão, desejo ao Senhor Presidente e a cada um dos presentes um sereno e frutuoso serviço ao bem comum.

Nossa Senhora de Częstochowa abençoe e proteja a Polónia!

ENCONTRO COM OS BISPOS POLACOS
DIÁLOGO
Catedral do Wawel, Cracóvia
Quarta-feira, 27 de julho de 2016
Papa Francisco:
Antes de começar o diálogo – a partir das perguntas que preparastes – quero, juntamente convosco, praticar uma obra de misericórdia e depois sugerir-vos outra. Sei que, nestes dias, muitos de vós estavam ocupados com a Jornada da Juventude e não puderam ir ao funeral do amado D. Zymowski (é uma obra de caridade enterrar os mortos) e gostaria que agora, todos juntos, fizéssemos uma oração por D. Zygmund Zymowski e que esta seja uma verdadeira manifestação do amor fraterno: enterrar um irmão que morreu. Pater noster... Ave Maria... Gloria Patri... Requiem aeternam...

E a outra obra de misericórdia que gostaria de sugerir tem a ver com o nosso amado Cardeal Macharski que está muito doente. Sei que estais preocupados… Penso que não se pode entrar onde ele está, inconsciente, mas pelo menos chegar perto dele, aproximar-se da clínica, do hospital, e tocar a parede como que dizendo: «Irmão, estou contigo». Visitar os doentes é outra obra de misericórdia. Eu também irei. Obrigado.
Um de vós preparou as perguntas; pelo menos fizeram-mas chegar. Agora estou ao vosso dispor.
D. Marek Jędraszewski:
Santo Padre, parece que os fiéis da Igreja Católica e, em geral, todos os cristãos na Europa ocidental se encontram cada vez mais em minoria no seio duma cultura contemporânea ateia-liberal. Na Polónia, assistimos a um conflito profundo, a uma luta enorme entre fé em Deus, dum lado, e, do outro, um pensamento e estilos de vida como se Deus não existisse. Na sua opinião, Santo Padre, que tipo de ação pastoral deveria empreender a Igreja Católica no nosso país para que o povo polaco permaneça fiel à sua mais que milenária tradição cristã? Obrigado.
Papa Francisco:
O senhor é bispo de...?
D. Marek Jędraszewski:
…de Łodź, onde teve início o caminho de Santa Faustina; pois foi lá que ouviu a voz de Cristo dizendo-lhe para ir a Varsóvia e fazer-se monja… precisamente em Łodź. A história da sua vida começou na minha cidade.

Papa Francisco:
O senhor é um privilegiado. É verdade. A descristianização, a secularização do mundo moderno é intensa; é muito grande. Mas há quem diga: Sim, é grande, mas veem-se fenómenos de religiosidade que parecem indicar um despertar do sentido religioso. E isto poderia ser também um perigo. Penso que, neste mundo tão secularizado, temos ainda outro perigo: a espiritualidade gnóstica. Esta secularização torna possível fazer crescer uma vida espiritual um pouco gnóstica. Lembremos que foi a primeira heresia da Igreja: o apóstolo João malha nos gnósticos – e como..., com que força! –, com a sua espiritualidade subjetiva, sem Cristo. A meu ver, o problema mais grave desta secularização é a descristianização: tirar Cristo, tirar o Filho. Eu rezo, sinto... e nada mais: isto é gnosticismo. (E há ainda o pelagianismo, outra heresia que também está na moda hoje, mas não quero falar dela agora, porque a sua pergunta requer que fale do primeiro; falaremos do pelagianismo noutro momento). Encontrar Deus sem Cristo: um Deus sem Cristo, um povo sem Igreja. E porquê? Porque a Igreja é a Mãe, aquela que te dá a vida, e Cristo é o Irmão mais velho, o Filho do Pai, que faz pensar no Pai, é aquele que te revela o nome do Pai. Uma Igreja órfã: o gnosticismo de hoje, como descristianização que é, deixa-nos sem Cristo, leva-nos a uma Igreja, melhor dizendo, a cristãos, a um povo órfão. E nós devemos ajudar o nosso povo a perceber isto.
Que vos recomendaria eu? Vem-me ao pensamento – mas é a recomendação do Evangelho, onde temos precisamente o ensinamento do Senhor – a proximidade. Hoje nós, servidores do Senhor (bispos, sacerdotes, consagrados, leigos convictos), devemos estar próximo do povo de Deus. Sem proximidade, existe apenas palavra sem carne. Pensemos – faz-me bem pensar nisto – nos dois pilares do Evangelho. Quais são os dois pilares do Evangelho? As Bem-aventuranças e, depois, Mateus 25, o «protocolo» segundo o qual todos seremos julgados. Descer ao concreto. Proximidade. Tocar. As obras de misericórdia, tanto corporais como espirituais. «Mas o senhor diz estas coisas porque a moda este ano é falar da misericórdia!» Não; é o Evangelho! O Evangelho, com as obras de misericórdia. Temos lá aquele herege ou descrente de samaritano que se comove e faz o que deve fazer, desembolsando mesmo dinheiro! Tocar. No Evangelho, temos Jesus que estava sempre no meio do povo ou com o Pai: ou em oração, a sós com o Pai, ou entre a multidão com os seus discípulos. Proximidade. Tocar. É a vida de Jesus... Quando Ele Se comoveu às portas da cidade de Naim (cf. Lc 7, 11-17), comoveu-se, foi e tocou no caixão, enquanto dizia à mãe em lágrimas: «Não chores».
Proximidade... E a proximidade é tocar a carne sofredora de Cristo. E a Igreja, a glória da Igreja, são os mártires – sem dúvida –, mas são-no também tantos homens e mulheres que deixaram tudo e passaram a sua vida nos hospitais, nas escolas, com as crianças, com os doentes… Lembro-me duma freirinha, na África Central: tinha 83/84 anos, magra, corajosa, com uma menina... Veio saudar-me: «Eu não sou daqui; sou do outro lado do rio, do Congo, mas de vez em quando, uma vez por semana, venho aqui fazer compras, porque são mais acessíveis». Disse-me a idade: 83/84 anos. «Há 23 anos que estou cá; sou enfermeira obstétrica, fiz nascer duas/três mil crianças» - «Ah! E vem aqui sozinha?» - «Sim, sim; tomamos a canoa». À idade de 83 anos, fazia uma hora de canoa e chegava. Esta mulher e muitas como ela deixaram o seu país – ela é italiana, de Bréscia –, deixaram o seu país para tocar a carne de Cristo. Se formos aos países de missão, na Amazónia, na América Latina, nos cemitérios, encontramos as sepulturas de muitos homens e mulheres consagrados mortos jovens, porque, não tendo os anticorpos para as doenças daquelas terras, morriam jovens. As obras de misericórdia: tocar, ensinar, consolar, «perder tempo». Perder tempo. Recordo com muito prazer um senhor que foi confessar-se, mas vivia numa situação tal que não podia receber a absolvição. Aproximou-se um pouco a medo, porque tinha já sido mandado embora algumas vezes: «Não, e não. Vai embora!» Mas desta teve mais sorte. O padre ouviu-o, explicou-lhe a situação e terminou dizendo-lhe: «Tu nunca deixes de rezar. Deus ama-te. Dar-te-ei a bênção, mas tu volta. Prometes-me?» E este padre «perdia tempo», para atrair este homem aos sacramentos. Isto chama-se proximidade.

E, falando a Bispos de proximidade, penso que devo referir-lhes a proximidade mais importante: a proximidade aos sacerdotes. O bispo deve estar disponível para os seus sacerdotes. Quando estava na Argentina, ouvi muitas e muitas vezes da boca de sacerdotes, quando lhes dava Retiro – eu gostava de dar Retiros – e aconselhava: «Fala com o bispo sobre isso». Respondiam-me: «Não consigo; chamei-o e a secretária disse-me que não pode («está muito, muito ocupado, mas recebe-te dentro de três meses!»). Assim este padre sente-se órfão, sem pai, sem a proximidade e começa a desanimar. Um bispo que à noite, quando regressa, vê no elenco das chamadas a dum sacerdote, imediatamente naquela mesma noite ou no dia seguinte deve chamá-lo. «Sim, estou ocupado! Mas é urgente?» - «Não importa; acertemos uma data». Que o sacerdote sinta que tem um pai. Se nós tiramos aos sacerdotes a paternidade, não podemos pedir-lhes que sejam pais. E, assim, o sentido da paternidade de Deus esmorece. A obra do Filho é tocar as misérias humanas: espirituais e corporais. A proximidade. A obra do Pai: ser pai, bispo-pai.

Depois, os jovens…, porque não podemos deixar de falar dos jovens nestes dias. Os jovens são «chatos»! Porque vêm dizer sempre as mesmas coisas, ou «eu penso assim», ou então «a Igreja deveria...», e é preciso paciência com os jovens. Na minha juventude – era uma época em que o confessionário era mais frequentado do que hoje – conheci alguns sacerdotes que passavam horas ouvindo-os no confessionário, ou recebiam-nos no escritório paroquial para ouvir as mesmas coisas... mas com paciência. E, depois, levar os jovens em excursão pelo campo, pelas montanhas. Pensai em São João Paulo II: que fazia com os universitários? Sim, dava os tempos de aula, mas depois ia com eles para a montanha. Proximidade. Escutava-os. Estava com os jovens.

E quero sublinhar uma última coisa, porque creio que o Senhor mo pede: os avós. Vós que sofrestes o comunismo, o ateísmo, sabeis isto: foram os avôs, foram as avós que salvaram e transmitiram a fé. Os avós têm a memória dum povo, têm a memória da fé, a memória da Igreja. Não descarteis os avós! Nesta cultura do descarte – precisamente porque está descristianizada –, descarta-se aquilo que não é útil, que não produz. Não os descarteis. Os avós são a memória do povo, são a memória da fé. E é preciso fazer com que se encontrem os jovens com os avós: também isto é proximidade.

Estar próximo e criar proximidade: responderia assim a esta pergunta. Não há receitas, mas devemos entrar em campo. Não esperar que chamem ao telefone ou batam à porta... Devemos sair à procura, como o pastor que vai procurar a ovelha extraviada. Não sei [se respondi]; isto foi simplesmente o que me veio ao pensamento.
D. Sławoj Leszek Głódź (Arcebispo de Danzica):
Querido Papa Francisco, sentimo-nos muito gratos sobretudo porque o Papa Francisco aprofundou o ensinamento sobre a misericórdia que São João Paulo II tinha começado precisamente aqui em Cracóvia. É sabido que vivemos num mundo dominado pela injustiça: os mais ricos tornam-se ainda mais ricos, os pobres tornam-se miseráveis; há o terrorismo, temos a ética e a moralidade liberal sem Deus... A minha pergunta é esta: Como aplicar o ensinamento da misericórdia e sobretudo a quem? O Santo Padre promoveu um medicamento que se chama «misericordina», que tenho comigo. Obrigado pela promoção!
Papa Francisco:
…mas agora vem a «misericordina plus». É mais forte!
D. Slawoj Leszek Glódz:

É verdade; obrigado por este «plus». Temos também o programa «plus» promovido, inclusivamente pelo governo, para as famílias numerosas. Este «plus» está na moda. A quem… e sobretudo como? Em primeiro lugar, quem deveria ser objeto do nosso ensinamento da misericórdia? Obrigado.
Papa Francisco:
Obrigado. Este ponto da misericórdia não é algo que me veio ao pensamento a mim. É um processo. Se virmos o Beato Paulo VI, já tinha qualquer alusão à misericórdia. Depois, São João Paulo II foi o gigante da misericórdia, com a Encíclica Dives in misericordia, a canonização de Santa Faustina e ainda a oitava de Páscoa [como o domingo da Divina Misericórdia]; morreria na vigília deste domingo. É um processo que dura, há anos, na Igreja. Vê-se que o Senhor pedia à Igreja para despertar esta atitude de misericórdia entre os fiéis. Ele é o Misericordioso que perdoa tudo. Impressiona-me imenso um capitel medieval que está na Basílica de Santa Maria Madalena em Vézelay, na França, onde começa o Caminho de Santiago. Naquele capitel, de um lado, tem Judas enforcado, com os olhos abertos, a língua de fora… e, do outro, tem o Bom Pastor que o leva consigo. E se olharmos bem, com atenção, a face do Bom Pastor, os lábios de um lado estão tristes, mas do outro fazem um sorriso. A misericórdia é um mistério, é um mistério. É o mistério de Deus. Fizeram-me uma entrevista, da qual em seguida nasceu um livro intitulado O nome de Deus é misericórdia, mas é uma expressão jornalística; creio que se possa dizer que Deus é o Pai misericordioso; pelo menos é assim que Jesus no-Lo faz ver no Evangelho. Mesmo quando pune, é para converter. Depois as parábolas da misericórdia e… o modo como Ele nos quis salvar. Quando chegou a plenitude do tempo, fez nascer o Filho de uma mulher: com a carne… salva-nos com a carne; não a partir do medo, mas da carne. Neste processo da Igreja, recebemos muitas graças.
E o senhor vê este mundo doente de injustiça, de falta de amor, de corrupção. É verdade, isto é verdade. Como referia hoje no avião, ao falar daquele sacerdote octogenário que foi morto em França, há tempos que venho dizendo que o mundo está em guerra, que estamos a viver uma III Guerra Mundial aos pedaços. Pensemos na Nigéria... Ideologias, sim! Mas qual é a ideologia central de hoje, que é a mãe das corrupções, das guerras? A idolatria do dinheiro. O homem e a mulher já não estão no vértice da criação; lá puseram o ídolo-dinheiro e, por dinheiro, tudo se compra e vende. No centro, o dinheiro. Explora-se o povo. E o tráfico de pessoas atual? Sempre foi assim: a crueldade! Ao falar deste sentimento com um chefe de governo, este disse-me: «Sempre houve a crueldade. O problema é que agora vemo-la pela televisão, aproximou-se da nossa vida». Mas sempre houve crueldade. Matar por dinheiro. Explorar as pessoas, explorar a criação. Um chefe de governo africano, eleito recentemente, quando me visitou disse-me: «O primeiro ato de governo que fiz foi reflorestar o país, que fora desflorestado e aniquilado». Não cuidamos da criação! E isto significa mais pobres, mais corrupção. Mas que havemos de pensar, quando 80% – mais ou menos, verificai bem as estatísticas e, se não for 80, é 82 ou 78 – das riquezas está nas mãos de menos de 20% da população? «Padre, não fale assim, que chamam-lhe comunista!» Não é comunismo; são estatísticas. E quem paga isto? Pagam as pessoas, o povo de Deus: as jovens exploradas, os jovens sem trabalho. Na Itália, dos 25 anos para baixo, 40% está desempregado; na Espanha, 50%; na Croácia, 47%. E porquê? Porque há uma economia líquida, que favorece a corrupção. Contava-me, escandalizado, um grande católico, que foi ter com um amigo empresário: «Vou mostrar-te como ganho 20.000 dólares sem sair de casa». E da Califórnia, através do computador, fez uma compra de algo que vendeu à China; em 20 minutos, em menos de 20 minutos, ganhara estes 20.000 dólares. Tudo é líquido! E os jovens não possuem a cultura do trabalho, porque não têm trabalho. A terra está morta, porque desfrutada insensatamente. E assim se continua... O mundo aquece, porquê? Porque temos de ganhar. O lucro. «Caímos na idolatria do dinheiro»: isto foi-me dito por um Embaixador ao apresentar as Credenciais. É uma idolatria.

A Divina Misericórdia é o testemunho, o testemunho de tantas pessoas, tantos homens e mulheres, leigos, jovens que praticam obras [de misericórdia]: na Itália, por exemplo, o cooperativismo. Sim, há alguns que são demasiado astutos, mas sempre se faz o bem, fazem-se coisas boas. E depois temos as instituições, organizações fortes, para cuidar dos doentes. Devemos seguir por esta estrada, trabalhar para que a dignidade humana cresça. Mas é verdade o que o senhor diz. Vivemos um analfabetismo religioso tal, que, nalguns santuários do mundo, se confundem as coisas: vai-se rezar, existem lojas onde se compram os objetos de devoção, os terços, mas há também algumas que vendem coisas de superstição, porque se procura a salvação na superstição, no analfabetismo religioso, naquele relativismo que confunde uma coisa com a outra. E, nestes casos, é preciso a catequese, a catequese de vida. A catequese, que não é apenas dar noções, mas acompanhar o caminho. Acompanhar é uma das atitudes mais importantes! Acompanhar o crescimento da fé. É um longo trabalho, e os jovens esperam isto. Os jovens esperam... «mas, se começo a falar-lhes, não tardam a mostrar-se enjoados». E tu dá-lhes um trabalho para fazer. Diz-lhes para irem quinze dias, durante as férias, ajudar a construir casas modestas para os pobres, ou fazer qualquer outra coisa. Importante é que eles comecem a sentir que são úteis. E, ao longo dessas iniciativas, deixa cair a semente de Deus. Lentamente. Mas só com as palavras… não resulta! O analfabetismo religioso atual, devemos enfrentá-lo com três linguagens: a linguagem da mente, a linguagem do coração e a linguagem das mãos. E todas três harmoniosamente.

Não sei [se respondi]! Estou a falar demais? … São ideias que vos deixo. Com a vossa prudência, sabereis o que fazer. Mas a Igreja sempre em saída. Uma vez atrevi-me a dizer: temos aquele versículo do Apocalipse «Eu estou à porta e bato» (3, 20); Ele bate à porta, mas pergunto-me quantas vezes o Senhor bate à porta a partir de dentro, para que nós Lhe abramos e Ele possa sair conosco para levar o Evangelho fora. Não fechados, sair para fora! Sair, sair! Obrigado.
D. Leszek Leszkiewicz (bispo auxiliar de Tarnów):
Santo Padre, o nosso serviço pastoral está baseado principalmente no modelo tradicional da comunidade paroquial, organizada sobre a vida sacramental. Um modelo que, aqui, continua a dar frutos. Todavia damo-nos conta também de que as condições e circunstâncias da vida diária mudam rapidamente e pedem à Igreja novas modalidades pastorais. Pastores e fiéis parecem-se um pouco como aqueles discípulos que ouvem, trabalham muito, mas nem sempre sabem aproveitar o dinamismo missionário interior e exterior das comunidades eclesiais. O Santo Padre, na Evangelii gaudium, fala dos discípulos missionários que levam, com entusiasmo, a Boa Nova ao mundo atual. Que nos sugere? A que nos encoraja para podermos construir no nosso mundo a comunidade da Igreja de modo frutuoso, fecundo, com alegria, com dinamismo missionário?
Papa Francisco:
Obrigado. Quero sublinhar uma coisa: a paróquia é sempre válida! A paróquia deve permanecer: é uma estrutura que não devemos jogar fora da janela. A paróquia é precisamente a casa do Povo de Deus, a casa onde vive. O problema está no modo como organizo a paróquia. Há paróquias com secretárias paroquiais que parecem «discípulas de satanás»: assustam as pessoas. Paróquias com as portas fechadas. Mas existem também paróquias com as portas abertas, paróquias onde, quando chega alguém com uma questão, lhe dizem: «Sim, sim... Sente-se. Qual é o problema?» E escuta-se com paciência... porque cuidar do Povo de Deus é cansativo, é cansativo! Um bom professor universitário, um jesuíta, que conheci em Buenos Aires, quando se aposentou, pediu ao Provincial para ir como pároco para um bairro a fim de fazer esta nova experiência. Uma vez por semana, vinha à Faculdade – dependia daquela comunidade – e um dia disse-me: «Diz ao teu professor de eclesiologia que, no seu tratado, faltam duas teses». - «Quais?» - «Primeira: O Povo Santo de Deus é essencialmente cansativo. E a segunda: o Povo Santo de Deus ontologicamente faz aquilo que lhe parece melhor. E isto cansa!» Hoje ser pároco é cansativo: guiar uma paróquia é cansativo, neste mundo com tantos problemas. Mas o Senhor chamou-nos para que nos cansássemos um pouco: para trabalhar e não para descansar.

A paróquia é cansativa, quando está bem organizada. A renovação da paróquia é uma das coisas que os bispos devem ter sempre sob os olhos: Como está esta paróquia? Que faz? Como está a catequese? Como é ensinada? É aberta? Tantas coisas... Penso numa paróquia de Buenos Aires; quando os noivos chegavam: «Queremos casar-nos aqui». «Está bem – dizia a secretária –; estes são os preços». Isto está errado, uma paróquia assim não serve. Como se acolhem as pessoas? Como se escutam? Há sempre alguém no confessionário? Nas paróquias – não digo naquelas que estão em bairros pequenos, mas nas paróquias que estão no centro, nas grandes avenidas –, se houver um confessionário com a luz acesa, há sempre pessoas que vão. Sempre! Uma paróquia acolhedora. E nós, bispos, devemos interpelar os padres sobre isto: «Como está a tua paróquia? E tu sais? Visitas os presos, os doentes, as velhinhas? E, com as crianças, que fazes? Fá-las jogar, e como organizas o oratório? É uma das grandes instituições paroquiais, pelo menos na Itália. No oratório, os adolescentes jogam e dá-se-lhes uma palavra boa, um pouco de catequese. Regressam a casa cansados, felizes e com uma semente boa.

A paróquia é importante. Alguns dizem que a paróquia está ultrapassada; agora é o tempo dos movimentos. Isto não é verdade! Os movimentos ajudam, mas não devem colocar-se como alternativa à paróquia: devem ajudar na paróquia, fazer caminhar a paróquia, como faz a Congregação Mariana, como faz a Ação Católica e muitas outras realidades. Correr atrás de novidades, pôr de lado a estrutura paroquial? Aquilo que vos digo talvez possa parecer uma heresia, mas é assim como eu a vivo: creio que é uma realidade análoga à estrutura episcopal; diferente, mas análoga. Na paróquia, não se toca: deve permanecer como um local de criatividade, referência, maternidade e o mais que seja; e, dentro disto, exercitar a capacidade inventiva. E quando uma paróquia procede assim, realiza-se aquilo a que chamei – isto a propósito dos discípulos missionários que perguntava – a «paróquia em saída».

Estou a pensar, por exemplo, numa paróquia – uma iniciativa bela, que depois foi imitada por muitos – numa terra onde não era costume batizar crianças, porque não havia dinheiro para o batizado; entretanto aproxima-se o dia do Padroeiro, e a sua festa começa a preparar-se 3/4 meses antes com a visita às casas, vendo-se então o elevado número de crianças que não estão batizadas. Preparam-se as famílias e um dos atos da Festa do Padroeiro é o Batismo de 30/40 crianças que, de outro modo, ficariam sem Batismo. Há que inventar coisas assim. O problema das pessoas não se casarem na Igreja. Recordo uma reunião de sacerdotes… levantou-se um e disse: «Tu já pensaste porquê?» E deu várias razões que compartilhamos: a cultura atual, etc. Mas a realidade é que um bom grupo de pessoas não se casa, porque hoje casar-se fica muito caro! É muito caro! Tudo se paga…, para haver a festa. É um facto social. E este pároco, que possuía uma grande criatividade, disse: «Quem quiser casar-se, saiba que eu estou à sua espera!» Porque, na Argentina, há dois casamentos: é obrigatório sempre ir ao civil e lá faz-se o casamento civil; e, depois se o casal quiser, vai casar-se ao templo da sua própria religião. Há alguns – muitos! – que não vêm casar-se, porque não têm dinheiro para fazer uma festa grande... Mas os padres com um pouco de criatividade dizem: Não é preciso nada! Fico à espera deles. E, naquele dia, casam-se no civil pelas 11, 12, 13, 14 horas… e eu, naquele dia, não faço a sesta! Depois do casamento civil, vêm à Igreja, casam-se e vão em paz.

É preciso inventar, procurar, sair; procurar as pessoas, penetrar nas dificuldades das pessoas. Hoje, uma paróquia-escritório não serve, porque as pessoas não são disciplinadas. Vós tendes um povo disciplinado, e isto é uma graça de Deus. Mas geralmente o povo não é disciplinado. Penso na minha terra: se não vais à procura das pessoas, se não te aproximas, elas não vêm. E isto é o discípulo missionário, paróquia em saída. Sair a procurar, como fez Deus que enviou o seu Filho à nossa procura.

Não sei se é uma resposta simplista, mas não tenho outra. Não sou um pastoralista iluminado, digo aquilo que me vem ao pensamento.
D. Krzysztof Zadarko (Bispo Auxiliar de Koszalin-Kołobrzeg):

Santo Padre, um dos problemas mais angustiantes que enfrenta atualmente a Europa é a questão dos refugiados. Como podemos ajudá-los, dado que são tão numerosos? E que podemos fazer para superar este medo duma invasão ou agressão que paralisa a sociedade inteira?
Papa Francisco:
Obrigado! O problema dos refugiados... Nem sempre os refugiados foram como agora; digamos que, migrantes e refugiados, consideramo-los juntos. O meu pai é um migrante. E contava ao Presidente [da Polónia] que, na fábrica onde ele trabalhava, havia muitos migrantes polacos depois da guerra; eu era criança e conheci muitos. A minha pátria é uma terra de imigrantes, todos... E lá não havia problemas; verdadeiramente eram outros tempos. Hoje, porque há tanta migração? Não falo da emigração da própria pátria para o estrangeiro: esta é por falta de trabalho. É claro que vão fora procurar trabalho. Este é um problema em casa, que também vós sentis um pouco... Falo daqueles que vêm ter conosco: fogem das guerras, da fome. O problema está lá. E porque está lá o problema? Porque, naquela terra, há exploração do povo, há exploração da terra, há exploração para ganhar mais dinheiro. Economistas mundiais, que veem este problema, dizem: deve-se fazer investimentos naqueles países; investindo, terão trabalho e não precisarão de emigrar. Mas há a guerra! Há a guerra das tribos, algumas guerras ideológicas ou algumas guerras artificiais, preparadas pelos traficantes de armas que vivem disso: dão as armas a uns que estão contra outros, e também a estes que são contra aqueles. E assim vivem eles Na verdade a corrupção está na origem da migração.

Como fazer? Penso que cada país deve ver como e quando: nem todos os países são iguais; nem todos os países têm as mesmas possibilidades. É verdade, mas todos podem ser generosos; generosos como cristãos. Não podemos investir lá, mas a favor daqueles que vêm... Quantos e como? Não se pode dar uma resposta universal, porque o acolhimento depende da situação de cada país e também da cultura. Mas é certo que se podem fazer tantas coisas. Por exemplo, a oração: uma vez na semana, adoração ao Santíssimo Sacramento com preces por aqueles que batem à porta da Europa e não conseguem entrar. Alguns conseguem, mas outros não... Ou então entra um que toma uma estrada que gera medo. Temos países que souberam, desde há anos, integrar bem os migrantes. Estes têm conseguido integrar-se bem. Noutros, infelizmente, formaram-se como que guetos. Há toda uma reforma que se deve fazer, a nível mundial, sobre este compromisso, sobre o acolhimento. Mas trata-se, em todo o caso, dum aspeto relativo; absoluto é o coração aberto ao acolhimento. Absoluto é isto! Com a oração, a intercessão, fazer aquilo que posso. Relativo é o modo como o posso fazer: nem todos o podem fazer da mesma maneira. Mas o problema é mundial. A exploração de criação, e a exploração das pessoas. Estamos a viver um momento de aniquilação do homem como imagem de Deus.

E aqui gostaria de concluir com um aspeto concreto, porque por detrás dele estão as ideologias. Na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, na África, nalguns países da Ásia, existem verdadeiras colonizações ideológicas. E uma delas – digo-a claramente por «nome e apelido» - é o gender! Hoje às crianças – às crianças! –, na escola, ensina-se isto: o sexo, cada um pode escolhê-lo. E porque ensinam isto? Porque os livros são os das pessoas e instituições que te dão dinheiro. São as colonizações ideológicas, apoiadas mesmo por países muito influentes. E isto é terrível. Em conversa com o Papa Bento – que está bem e tem um pensamento claro – dizia-me ele: «Santidade, esta é a época do pecado contra Deus Criador». É inteligente! Deus criou o homem e a mulher; Deus criou o mundo assim, assim e assim; e nós estamos a fazer o contrário. Deus deu-nos um estado «inculto» para que o fizéssemos tornar-se cultura; e depois, com esta cultura, fazemos as coisas que nos levam ao estado «inculto»! Devemos pensar naquilo que disse o Papa Bento: «É a época do pecado contra Deus Criador»! E isto ajudar-nos-á.

Mas tu, Cristóvão, dir-me-ás: «E isto que tem a ver com os migrantes?» Trata-se um pouco do contexto, sabes? Quanto aos migrantes, diria: o problema está lá, na terra deles. Mas como os acolhemos? Cada qual deve ver como. Mas todos podemos ter o coração aberto e pensar em fazer uma hora nas paróquias, uma hora por semana, de adoração e oração pelos migrantes. A oração move montanhas!

Estas eram as quatro perguntas. Não sei [se respondi]. Desculpai se falei demasiado, mas o sangue italiano atraiçoa-me... Muito obrigado pelo acolhimento e esperemos que estes dias nos encham de alegria: alegria, muita alegria. E rezemos a Nossa Senhora, que é Mãe e sempre nos leva pela mão: «Salve Regina...»

E não vos esqueçais dos avós, que são a memória dum povo.

AUDAÇÃO DO SANTO PADRE
DA JANELA DO PAÇO EPISCOPAL
Quarta-feira, 27 de julho de 2016
Saúdo-vos a todos, saúdo-vos cordialmente!
Vejo-vos com tanto entusiasmo e tanta alegria. Mas agora tenho de vos dizer uma coisa que vos deixará o coração triste. Façamos silêncio! É algo que diz respeito a um como vós: a Maciej. Tinha pouco mais de 22 anos. Estudara desenho gráfico e deixara o seu trabalho para ser um voluntário da JMJ. Na verdade, são dele todos os desenhos das bandeiras, as imagens dos Santos Padroeiros, do kit do peregrino, e outras coisas mais que adornam a cidade. Precisamente neste trabalho, reencontrou a sua fé.

Em novembro, foi-lhe diagnosticado um câncer. Os médicos não puderam fazer nada, nem mesmo com a amputação da perna. Ele queria chegar vivo à visita do Papa! Tinha um lugar reservado no carro onde viajará o Papa. Mas ele morreu no dia 2 de julho. As pessoas estão muito chocadas: ele fez um grande bem a todos.

Agora, todos em silêncio, pensemos neste companheiro de viagem, que trabalhou tanto para esta Jornada. Todos nós, em silêncio, rezemos com o coração. Cada um reze no próprio coração. Ele está presente no meio de nós.
[oração silenciosa]
Algum de vós poderia pensar: «Este Papa estraga-nos a noite!» Mas é a verdade; e nós devemos habituar-nos às coisas boas e às coisas ruins. A vida é assim, queridos jovens. Mas há uma coisa da qual não podemos duvidar: a fé deste jovem, deste nosso amigo que tanto trabalhou para esta JMJ, levou-o para o Céu; e ele, neste momento, está com Jesus, que contempla a todos nós! E esta é uma graça. Uma salva de palmas para o nosso companheiro!

Um dia encontrá-lo-emos também nós: «Ah, eras tu! Que prazer conhecer-te!» É assim, porque a vida é assim: hoje estamos daqui, amanhã estaremos de lá. O problema é escolher o caminho certo, como ele fez.
Agradeçamos ao Senhor, porque nos dá estes exemplos de coragem, de jovens corajosos que nos ajudam a avançar na vida. E não tenhais medo, não tenhais medo! Deus é grande, Deus é bom; e todos nós temos algo de bom dentro.
Agora despeço-me. Ver-nos-emos amanhã; ver-nos-emos novamente. Vós cumpri o vosso dever, que é fazer barulho toda a noite… para mostrar a vossa alegria cristã, a alegria que o Senhor vos dá por serdes uma comunidade que segue Jesus.
Agora dou-vos a bênção. E, como aprendemos em criança antes de ir dormir, saudemos a Mãe. Todos nós rezamos a Nossa Senhora, cada qual na sua própria língua: Avé, Maria...

[Bênção]
Boa noite! Boa noite! E rezai por mim.

SANTA MISSA NOS 1050 ANOS DO BATISMO DA POLÓNIA
HOMILIA DO SANTO PADRE
 Częstochowa
Quinta-feira, 28 de julho de 2016
Das leituras desta Liturgia emerge um fio divino, que passa para a história humana e tece a história da salvação.

O apóstolo Paulo fala-nos do grande desígnio de Deus: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gal 4, 4). A história, porém, diz-nos que, quando chegou esta «plenitude do tempo», isto é, quando Deus Se fez homem, a humanidade não estava particularmente preparada, nem era um período de estabilidade e de paz: não havia uma «idade de ouro». A cena deste mundo não era merecedora da vinda de Deus; antes pelo contrário, já que «os seus não O receberam» (Jo 1, 11). Assim a plenitude do tempo foi um dom de graça: Deus encheu o nosso tempo com a abundância da sua misericórdia; por puro amor – por puro amor –, inaugurou a plenitude do tempo.

Impressiona, sobretudo, o modo como se realiza a entrada de Deus na história: «nascido de uma mulher». Não há qualquer entrada triunfal, qualquer manifestação imponente do Todo-Poderoso. Não Se manifesta como um sol ofuscante, mas entra no mundo da forma mais simples, chega como uma criança através da mãe, com aquele estilo de que nos fala a Sagrada Escritura: como a chuva sobre a terra (cf. Is 55, 10), como a menor das sementes que germina e cresce (cf. Mc 4, 31-32). Assim – ao contrário do que esperaríamos e talvez quiséssemos – o Reino de Deus, hoje como então, «não vem de maneira ostensiva» (Lc 17, 20), mas na pequenez, na humildade.

O Evangelho de hoje retoma este fio divino que atravessa delicadamente a história: da plenitude do tempo passamos ao «terceiro dia» do ministério de Jesus (cf. Jo 2, 1) e ao anúncio da «hora» da salvação (cf. v. 4). O tempo restringe-se, e a manifestação de Deus acontece sempre na pequenez. Assim «Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos» (v. 11), em Caná da Galileia. Não há um gesto estrondoso realizado diante da multidão, nem uma intervenção que resolva um problema político flagrante, como a subjugação do povo à dominação romana. Pelo contrário, numa pequena aldeia, tem lugar um milagre simples, que alegra o casamento duma jovem família, completamente anónima. E contudo a água transformada em vinho na festa de núpcias é um grande sinal, porque revela o rosto esponsal de Deus, de um Deus que Se põe à mesa conosco, que sonha e realiza a comunhão conosco. Diz-nos que o Senhor não Se mantém à distância, mas é vizinho e concreto, está no nosso meio e cuida de nós, sem decidir em nosso lugar nem Se ocupar de questões de poder. De facto prefere encerrar-Se no que é pequeno, ao contrário do homem que tende a querer possuir algo sempre maior. Deixar-se atrair pelo poder, a grandeza e a visibilidade é tragicamente humano, resultando uma grande tentação que procura insinuar-se por todo o lado. Ao passo que é requintadamente divino dar-se aos outros, eliminando as distâncias, permanecendo na pequenez e habitando concretamente a quotidianidade.

Por conseguinte, Deus salva-nos fazendo-Se pequeno, vizinho e concreto. Antes de mais nada, Deus faz-Se pequeno. O Senhor, «manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), prefere os pequeninos, a quem é revelado o Reino de Deus (cf. Mt 11, 25); são grandes a seus olhos e, sobre eles, pousa o seu olhar (cf. Is 66, 2). Prefere-os, porque se opõem àquele «estilo de vida orgulhoso» que vem do mundo (cf. 1 Jo 2, 16). Os pequenos falam a mesma língua d’Ele: o amor humilde que os torna livres. Por isso, Jesus chama pessoas simples e disponíveis para serem seus porta-vozes, e confia-lhes a revelação do seu nome e os segredos do seu Coração. Pensemos em tantos filhos e filhas do vosso povo: nos mártires, que fizeram resplandecer a força desarmada do Evangelho; nas pessoas simples, e todavia extraordinárias, que souberam testemunhar o amor do Senhor no meio de grandes provações; nos arautos mansos e fortes da Misericórdia, como São João Paulo II e Santa Faustina. Através destes «canais» do seu amor, o Senhor fez chegar dons inestimáveis a toda a Igreja e à humanidade inteira. E é significativo que este aniversário do Batismo do vosso povo tenha coincidido precisamente com o Jubileu da Misericórdia.

Além disso, Deus é vizinho, o seu Reino está próximo (cf. Mc 1, 15): o Senhor não quer ser temido como um soberano poderoso e distante, não quer permanecer num trono celeste ou nos livros da história, mas gosta de mergulhar nas nossas vicissitudes de cada dia, para caminhar conosco. Ao pensarmos no dom dum milénio abundante de fé, é bom antes de tudo dar graças a Deus, que caminhou com o vosso povo, tomando-o pela mão – como faz um Papa com o seu menino –, e acompanhando-o em tantas situações. Isto mesmo é o que nós, também enquanto Igreja, sempre somos chamados a fazer: ouvir, envolver-se e tornar-se vizinho, partilhando as alegrias e as canseiras das pessoas, de modo que o Evangelho se comunique da forma mais coerente e frutuosa, ou seja, por irradiação positiva, através da transparência da vida.

Por fim, Deus é concreto. Das leituras de hoje sobressai que tudo, na ação de Deus, é concreto: a Sabedoria divina age «como arquiteto» e «brinca» (cf. Prv 8, 30), o Verbo faz-Se carne, nasce duma mãe, nasce sob o domínio da Lei (cf. Gal 4, 4), tem amigos e participa numa festa: o Eterno comunica-Se transcorrendo o tempo com pessoas e em situações concretas. Também a vossa história, permeada de Evangelho, Cruz e fidelidade à Igreja, regista o contágio positivo duma fé genuína, transmitida de família para família, de pai para filho e, sobretudo, pelas mães e as avós, a quem muito devemos agradecer. De modo particular, pudestes palpar a ternura concreta e providente da Mãe de todos, que vim aqui venerar como peregrino e que saudamos, no Salmo, como «a honra do nosso povo» (Jdt 15, 9).

É precisamente para Ela que nós, aqui reunidos, levantamos o olhar. Em Maria, encontramos a plena correspondência ao Senhor: e assim, na história, entrelaça-se com o fio divino um «fio mariano». Se existe qualquer glória humana, qualquer mérito nosso na plenitude do tempo, é Ela: é Ela aquele espaço, preservado liberto do mal, onde Deus Se espelhou; é Ela a escada que Deus percorreu para descer até nós e fazer-Se vizinho e concreto; é Ela o sinal mais claro da plenitude do tempo.

Na vida de Maria, admiramos esta pequenez amada por Deus, que «pôs os olhos na humildade da sua serva» e «exaltou os humildes» (Lc 1, 48.52). E nisso tanto Se deleitou, que d’Ela Se deixou tecer a carne, de modo que a Virgem Se tornou Progenitora de Deus, como proclama um hino muito antigo que há séculos vós Lhe cantais. A vós que ininterruptamente vindes ter com Ela, acorrendo a esta capital espiritual do país, continue a Virgem Mãe a mostrar o caminho e vos ajude a tecer na vida a teia humilde e simples do Evangelho.

Em Caná, como aqui em Jasna Góra, Maria oferece-nos a sua proximidade e ajuda-nos a descobrir o que falta à plenitude da vida. Hoje, como então, fá-lo com solicitude de Mãe, com a presença e o bom conselho, ensinando-nos a evitar arbítrios e murmurações nas nossas comunidades. Como Mãe de família, quer-nos guardar juntos, todos juntos. O caminho do vosso povo superou, na unidade, tantos momentos duros; que a Mãe, forte ao pé da cruz e perseverante na oração com os discípulos à espera do Espírito Santo, infunda o desejo de ultrapassar as injustiças e as feridas do passado e criar comunhão com todos, sem nunca ceder à tentação de se isolar e impor.

Nossa Senhora, em Caná, mostrou-Se muito concreta: é uma Mãe que tem a peito os problemas e intervém, que sabe individuar os momentos difíceis e dar-lhes remédio com discrição, eficácia e determinação. Não é patroa nem protagonista, mas Mãe e serva. Peçamos a graça de assumir a sua sensibilidade, a sua imaginação ao servir quem passa necessidade, a beleza de gastar a vida pelos outros, sem preferências nem distinções. Que Ela, causa da nossa alegria e portadora da paz por entre a abundância do pecado e as turbulências da história, nos obtenha a superabundância do Espírito para sermos servos bons e fiéis.

Pela sua intercessão, que se renove, também para nós, a plenitude do tempo. De pouco serve a passagem do antes ao depois de Cristo, se permanece uma data nos anais da história. Possa realizar-se, para todos e cada um, uma passagem interior, uma Páscoa do coração para o estilo divino encarnado por Maria: agir na pequenez e acompanhar de perto, com coração simples e aberto.

ENCONTRO DE BOAS-VINDAS COM OS PARTICIPANTES NA JMJ
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Esplanada de Błonia
Quinta-feira, 28 de julho de 2016
Queridos jovens, boa tarde!
Finalmente encontramo-nos…! Obrigado por esta calorosa receção! Agradeço ao Cardeal Dziwisz, aos bispos, aos sacerdotes, aos religiosos, aos seminaristas e leigos e a todos aqueles que vos acompanham. Obrigado a quantos tornaram possível a nossa presença aqui, hoje, que «desceram em campo» para que pudéssemos celebrar a fé. Hoje nós, todos juntos, estamos a celebrar a fé.

Nesta sua terra natal, quero agradecer especialmente a São João Paulo II [grande aplauso] – com força; com mais força – que sonhou e deu impulso a estes encontros. Do céu, ele nos acompanha vendo tantos jovens pertencentes a povos, culturas, línguas tão diferentes animados por um único motivo: celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. Compreendestes? Celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. E dizer que está vivo é querer renovar o nosso desejo de O seguir, o nosso desejo de viver com paixão o seguimento de Jesus. E qual ocasião melhor para renovar a amizade com Jesus do que ao reforçar a amizade entre vós? Qual modo melhor para reforçar a nossa amizade com Jesus do que partilhá-la com os outros? Qual maneira melhor para viver a alegria do Evangelho do que querer «contagiar», com a Boa Nova, a tantas situações dolorosas e difíceis?

E Jesus é Aquele que nos convocou para esta trigésima primeira Jornada Mundial da Juventude; é Ele que nos diz: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7). Felizes são aqueles que sabem perdoar, que sabem ter um coração compassivo, que sabem dar o melhor aos outros; o melhor… Não o que sobra, mas o melhor.
Queridos jovens, nestes dias, a Polónia, esta nobre terra, veste-se de festa; nestes dias, a Polónia quer ser o rosto sempre jovem da Misericórdia. A partir desta terra, convosco e unidos também a muitos jovens que, vendo-se impossibilitados de estar aqui hoje, nos acompanham através dos vários meios de comunicação, todos juntos faremos desta Jornada uma verdadeira festa jubilar, neste Jubileu da Misericórdia.
Nos meus anos de bispo, aprendi uma coisa (aprendi muitas; mas uma quero dizer-vo-la agora): não há nada mais belo do que contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia com que muitos jovens abraçam a vida. Como é belo isto! E donde vem esta beleza? Quando Jesus toca o coração dum jovem, duma jovem, estes são capazes de ações verdadeiramente grandiosas. É estimulante ouvi-los partilhar os seus sonhos, as suas questões e o seu desejo de opor-se a quantos dizem que as coisas não podem mudar. A estes, chamo-lhes «quietistas», imobilistas: «Nada pode mudar». Não é verdade; os jovens possuem a força de se lhes opor. Mas, talvez alguns não estejam muito seguros disto! Eu pergunto-vos; vós respondeis: As coisas podem mudar? [Sim!] Não se ouve… [Sim!] Agora, sim! É um dom do céu poder ver muitos de vós que, com as vossas questões, procurais fazer com que as coisas sejam diferentes. É bonito e conforta-me o coração ver-vos assim exuberantes. Hoje a Igreja olha-vos – diria mais: hoje o mundo olha-vos – e quer aprender de vós, para renovar a sua confiança na Misericórdia do Pai que tem o rosto sempre jovem e não cessa de nos convidar para fazer parte do seu Reino, que é um Reino de alegria, sempre é um Reino de felicidade, é um Reino que sempre nos faz progredir, é um Reino capaz de nos dar a força para mudar as coisas. Já me esqueci [da vossa reposta]; faço-vos a pergunta outra vez: As coisas podem mudar? [Sim!] Está bem.
Conhecendo a paixão que pondes na missão, ouso repetir: a misericórdia tem sempre o rosto jovem. Porque um coração misericordioso tem a coragem de deixar a comodidade; um coração misericordioso sabe ir ao encontro dos outros, consegue abraçar a todos. Um coração misericordioso sabe ser um refúgio para quem nunca teve uma casa ou perdeu-a, sabe criar um ambiente de casa e de família para quem teve de emigrar, é capaz de ternura e compaixão. Um coração misericordioso sabe partilhar o pão com quem tem fome, um coração misericordioso abre-se para receber o refugiado e o migrante. Dizer misericórdia juntamente convosco é dizer oportunidade, é dizer amanhã, é dizer compromisso, é dizer confiança, é dizer abertura, hospitalidade, compaixão, é dizer sonhos. Mas vós… sois capazes de sonhar? [Sim!] Pois bem! Quando o coração está aberto e é capaz de sonhar, há lugar para a misericórdia, há lugar para acarinhar os que sofrem, há lugar para aproximar-se daqueles que não têm paz no coração, carecem do necessário para viver, ou falta-lhes a coisa mais bela: a fé. Misericórdia. Digamos, juntos, esta palavra: misericórdia. Todos! [misericórdia] Outra vez! [misericórdia] Outra vez, de modo que o mundo ouça [misericórdia].
Quero também confessar-vos outra coisa que aprendi nestes anos. Não quero ofender ninguém, mas entristece-me encontrar jovens que parecem «aposentados» antes do tempo. Isto deixa-me triste: jovens que parecem ter–se aposentado aos 23, 24, 25 anos... Isto entristece-me. Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do jogo; que «se renderam» sem ter começado a jogar. Entristece-me ver jovens que caminham com a cara triste, como se a sua vida não tivesse valor. São jovens essencialmente chateados... e chatos, que chateiam os outros, e isto deixa-me triste. É duro, e ao mesmo tempo interpela-nos, ver jovens que deixam a vida à procura da «vertigem», ou daquela sensação de se sentir vivos por vias obscuras que depois acabam por «pagar»... e pagar caro. Pensai em tantos jovens que conheceis e que escolheram esta estrada. Dá que pensar quando vês jovens que perdem os anos belos da sua vida e as suas energias correndo atrás de vendedores de falsas ilusões – existem! – (na minha terra natal, diríamos «vendedores de fumaça»), que vos roubam o melhor de vós mesmos. E isto entristece-me. Tenho a certeza de que hoje, entre vós, não há nenhum desses, mas quero dizer-vos: há jovens aposentados, jovens que desistem antes do jogo, há jovens que se adentram na vertigem com as falsas ilusões e… acabam em nada.
Por isso, queridos amigos, estamos aqui reunidos para nos ajudarmos uns aos outros, porque não queremos deixar que nos roubem o melhor de nós mesmos, não queremos permitir que nos roubem as energias, que nos roubem a alegria, que nos roubem os sonhos com falsas ilusões.
Queridos amigos, pergunto-vos: Para a vossa vida quereis aquela «vertigem» alienante, ou quereis a força que vos faça sentir vivos e realizados? Vertigem alienante ou força da graça? Que quereis: vertigem alienante ou força que dá plenitude? Que quereis? [Força que dá plenitude] Não se ouve bem! [Força que dá plenitude] Para se sentir realizados, para ter uma vida renovada, há uma resposta, há uma reposta que não está à venda, há uma resposta que não se compra, uma resposta que não é uma coisa, que não é um objeto; é uma pessoa, chama-se Jesus Cristo. Pergunto-vos: Jesus Cristo, pode-se comprar? [Não!] Jesus Cristo está à venda nas lojas? [Não!] Jesus Cristo é uma dádiva, é uma prenda do Pai, a dádiva do nosso Pai. Quem é Jesus Cristo? Todos! Jesus Cristo é uma dádiva! Todos! [É uma dádiva!]. É a prenda do Pai.
Jesus Cristo é aquele que sabe dar verdadeira paixão à vida, Jesus Cristo é aquele que leva a não nos contentarmos com pouco e leva a dar o melhor de nós mesmos; é Jesus Cristo que nos interpela, convida e ajuda a erguer-nos sempre que nos damos por vencidos. É Jesus Cristo que nos impele a levantar o olhar e sonhar a altitude. Mas poderá alguém dizer-me: «Padre, é tão difícil sonhar a altitude, é tão difícil subir, subir sempre. Padre, eu sou fraco, caio; bem me esforço, mas muitas vezes escorrego». Os habitantes dos Alpes, quando sobem as montanhas, entoam uma canção muito linda que diz: «Na arte de subir, importante não é o não cair, mas não ficar caído». Se tu és fraco, se tu cais, ergue um pouco o olhar para o alto… há a mão estendida de Jesus, que te diz: «Levanta-te, vem comigo». «E se me acontece de novo?» Faz o mesmo. Uma vez Pedro perguntou ao Senhor: «Senhor, quantas vezes?» – «Setenta vezes sete». A mão de Jesus está sempre estendida para nos levantar, quando caímos. Compreendestes? [Sim!]
No Evangelho, ouvimos narrar que Jesus, indo a caminho de Jerusalém, se deteve numa casa – a casa de Marta, Maria e Lázaro – que O acolhe. Passando por lá, entra em casa para estar com eles; as duas mulheres acolhem Aquele que sabem ser capaz de comover-Se. Por vezes as inúmeras ocupações fazem-nos ser como Marta: ativos, distraídos, sempre a correr daqui para ali... mas há vezes também que somos como Maria: à vista duma bela paisagem, ou dum vídeo que um amigo nos envia ao telemóvel, paramos a refletir, a escutar. Nestes dias da JMJ, Jesus quer entrar na nossa casa: na tua casa, na minha casa, no coração de cada um de nós; Jesus dar-Se-á conta das nossas preocupações, da nossa pressa, como fez com Marta... e esperará que O escutemos como Maria: que, no meio de todas as tarefas, tenhamos a coragem de nos confiarmos a Ele. Que sejam dias para Jesus, dedicados a ouvi-Lo, a recebê-Lo nas pessoas com quem partilho a casa, a rua, o grupo, a escola.

E quem acolhe Jesus, aprende a amar como Jesus. Então pergunta-nos se queremos uma vida plena. E, em nome d’Ele, pergunto-vos: Queres tu, quereis vós uma vida plena? Começa desde agora a deixar-te mover à compaixão! Porque a felicidade germina e desabrocha na misericórdia. Esta é a sua resposta, este é o seu convite, o seu desafio, a sua aventura: a misericórdia. A misericórdia tem sempre um rosto jovem; como o de Maria de Betânia, sentada aos pés de Jesus como discípula, que gosta de escutar, porque sabe que ali está a paz. Como o rosto de Maria de Nazaré, de tal modo lançada com o seu «sim» na aventura da misericórdia, que será chamada bem-aventurada por todas as gerações, chamada por todos nós «a Mãe da Misericórdia». Invoquemo-La, todos juntos: Maria, Mãe da Misericórdia. Todos: Maria, Mãe da Misericórdia.
Agora, todos juntos, peçamos ao Senhor – cada um, em silêncio, repita no seu coração –: Senhor, lançai-nos na aventura da misericórdia! Lançai-nos na aventura de construir pontes e derrubar muros (sejam cercas ou arame farpado); lançai-nos na aventura de socorrer o pobre, quem se sente sozinho e abandonado, quem já não encontra sentido para a sua vida. Lançai-nos no acompanhamento daqueles que não Vos conhecem, dizendo-lhes com calma e tanto respeito o vosso Nome, o porquê da minha fé. Impele-nos, como a Maria de Betânia, para a escuta daqueles que não compreendemos, daqueles que vêm de outras culturas, outros povos, mesmo daqueles que tememos porque julgamos que nos podem fazer mal. Fazei que voltemos o nosso olhar, como Maria de Nazaré para Isabel, que voltemos os olhos para os nossos idosos, os nossos avós, a fim de aprender com a sua sabedoria. Pergunto-vos: Falais com os vossos avós? [Sim!] Continuai a fazê-lo! Procurai os vossos avós; eles possuem a sabedoria da vida e dir-vos-ão coisas que enternecerão o vosso coração.
Eis-nos aqui, Senhor! Enviai-nos a partilhar o vosso Amor Misericordioso. Queremos acolher-Vos nesta Jornada Mundial da Juventude, queremos afirmar que a vida é plena quando é vivida a partir da misericórdia; e que esta é a parte melhor, é a parte mais ditosa, é a parte que nunca nos será tirada. Ámen.

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE
DA JANELA DO PAÇO EPISCOPAL
Quinta-feira, 28 de julho de 2016
Disseram-me que muitos de vós entendem o espanhol e, por isso, vou falar nesta língua. Disseram-me também que hoje aqui, nesta praça, há um bom grupo de recém-casados e casais jovens. Quando encontro uma pessoa que se casa, um jovem que se casa, uma menina que se casa, digo-lhes: «Estes são daqueles que têm coragem!» Pois não é fácil formar uma família, não é fácil comprometer-se na vida para sempre, é preciso ter coragem. E congratulo-me convosco porque tendes coragem.

Às vezes, perguntam-me como fazer para que a família continue sempre para diante e ultrapasse as dificuldades. Sugiro-lhes que usem sempre três palavras, três palavras que expressam três atitudes – eis que chegam mais recém-casados – três palavras que vos podem ajudar a levar por diante a vida conjugal, porque nesta existem dificuldades. O matrimónio é uma coisa muito linda; tão linda que devemos cuidar dele, porque é para sempre. E as três palavras são: com licença, obrigado, desculpa.

Com licença. Perguntar sempre ao cônjuge, a esposa ao marido e o marido à esposa: «Que achas? Fazemos assim?» Nunca espezinhar. «Com licença».

A segunda palavra: ser agradecidos. Quantas vezes o marido deve dizer à esposa: «Obrigado!» E quantas vezes deve a esposa dizer ao marido: «Obrigada!» Agradecer um ao outro, porque o sacramento do Matrimónio é conferido pelos dois esposos, um ao outro. E esta relação sacramental mantém-se com este sentimento de gratidão. «Obrigado».

A terceira palavra é: desculpa. É uma palavra muito difícil de pronunciar. No casal, sempre – entre marido e mulher –, sempre há qualquer incompreensão. É preciso saber reconhecê-la e pedir desculpa; pedir perdão faz um bem imenso.
Há casais jovens, recém-casados… Muitos de vós são casados, outros estão para se casar. Lembrai-vos destas três palavras, que são de grande ajuda para a vida conjugal: com licença, obrigado, desculpa. Vamos repeti-las juntos: com licença, obrigado, desculpa. Com força…, todos: com licença, obrigado, desculpa.
Tudo isto está muito certo! E é muito belo dizê-lo na vida conjugal. Mas, nesta, não faltam problemas ou discussões. É normal! Sucede que marido e mulher discutam, levantem a voz, litiguem e, às vezes, até voe qualquer prato! Não vos assusteis, quando isso acontece. O conselho que vos dou é este: nunca termineis o dia, sem fazer a paz. Sabeis porquê? Porque a «guerra fria» no dia seguinte é muito perigosa. «Padre, como proceder para fazer a paz?» – poderia perguntar um de vós. Não são precisos discursos; basta um gesto e… tudo acaba, a paz está feita. Quando há amor, um gesto ajusta tudo.

E agora, antes de receberdes a bênção, convido-vos a rezar por todas as famílias aqui presentes, pelos recém-casados, pelos que já estão casados há muito tempo e conhecem aquilo que vos disse, e pelos que se vão casar. Rezemos, todos, uma Ave-Maria, cada qual na sua própria língua: Avé, Maria...
[Bênção]
E rezai por mim! Verdadeiramente vos peço: rezai por mim! Boa noite e bom repouso!
VISITA AO HOSPITAL PEDIÁTRICO DE PROKOCIM
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia
Sexta-feira, 29 de julho de 2016
Queridos irmãos e irmãs!
Na minha visita a Cracóvia, não podia faltar o encontro com os pequeninos pacientes deste hospital. A todos vos saúdo e agradeço cordialmente à senhora Primeiro-Ministro as amáveis palavras que me dirigiu. A minha vontade era poder demorar-me um pouco com cada criança doente, junto da sua cama, abraçar-vos uma a uma, ouvir nem que fosse só por um momento cada uma de vós e, juntos, guardar silêncio perante certas perguntas para as quais não há resposta imediata. E rezar.
Várias vezes o Evangelho nos mostra o Senhor Jesus, que encontra os doentes, acolhe-os e vai também de bom grado ter com eles. Sempre Se dá conta deles, fixa-os como uma mãe olha para o filho que não está bem e, dentro d’Ele, sente-Se movido à compaixão.

Como gostaria que nós, como cristãos, fôssemos capazes de permanecer ao lado dos doentes à maneira de Jesus, com o silêncio, com uma carícia, com a oração. Infelizmente a nossa sociedade encontra-se poluída com a cultura do «descarte», que é o contrário da cultura do acolhimento. E as vítimas da cultura do descarte são precisamente as pessoas mais fracas, mais frágeis; isto é uma crueldade. Diversamente, é bom ver que, neste hospital, os mais pequeninos e necessitados são acolhidos e cuidados. Obrigado por este sinal de amor que nos ofereceis! O sinal da verdadeira civilização, humana e cristã, é este: colocar no centro da atenção social e política as pessoas mais desfavorecidas.
Às vezes, as famílias veem-se sozinhas a tomar conta deles. Que fazer? A partir deste lugar, onde se vê o amor concreto, gostaria de dizer: multipliquemos as obras da cultura do acolhimento, obras animadas pelo amor cristão, amor a Jesus crucificado, à carne de Cristo. Servir com amor e ternura as pessoas que precisam de ajuda faz-nos crescer, a todos, em humanidade; e abre-nos a passagem para a vida eterna: quem cumpre obras de misericórdia não tem medo da morte.
Desejo encorajar a todos aqueles que fizeram, do convite evangélico a «visitar os doentes», uma opção pessoal de vida: médicos, enfermeiros, todos os profissionais de saúde, assim como os capelães e os voluntários. Que o Senhor vos ajude a bem realizar o vosso trabalho, tanto neste como em qualquer outro hospital do mundo. Não quero esquecer aqui o trabalho das Irmãs, tantas Irmãs, que gastam a vida nos hospitais. Que o Senhor vos recompense dando-vos a serenidade interior e um coração sempre capaz de ternura.
Obrigado a todos por este encontro! Levo-vos comigo, no afeto e na oração. E também vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
VIA-SACRA COM OS JOVENS
ALOCUÇÃO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Esplanada de Błonia,
Sexta-feira, 29 de julho de 2016
«Tive fome e destes-me de comer,
tive sede e destes-me de beber,
era peregrino e recolhestes-me,
estava nu e destes-me que vestir,
adoeci e visitastes-me,
estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36).
Estas palavras de Jesus vêm ao encontro da questão que muitas vezes ressoa na nossa mente e no nosso coração: «Onde está Deus?» Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas? Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras? Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto? Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas, e sofrem – elas também – por causa de graves patologias? Onde está Deus, quando vemos a inquietação dos duvidosos e dos aflitos na alma? Há perguntas para as quais não existem respostas humanas. Podemos apenas olhar para Jesus, e perguntar a Ele. E a sua resposta é esta: «Deus está neles», Jesus está neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um. Está tão unido a eles, que quase formam «um só corpo».
Foi o próprio Jesus que escolheu identificar-Se com estes nossos irmãos e irmãs provados pelo sofrimento e a angústia, aceitando percorrer o caminho doloroso para o calvário. Ao morrer na cruz, entrega-Se nas mãos do Pai e leva consigo e em Si mesmo, com amor de doação, as chagas físicas, morais e espirituais da humanidade inteira. Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos. Nesta noite, Jesus e nós, juntamente com Ele, abraçamos com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com fraterno afeto e simpatia.
Repassando a Via-Sacra de Jesus, descobrimos de novo a importância de nos configurarmos a Ele, através das 14 obras de misericórdia. Estas ajudam-nos a abrir-nos à misericórdia de Deus, a pedir a graça de compreender que a pessoa, sem misericórdia, não pode fazer nada; sem a misericórdia, eu, tu, nós todos não podemos fazer nada. Comecemos por ver as sete obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, visitar os enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. Gratuitamente recebemos, demos gratuitamente também. Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o «Protocolo» com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele (cf. Mt 25, 31-46).
Às obras de misericórdia corporais seguem-se as obras de misericórdia espirituais: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo, rezar a Deus por vivos e defuntos. A nossa credibilidade de cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na alma. A nossa credibilidade de cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na alma. Não nas ideias, mas nisto!
Hoje a humanidade precisa de homens e mulheres, particularmente jovens como vós, que não queiram viver a sua existência «a metade», jovens prontos a gastar a vida no serviço gratuito aos irmãos mais pobres e mais vulneráveis, à imitação de Cristo que Se doou totalmente a Si mesmo pela nossa salvação. Perante o mal, o sofrimento, o pecado, a única resposta possível para o discípulo de Jesus é o dom de si mesmo, até da própria vida, à imitação de Cristo; é a atitude do serviço. Se alguém, que se diz cristão, não vive para servir, não serve para viver. Com a sua vida, renega Jesus Cristo.

Nesta noite, queridos jovens, o Senhor renova-vos o convite para vos tornardes protagonistas no serviço; Ele quer fazer de vós uma resposta concreta às necessidades e sofrimentos da humanidade; quer que sejais um sinal do seu amor misericordioso para o nosso tempo! Para cumprir esta missão, Ele aponta-vos o caminho do compromisso pessoal e do sacrifício de vós próprios: é o Caminho da cruz. O Caminho da cruz é o caminho da felicidade de seguir a Cristo até ao fim, nas circunstâncias frequentemente dramáticas da vida diária; é o caminho que não teme insucessos, marginalizações ou solidões, porque enche o coração do homem com a plenitude de Jesus. O Caminho da cruz é o caminho da vida e do estilo de Deus, que Jesus nos leva a percorrer mesmo através das sendas duma sociedade por vezes dividida, injusta e corrupta.
O Caminho da cruz não é um hábito sadomasoquista; o Caminho da cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte, porque desemboca na luz radiosa da ressurreição de Cristo, abrindo os horizontes da vida nova e plena. É o Caminho da esperança e do futuro. Quem o percorre com generosidade e fé, dá esperança ao futuro e à humanidade. Quem o percorre com generosidade e fé, semeia esperança. E eu quero que vós sejais semeadores de esperança.
Naquela Sexta-feira Santa, queridos jovens, muitos discípulos voltaram tristes para suas casas, outros preferiram ir para a casa da aldeia a fim de esquecer um pouco a cruz. Pergunto-vos – mas cada um de vós responda em silêncio, no vosso coração, no próprio coração –: Nesta noite, como quereis tornar às vossas casas, aos vossos locais de alojamento, às vossas tendas? Nesta noite, como quereis voltar a encontrar-vos com vós mesmos? O mundo tem os olhos postos em nós. Cabe a cada um de vós dar resposta ao desafio desta pergunta.

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE
DA JANELA DO PAÇO EPISCOPAL
 Sexta-feira, 29 de julho de 2016
Dobry wieczór [Boa noite]!
Hoje foi um dia particular, uma jornada de tristeza. À sexta-feira lembramos a morte de Jesus; e, com os jovens, terminamos o dia com o exercício da Via-Sacra. Fizemos a Via-Sacra: o sofrimento e a morte de Jesus por todos nós. Unimo-nos a Jesus sofredor; sofredor não só há dois mil anos, mas também hoje. Há tantas pessoas que sofrem: os doentes, aqueles que vivem em guerra, os sem-teto, os famintos, os que duvidam na vida, que não sentem a felicidade, a salvação ou que sentem o peso do seu pecado.
De tarde, fui ao hospital das crianças. Lá sofre também Jesus em tantas crianças doentes. E sempre me vem a pergunta: «Porque sofrem as crianças?» É um mistério. Não há resposta para perguntas com esta.
De manhã, outra desolação: fui a Auschwitz, a Birkenau, para lembrar amarguras de há setenta anos... Quanto sofrimento, quanta crueldade! Mas será possível que nós homens, criados à semelhança de Deus, consigamos fazer estas coisas? Bem! As coisas foram feitas... Não quero angustiar-vos, mas devo dizer a verdade. A crueldade não acabou em Auschwitz, em Birkenau, mas continua hoje: também hoje se torturam as pessoas; muitos prisioneiros são torturados, para obrigá-los a falar imediatamente... É terrível! Hoje há homens e mulheres em prisões superlotadas; vivem – desculpai a expressão – como animais. Hoje existe esta crueldade. Dizemos: é verdade, vimos a crueldade de 70 anos atrás, vimos como morriam fuzilados, enforcados, ou com o gás. Mas hoje, em muitos lugares do mundo onde há guerra, acontece o mesmo.
A esta realidade desceu Jesus, para a carregar aos seus ombros. E pede-nos para rezar. Rezemos por todos os «Jesus» que existem hoje no mundo: os famintos, os sedentos, os céticos, os doentes, os abandonados, aqueles que sentem o peso de muitas dúvidas e tantas culpas. Sofrem tanto... Rezemos por tantos meninos doentes, inocentes, que já de criança carregam a cruz. E rezemos por tantos homens e mulheres que hoje são torturados em muitos países do mundo; pelos presos que vivem lá todos amontoados, como se fossem animais. É um pouco triste o que vos digo, mas é a realidade. Como é realidade também o facto de Jesus ter tomado sobre Si todas estas coisas... incluindo o nosso pecado.
Aqui todos somos pecadores, todos carregamos o peso dos nossos pecados. Não sei se há alguém que não se sinta pecador! Se alguém não se sente pecador, levante a mão... Todos somos pecadores. Mas Jesus ama-nos, ama-nos de verdade. E façamos, como pecadores mas filhos de Deus, filhos do Pai d’Ele… façamos, todos juntos, uma oração por estas pessoas que hoje, no mundo, sofrem tantas coisas ruins, tantas maldades. E, quando há lágrimas, a criança procura a mãe; também nós, pecadores, somos crianças, procuramos a Mãe; rezemos a Nossa Senhora todos juntos, cada um na sua própria língua: Avé, Maria...
[Bênção]
Desejo-vos uma boa noite, bom descanso. Rezai por mim! E, amanhã, continuaremos esta estupenda Jornada da Juventude. Muito obrigado!

SANTA MISSA COM SACERDOTES, RELIGIOSAS E RELIGIOSOS,
LEIGOS CONSAGRADOS E SEMINARISTAS DA POLÓNIA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Łagiewniki (Cracóvia), Santuário de São João Paulo II
Sábado, 30 de julho de 2016
A passagem do Evangelho, que ouvimos (cf. Jo 20, 19-31), fala-nos de um lugar, um discípulo e um livro.
O lugar é aquele onde se encontravam os discípulos, na tarde de Páscoa; dele, apenas se diz que as suas portas estavam fechadas (cf. v. 19). Oito dias depois, os discípulos ainda estavam naquela casa, e as portas ainda estavam fechadas (cf. v. 26). Jesus entra lá, coloca-Se no meio e leva a sua paz, o Espírito Santo e o perdão dos pecados: numa palavra, a misericórdia de Deus. Dentro deste lugar fechado, ressoa forte o convite que Jesus dirige aos seus: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (v. 21).
Jesus envia. Ele, desde o início, deseja que a Igreja esteja em saída, vá pelo mundo. E quer que o faça assim como Ele próprio fez, como Ele foi enviado ao mundo pelo Pai: não como poderoso mas na condição de servo (cf. Flp 2, 7), não «para ser servido mas para servir» (Mc 10, 45) e para levar a Boa-Nova (cf. Lc 4, 18); e assim são enviados os seus, em todos os tempos. Impressiona o contraste: enquanto os discípulos fechavam as portas com medo, Jesus envia-os em missão; quer que abram as portas e saiam para espalhar o perdão e a paz de Deus, com a força do Espírito Santo.
Esta chamada é também para nós. Como não ouvir nela o eco do grande convite de São João Paulo II: «Abri as portas»? Mas, na nossa vida de sacerdotes e pessoas consagradas, pode haver muitas vezes a tentação de permanecer um pouco fechados, por medo ou comodidade, em nós mesmos e nos nossos setores. E, no entanto, a direção indicada por Jesus é de sentido único: sair de nós mesmos. Trata-se de realizar um êxodo do nosso eu, de perder a vida por Ele (cf. Mc 8, 35), seguindo o caminho do dom de si mesmo. Por outro lado, Jesus não gosta das estradas percorridas a metade, das portas entreabertas, das vidas com via dupla. Pede para se meter à estrada leves, para sair renunciando às próprias seguranças, firmes apenas n'Ele.
Por outras palavras, a vida dos seus discípulos mais íntimos, como nós somos chamados a ser, é feita de amor concreto, isto é, de serviço e disponibilidade; é uma vida onde não existem – ou, pelo menos, não deveriam existir – espaços fechados e propriedades privadas para própria comodidade. Quem escolheu configurar com Jesus toda a existência já não escolhe os próprios locais, mas vai para onde é enviado; pronto a responder a quem o chama, já não escolhe sequer os tempos próprios. A casa onde habita não lhe pertence, porque a Igreja e o mundo são os espaços abertos da sua missão. O seu tesouro é colocar o Senhor no meio da vida, sem nada mais procurar para si. Assim foge das situações gratificantes que o colocariam no centro, não se ergue sobre os trémulos pedestais dos poderes do mundo, nem se reclina nas comodidades que enfraquecem a evangelização; não perde tempo a projetar um futuro seguro e bem retribuído, para evitar o risco de ficar à margem e sombrio, fechado nos muros estreitos dum egoísmo sem esperança nem alegria. Feliz no Senhor, não se contenta com uma vida medíocre, mas arde em desejo de dar testemunho e alcançar os outros; gosta de arriscar e sair, não forçado por sendas já traçadas, mas aberto e fiel às rotas indicadas pelo Espírito: contrário a deixar correr a vida, alegra-se por evangelizar.
No Evangelho de hoje, sobressai em segundo lugar a figura do único discípulo nomeado: Tomé. Na sua dúvida e ânsia de querer entender, este discípulo bastante teimoso assemelha-se-nos um pouco e até aparece simpático a nossos olhos. Sem o saber, dá-nos um grande presente: deixa-nos mais perto de Deus, porque Deus não Se esconde de quem O procura. Jesus mostrou-lhe as suas chagas gloriosas, faz-lhe tocar com a mão a ternura infinita de Deus, os sinais vivos de quanto sofreu por amor dos homens.

Para nós, discípulos, é muito importante pôr a nossa humanidade em contacto com a carne do Senhor, isto é, levar a Ele, com confiança e total sinceridade, tudo o que somos. Jesus, como disse a Santa Faustina, fica contente que Lhe falemos de tudo, não Se cansa das nossas vidas que já conhece, espera a nossa partilha, até mesmo a descrição das nossas jornadas (cf. Diário, 6 de setembro de 1937). Assim, buscamos a Deus com uma oração que seja transparente e não esqueça de Lhe confiar e entregar as misérias, as fadigas e as resistências. O coração de Jesus deixa-Se conquistar pela abertura sincera, por corações que sabem reconhecer e chorar as suas fraquezas, confiantes de que precisamente nelas agirá a misericórdia divina. Que nos pede Jesus? Ele deseja corações verdadeiramente consagrados, que vivam do perdão recebido d’Ele para o derramarem com compaixão sobre os irmãos. Jesus procura corações abertos e ternos para com os fracos, nunca duros; corações dóceis e transparentes, que não dissimulam perante quem tem na Igreja a tarefa de orientar o caminho. O discípulo não hesita em questionar-se, tem a coragem de viver a dúvida e levá-la ao Senhor, aos formadores e aos superiores, sem cálculos nem reticências. O discípulo fiel realiza um discernimento atento e constante, sabendo que o coração há de ser educado diariamente, a partir dos afetos, para escapar de toda a duplicidade nas atitudes e na vida.
o termo da sua busca apaixonada, o apóstolo Tomé chegou não apenas a acreditar na ressurreição, mas encontrou em Jesus o tudo da vida, o seu Senhor; disse-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» (v. 28). Far-nos-á bem rezar, hoje e cada dia, estas palavas esplêndidas, como que a dizer-Lhe: Sois o meu único bem, o caminho da minha viagem, o coração da minha vida, o meu tudo.

Por fim, no último versículo que ouvimos, fala-se de um livro: é o Evangelho, onde não foram escritos muitos outros sinais realizados por Jesus (v. 30). Depois do grande sinal da sua misericórdia – poderíamos supor –, já não foi necessário acrescentar mais. Mas há ainda um desafio, há espaço para sinais feitos por nós, que recebemos o Espírito do amor e somos chamados a difundir a misericórdia. Poder-se-ia dizer que o Evangelho, livro vivo da misericórdia de Deus que devemos ler e reler continuamente, ainda tem páginas em branco no final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo estilo, isto é, cumprindo obras de misericórdia. Pergunto-vos, queridos irmãos e irmãs: Como são as páginas do livro de cada um de vós? Estão escritas todos os dias? Estão escritas a meias? Estão em branco? Nisto, venha em nossa ajuda a Mãe de Deus: Ela, que acolheu plenamente a Palavra de Deus na vida (cf. Lc 8, 20-21), nos dê a graça de sermos escritores viventes do Evangelho; a nossa Mãe da Misericórdia nos ensine a cuidar concretamente das chagas de Jesus nos nossos irmãos e irmãs que passam necessidade, tanto dos vizinhos como dos distantes, tanto do doente como do migrante, porque, servindo quem sofre honra-se a carne de Cristo. Que a Virgem Maria nos ajude a gastarmo-nos completamente pelo bem dos fiéis que nos estão confiados e a cuidarmos uns dos outros como verdadeiros irmãos e irmãs na comunhão da Igreja, a nossa santa Mãe.
Queridos irmãos e irmãs, cada um de nós guarda no coração uma página muito pessoal do livro da misericórdia de Deus: é a história da nossa chamada, a voz do amor que fascinou e transformou a nossa vida, fazendo com que, à sua Palavra, largássemos tudo para O seguir (cf. Lc 5, 11). Reavivemos hoje, com gratidão, a memória da sua chamada, mais forte do que qualquer resistência e fadiga. Continuando a Celebração Eucarística, centro da nossa vida, agradeçamos ao Senhor, porque entrou nas nossas portas fechadas com a sua misericórdia; porque, como Tomé, nos chamou por nome; porque nos dá a graça de continuar a escrever o seu Evangelho de amor.

VISITA À IGREJA DE SÃO FRANCISCO EM CRACÓVIA
ORAÇÃO DO SANTO PADRE
Cracóvia
Sábado, 30 de julho de 2016
«Prece pela paz e a defesa contra a violência e o terrorismo»
Ó Deus omnipotente e misericordioso, Senhor do Universo e da história. Tudo o que criaste é bom, e a tua compaixão pelos erros do homem é inexaurível.
Hoje vimos a Ti para te pedir que conserves o mundo e os seus habitantes na paz, que afastes dele a vaga devastadora do terrorismo, que restabeleças a amizade e infundas nos corações das tuas criaturas o dom da confiança e da disponibilidade a perdoar.
Ó Dador da vida, Pedimos-te também por quantos morreram vítimas de brutais ataques terroristas. Concede-lhes a recompensa eterna. Que intercedam pelo mundo, dilacerado por conflitos e contrastes.
Ó Jesus, Príncipe da Paz, pedimos-te por quem foi ferido nestes atos de violência desumana: crianças e jovens, mulheres e homens, idosos, pessoas inocentes envolvidas no mal só por fatalidade. Cura o corpo e o coração deles e consolida-os com a tua força, cancelando ao mesmo tempo o ódio e o desejo de vingança.

Espírito Santo Consolador, visita as famílias das vítimas do terrorismo, famílias que sofrem sem terem culpa. Protege-as com o manto da tua divina misericórdia. Faz com que reencontrem em Ti e em si mesmas a força e a coragem para continuarem a ser irmãos e irmãs para os outros, sobretudo para os imigrados, testemunhando com a sua vida o teu amor.
Toca o coração dos terroristas, para que reconheçam o mal das suas ações e voltem ao caminho da paz e do bem, do respeito pela vida e da dignidade de cada homem, independentemente da religião, da proveniência, da riqueza ou da pobreza.
Ó Deus, Pai Eterno, satisfaz na tua misericórdia a oração que te elevamos entre o fragor e o desespero do mundo. A ti nos dirigimos com grande confiança, cheios de esperança na tua Misericórdia infinita, recomendando-nos à intercessão da tua Santíssima Mãe, fortalecidos pelo exemplo dos beatos mártires do Peru Zbigniew e Michał, que tornaste valorosas testemunhas do Evangelho, a ponto que ofereceram o seu sangue, e pedimos o dom da paz e o afastamento de nós da chaga do terrorismo.
Por Cristo nosso Senhor. Amém.

 VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Campus Misericordiae
Sábado, 30 de julho de 2016

Queridos jovens, boa noite!
É bom estar aqui convosco nesta Vigília de Oração.
Na parte final do seu corajoso e emocionante testemunho, Rand pediu-nos uma coisa. Disse-nos: «Peço-vos, sinceramente, que rezeis pelo meu amado país». Uma história marcada pela guerra, pelo sofrimento, pela ruína, que termina com um pedido: o da oração. Que há de melhor para começar a nossa Vigília do que rezar?
Vimos de várias partes do mundo, de continentes, países, línguas, culturas, povos diferentes. Somos «filhos» de nações que estão talvez em disputa por vários conflitos, ou até mesmo em guerra. Outros vimos de países que podem estar «em paz», que não têm conflitos bélicos, onde muitas das coisas dolorosas que acontecem no mundo fazem parte apenas das notícias e da imprensa. Mas estamos cientes duma realidade: hoje e aqui, para nós provenientes de diversas partes do mundo, o sofrimento e a guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa anónima, para nós já não são uma notícia de imprensa, mas têm um nome, um rosto, uma história, fizeram-se-me vizinhos. Hoje a guerra na Síria é a dor e o sofrimento de tantas pessoas, de tantos jovens como a corajosa Rand, que está aqui entre nós e pede-nos para rezar pelo seu país amado.
Há situações que nos podem parecer distantes, até ao momento em que, de alguma forma, as tocamos. Há realidades que não entendemos porque vemo-las apenas através dum monitor (do telemóvel ou do computador). Mas, quando tomamos contacto com a vida, com as vidas concretas e já não pela mediação dos monitores, então algo mexe conosco: todos nos sentimos convidados a envolver-nos: «Basta de cidades esquecidas», como diz Rand; nunca mais deve acontecer que irmãos estejam «circundados pela morte e por assassinatos» sentindo que ninguém os ajudará. Queridos amigos, convido-vos a rezar juntos pelo sofrimento de tantas vítimas da guerra, desta guerra que há hoje no mundo, para podermos compreender, uma vez por todas, que nada justifica o sangue dum irmão, que nada é mais precioso do que a pessoa que temos ao nosso lado. E, neste pedido de oração, quero-vos agradecer também a vós, Natália e Miguel, pois também vós partilhastes conosco as vossas batalhas, as vossas guerras interiores. Apresentastes-nos as vossas lutas e o modo como as superastes. Vós sois um sinal vivo daquilo que a misericórdia quer fazer em nós.
Agora, não vamos pôr-nos a gritar contra ninguém, não vamos pôr-nos a litigar, não queremos destruir, não queremos insultar. Não queremos vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família. Alegramo-nos pelo facto de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em oração. Façamos um momento de silêncio, e rezemos; ponhamos diante de Deus os testemunhos destes amigos, identifiquemo-nos com aqueles para quem «a família é um conceito inexistente, a casa apenas um lugar para dormir e comer», ou com aqueles que vivem no medo porque creem que os seus erros e pecados os baniram definitivamente. Coloquemos na presença do nosso Deus também as vossas «guerras», as nossas «guerras», as lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração. E para isso, para nos sentirmos em família, em fraternidade, todos unidos, convido-vos a levantar-vos, dar as mãos e rezar em silêncio. Todos.
(SILÊNCIO)
Enquanto rezávamos, veio-me à mente a imagem dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Uma cena que nos pode ajudar a compreender tudo aquilo que Deus sonha realizar na nossa vida, em nós e conosco. Naquele dia, os discípulos estavam fechados dentro de casa pelo medo. Sentiam-se ameaçados por um ambiente que os perseguia, que os forçava a estar numa pequena casa obrigando-os a ficar ali imóveis e paralisados. O medo apoderou-se deles. Naquele contexto, acontece algo espetacular, algo grandioso. Vem o Espírito Santo, e línguas como que de fogo pousaram sobre cada um deles, impelindo-os para uma aventura que nunca teriam sonhado. A situação muda completamente.
Ouvimos três testemunhos; tocamos, com os nossos corações, as suas histórias, as suas vidas. Vimos como eles viveram momentos semelhantes aos dos discípulos, atravessaram momentos em que estiveram cheios de medo, em que parecia que tudo desmoronava. O medo e a angústia, que nascem do facto de uma pessoa saber que saindo de casa pode não ver mais os seus entes queridos, o medo de não se sentir apreciado e amado, o medo de não ter outras oportunidades. Eles partilharam conosco a mesma experiência que fizeram os discípulos, experimentaram o medo que leva ao único lugar possível. Onde nos leva o medo? Ao fechamento. E, quando o medo se esconde no fechamento, fá-lo sempre na companhia da sua «irmã gémea», a paralisia; faz-nos sentir paralisados. Sentir que, neste mundo, nas nossas cidades, nas nossas comunidades, já não há espaço para crescer, para sonhar, para criar, para contemplar horizontes, em suma, para viver, é um dos piores males que nos podem acontecer na vida, sobretudo na juventude. A paralisia faz-nos perder o gosto de desfrutar do encontro, da amizade, o gosto de sonhar juntos, de caminhar com os outros. Afasta-nos dos outros, impede de nos cumprimentarmos, como vimos [na encenação]: todos fechados naqueles cubículos de vidro.
Na vida, porém, há outra paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ/KANAPA. Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o «sofá-felicidade/kanapa-szczęście» é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar, que mais pode arruinar a juventude. «E porque acontece isto, padre?» Porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos. Anteontem falei dos jovens aposentados aos vinte anos; hoje falo dos jovens adormecidos, pasmados, entontecidos, enquanto outros – talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós. Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; para muitos, isto resulta mais conveniente do que ter jovens vigilantes, desejosos de responder, de responder ao sonho de Deus e a todas as aspirações do coração. Vós – pergunto eu, pergunto a vós – quereis ser jovens adormecidos, pasmados, entontecidos? [Não!] Quereis que outros decidam o futuro por vós? [Não!] Quereis ser livres? [Sim!] Quereis estar vigilantes? [Sim!] Quereis lutar pelo vosso futuro? [Sim!] Não vos vejo muito convencidos… Quereis lutar pelo vosso futuro? [Sim!]
Mas a verdade é outra! Queridos jovens, não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade. Não somos livres para deixar uma marca. Perdemos a liberdade. Este é o preço. E há tantas pessoas cuja vontade é que os jovens não sejam lives, há tantas pessoas que não vos amam, que vos querem entontecidos, pasmados, adormecidos, mas… livres, nunca! Não; isso não! Devemos defender a nossa liberdade.
É precisamente aqui que existe uma grande paralisia: quando começamos a pensar que a felicidade é sinónimo de comodidade, que ser feliz é caminhar na vida adormentado ou narcotizado, que a única maneira de ser feliz é estar como que entorpecido. É certo que a droga faz mal, mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis, que acabam por nos tornar em todo o caso muito mais escravos. Umas e outras despojam-nos do nosso bem maior: a liberdade. Despojam-nos da liberdade.
Amigos, Jesus é o Senhor do risco, o Senhor do sempre «mais além». Jesus não é o Senhor do conforto, da segurança e da comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a «loucura» do nosso Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no refugiado e migrante, no vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso Deus, que nos convida a ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais; que nos encoraja a pensar uma economia mais solidária do que esta. Em todos os campos onde vos encontrais, o amor de Deus convida-vos a levar a Boa Nova, fazendo da própria vida um dom para Ele e para os outros. Isto significa ser corajosos; isto significa ser livres.
Poderíeis replicar-me: Mas isto, padre, não é para todos; é só para alguns eleitos! Sim, é verdade! E estes eleitos são todos aqueles que estão dispostos a partilhar a sua vida com os outros. Tal como o Espírito Santo transformou o coração dos discípulos no dia de Pentecostes – estavam paralisados –, assim o fez também com os nossos amigos que partilharam os seus testemunhos. Uso as tuas palavras, Miguel: disseste-nos que no dia em que te confiaram, lá na «Fazenda», a responsabilidade de contribuir para o melhor funcionamento da casa, então começaste a compreender que Deus te pedia algo. Assim começou a transformação.
Este é o segredo, queridos amigos, que todos somos chamados a experimentar. Deus espera algo de ti. Ouvistes bem? Deus espera algo de ti, Deus quer algo de ti, Deus está à tua espera. Deus vem quebrar os nossos fechamentos, vem abrir as portas das nossas vidas, das nossas perspetivas, dos nossos olhares. Deus vem abrir tudo aquilo que te fecha. Convida-te a sonhar, quer fazer-te ver que, contigo, o mundo pode ser diferente. É assim: se não deres o melhor de ti mesmo, o mundo não será diverso. É um desafio.
O tempo que hoje estamos a viver não precisa de jovens-sofá/młodzi kanapowi, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, com as sapatilhas calçadas. Este tempo aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para reservas. O mundo de hoje pede-vos para serdes protagonistas da história, porque a vida é bela desde que a queiramos viver, desde que queiramos deixar uma marca. Hoje a história pede-nos que defendamos a nossa dignidade e não deixemos que sejam outros a decidir o nosso futuro. Não! Nós é que devemos decidir o nosso futuro; vós, o vosso futuro. O Senhor, como no Pentecostes, quer realizar um dos maiores milagres que podemos experimentar: fazer com que as tuas mãos, as minhas mãos, as nossas mãos se transformem em sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer as tuas mãos para continuar a construir o mundo de hoje. Quer construí-lo contigo. E tu, que Lhe respondes? Que resposta Lhe dás tu? Sim ou não? [Sim!]

Dir-me-ás: Mas, padre, eu sou muito limitado, sou pecador… que posso fazer? Quando o Senhor nos chama não pensa naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar. Ele aposta sempre no futuro, no amanhã. Jesus olha-te projetado no horizonte, nunca no museu.
Por isso, amigos, hoje Jesus convida-te, chama-te a deixar a tua marca na vida, uma marca que determine a história, que determine a tua história e a história de muitos.
A vida de hoje diz-nos que é muito fácil fixar a atenção naquilo que nos divide, naquilo que nos separa. Querem fazer-nos crer que fechar-nos é a melhor maneira de nos protegermos daquilo que nos faz mal. Hoje nós, adultos – nós, adultos –, precisamos de vós para nos ensinardes – como estais a fazer hoje – a conviver na diversidade, no diálogo, na partilha da multiculturalidade não como uma ameaça mas como uma oportunidade. E vós sois uma oportunidade para o futuro. Tende a coragem de nos ensinar, tende a coragem de ensinar a nós que é mais fácil construir pontes do que levantar muros! Precisamos de aprender isto. E todos juntos pedimos que nos exijais percorrer as estradas da fraternidade. Sede vós os nossos acusadores, se escolhermos o atalho dos muros, o atalho da inimizade, o atalho da guerra. Construir pontes… Sabeis qual é a primeira ponte a construir? Uma ponte que podemos realizar aqui e agora: um aperto de mão, darmo-nos as mãos. Coragem! Fazei-o agora. Fazei esta ponte humana, dai as mãos, todos vós: é a ponte primordial é a ponte humana, é a primeira, é o modelo. Naturalmente há sempre o risco – como disse no outro dia – de se ficar com a mão estendida; mas, na vida, é preciso arriscar; quem não arrisca, não vence. Com esta ponte, podemos avançar. Fazei aqui esta ponte primordial: dai-vos as mãos. Obrigado! É a grande ponte fraterna, e podem aprender a fazê-la os grandes deste mundo... Não para a fotografia – quando dão as mãos e pensam noutra coisa –, mas para continuar a construir pontes cada vez maiores. Que esta ponte humana seja semente de muitas outras; será uma marca.
Hoje, Jesus, que é o caminho, chama-te – a ti… a ti… a ti… [aponta para cada um] – a deixar a tua marca na história. Ele, que é a vida, convida-te a deixar uma marca que encha de vida a tua história e a de muitos outros. Ele, que é a verdade, convida-te a deixar as estradas da separação, da divisão, do sem-sentido. Aceitais? [Sim!] Aceitais? [Sim!] Que respondem agora – quero ver – as vossas mãos e os vossos pés ao Senhor, que é caminho, verdade e vida? Aceitais? [Sim!] O Senhor abençoe os vossos sonhos. Obrigado!
ANGELUS
PALAVRAS DO SANTO PADRE
Cracóvia, Campus Misericordiae
Domingo, 31 de julho de 2016
Queridos irmãos e irmãs!
No final desta Celebração, desejo unir-me a todos vós em ação de graças a Deus, Pai de misericórdia infinita, porque nos concedeu viver esta Jornada Mundial da Juventude. Agradeço ao Cardeal Dziwisz e ao Cardeal Rylko – obreiros incansáveis desta Jornada – por tudo, nomeadamente pelas orações que fizeram em preparação deste evento; e agradeço a todos quantos contribuíram para o seu bom êxito. Um «obrigado» imenso digo-o a vós, queridos jovens! Enchestes Cracóvia com o entusiasmo contagiante da vossa fé. São João Paulo II rejubilou do Céu, e ajudar-vos-á a levar por todo o lado a alegria do Evangelho.
Nestes dias, experimentamos a beleza da fraternidade universal em Cristo, centro e esperança da nossa vida. Ouvimos a sua voz, a voz do Bom Pastor, vivo no meio de nós. Falou ao coração de cada um de vós: renovou-vos com o seu amor, fez-vos sentir a luz do seu perdão, a força da sua graça. Fez-vos experimentar a realidade da oração. Foi uma «oxigenação» espiritual, para poderdes viver e caminhar na misericórdia quando voltardes aos vossos países e às vossas comunidades.
Aqui, ao lado do altar, está a imagem da Virgem Maria venerada por São João Paulo II no Santuário de Kalwaria. Nossa Mãe, ensina-nos o modo como pode ser fecunda a experiência vivida aqui na Polónia; diz-nos para fazer como Ela: não perder o dom recebido, mas guardá-lo no coração, para que germine e dê fruto, com a ação do Espírito Santo. Assim, cada um de vós, com as suas limitações e fragilidades, poderá ser testemunha de Cristo no local onde vive, na família, na paróquia, nas associações e nos grupos, nos ambientes de estudo, trabalho, serviço, entretenimento, em todo o lado para onde vos guiar a Providência no vosso caminho.

A Providência de Deus sempre nos precede. Pensai que já decidiu qual será a próxima etapa desta grande peregrinação iniciada em 1985 por São João Paulo II! E, por isso, é com alegria que vos anuncio que a próxima Jornada Mundial da Juventude – depois das duas a nível diocesano – será em 2019, no Panamá.
Convido os bispos do Panamá a aproximar-se, para darem juntamente comigo a bênção.
Pela intercessão de Maria, invocamos o Espírito Santo para que ilumine e sustente o caminho dos jovens, na Igreja e no mundo, a fim de serdes discípulos e testemunhas da Misericórdia de Deus.
Rezemos agora juntos a oração do Angelus…

ENCONTRO COM OS VOLUNTÁRIOS DA JMJ
 E COM O COMITÉ ORGANIZADOR E BENFEITORES
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Tauron Arena
Domingo, 31 de julho de 2016
Queridos voluntários!
Antes de regressar a Roma, sinto desejo de vos encontrar e sobretudo agradecer a cada um de vós pelo empenho, generosidade e dedicação com que acompanhastes, ajudastes e servistes os milhares de jovens peregrinos. Obrigado também pelo vosso testemunho de fé que, unido ao de muitíssimos jovens provenientes de toda a parte da terra, é um grande sinal de esperança para a Igreja e para o mundo. Dando-vos por amor de Cristo, experimentastes como é belo comprometer-se por uma causa nobre… Assim começa este discurso que escrevi… Não sei se é bonito ou feio… Cinco páginas... Um pouco chato!... Entrego-o [entrega-o ao bispo encarregado da JMJ].
Dizem-me que posso falar em qualquer língua, porque todos tendes tradutor... É verdade? [Sim!] Falo em espanhol? [Sim!]
A preparação duma Jornada da Juventude é toda ela uma aventura. É entrar numa aventura e... chegar: chegar, servir, trabalhar e, depois, despedir-se. Em primeiro lugar, a aventura, a generosidade. Quero agradecer a vós todos, voluntários e benfeitores, por tudo aquilo que fizestes. Quero agradecer pelas horas de oração que fizestes. Porque sei que esta Jornada foi organizada com muito trabalho, mas também com muita oração. Obrigado aos voluntários que dedicaram tempo à oração, para que a pudéssemos realizar.
Obrigado aos sacerdotes, aos sacerdotes que vos acompanharam. Obrigado às religiosas que vos acompanharam, aos consagrados. E obrigado a vós que entrastes nesta aventura, com a esperança de conseguir chegar ao fim.
O bispo, quando fez a vossa apresentação, mandou-vos (não sei se entendeis a palavra) um «piropo» [um galanteio]. Compreendestes? Fez-vos um elogio, dizendo que «vós sois a esperança do futuro». E é verdade, mas sob duas condições. Quereis ser esperança para o futuro ou não? [Sim!] Tendes a certeza? [Sim!] Mas… sob duas condições! Não, não é preciso pagar o bilhete de entrada. A primeira condição é ter memória. Perguntar-me donde venho: memória do meu povo, memória da minha família, memória de toda a minha história. O testemunho da segunda Voluntária era cheio de memória, cheio de memória! Memória dum caminho percorrido, memória daquilo que recebi dos adultos. Um jovem sem memória não pode ser esperança para o futuro! Está claro? [Sim!]
«Padre, como faço para ter memória?» Fala com os teus pais, fala com os adultos; sobretudo fala com os avós. Está claro? Assim, se quiserdes ser esperança do futuro, deveis receber a tocha da mão do vosso avô e da vossa avó.
Prometeis-me que, para preparar a JMJ/Panamá, falareis mais com os avós? [Sim!] E, se os avós já partiram para o Céu, falareis com os idosos? [Sim!] E interrogá-los-eis? Perguntar-lhes-eis? [Sim!] Perguntai a eles. São a sabedoria dum povo.
Assim, para serdes a esperança, a primeira condição é ter memória. «Vós sois a esperança do futuro»: disse-vos o bispo.
A segunda condição: se, para o futuro, sou esperança e, do passado, tenho memória, resta-me o presente. Que devo fazer no presente? Ter coragem. Ter coragem! Ser corajoso, ser corajoso, não me assustar. Ouvimos o testemunho, a despedida, o testemunho-despedida deste nosso companheiro que foi vencido pelo câncer. Queria estar aqui e não chegou; mas teve coragem: coragem de enfrentar e coragem de continuar a lutar, mesmo nas piores condições. Hoje este jovem não está aqui, mas ele semeou esperança para o futuro. Então, para o presente: coragem. Para o presente? [Coragem!] Audácia, coragem. Está claro?
Então se tiverdes… (qual era a primeira coisa?)… [Memória!] e se tiverdes… [acrescentam eles: «Coragem!»]... sereis a esperança... [do futuro]! Está tudo claro? [Sim!] Muito bem.
Não sei se estarei na JMJ/Panamá, mas posso garantir-vos uma coisa: Pedro estará na JMJ/Panamá. E Pedro perguntar-vos-á se falastes com os avós, se falastes com os idosos para ter memória; se tivestes coragem e audácia para enfrentar as situações e se semeastes para o futuro. É a Pedro que dareis a resposta. Está claro? [Sim!]
Que Deus vos abençoe abundantemente! Obrigado. Obrigado por tudo!
E agora, todos juntos, cada qual na sua língua, rezemos à Virgem: «Avé, Maria...»
Peço-vos que rezeis por mim. Não vos esqueçais. Dou-vos a bênção. [BÊNÇÃO].
Ah, já me estava a esquecer! Como era?... [Memória, coragem, futuro!].
Queridos voluntários!
Antes de regressar a Roma, sinto desejo de vos encontrar e sobretudo agradecer a cada um de vós pelo empenho, generosidade e dedicação com que acompanhastes, ajudastes e servistes os milhares de jovens peregrinos. Obrigado também pelo vosso testemunho de fé que, unido ao de muitíssimos jovens provenientes de toda a parte da terra, é um grande sinal de esperança para a Igreja e para o mundo. Dando-vos por amor de Cristo, experimentastes como é belo comprometer-se por uma causa nobre e como é gratificante fazer, na companhia de tantos amigos e amigas, um percurso que, embora fatigoso, compensa o esforço com a alegria e a dedicação com uma nova riqueza de conhecimento e abertura a Jesus, ao próximo, a opções de vida importantes.
Como expressão da minha gratidão, quero partilhar convosco um dom que nos é oferecido pela Virgem Maria, que hoje veio visitar-nos na imagem miraculosa de Kalwaria Zebrzydowska, muito cara ao coração de São João Paulo II. Com efeito, no próprio mistério evangélico da Visitação (cf. Lc 1, 39-45), podemos encontrar um ícone do voluntariado cristão. De lá tomo três atitudes de Maria e deixo-vo-las para que vos ajudem a ler a experiência destes dias e progredir no caminho do serviço. Estas atitudes são a escuta, a decisão e a ação.
Primeiro: a escuta. Maria põe-se a caminho movida por uma palavra do anjo: «Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice» (Lc 1, 36). Maria sabe escutar a Deus: não se trata dum simples ouvir, mas de escuta, feita de atenção, acolhimento, disponibilidade. Pensemos nas vezes sem conta que ficamos distraidamente diante do Senhor ou dos outros, e verdadeiramente não escutamos. Maria escuta também os factos, os acontecimentos da vida, está atenta à realidade concreta e não Se detém na superfície mas procura identificar o seu significado. Maria soube que Isabel, já idosa, espera um filho; e nisso vê a mão de Deus, o sinal da sua misericórdia. O mesmo acontece na nossa vida: o Senhor está à porta e bate de muitos modos, põe sinais no nosso caminho e convida-nos a lê-los com a luz do Evangelho.

A segunda atitude de Maria é a decisão. Maria escuta, reflete, mas sabe também dar um passo mais: decide. Foi assim na opção fundamental da sua existência: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Assim sucedeu também nas bodas de Caná, quando Maria Se dá conta do problema e decide falar a Jesus para que intervenha: «Não têm vinho» (Jo 2, 3). Muitas vezes é difícil tomar decisões na vida, pelo que tendemos a adiá-las e, quem sabe, a deixar que outros decidam por nós; ou então preferimos deixar-nos arrastar pelos acontecimentos, seguir a «tendência» do momento; às vezes compreendemos o que deveríamos fazer, mas não temos a coragem para isso, porque nos parece muito difícil ir contra corrente... Maria não teme ir contra corrente: com o coração firme na escuta, decide, assumindo-Se todos os riscos, não sozinha mas junta com Deus.
E, por fim, a ação. Maria pôs-se a caminho e «dirigiu-se à pressa…» (Lc 1, 39). Apesar das dificuldades e das críticas que terá recebido, não se demora, não hesita, mas parte e «parte à pressa», porque nela há a força da Palavra de Deus. E o seu agir é cheio de caridade, repleto de amor: este é a marca de Deus. Maria vai ter com Isabel, não para ouvir dizer-lhe que é estupenda, mas para ajudar a prima, tornar-se útil, servir. E ao sair da sua casa, de si mesma, por amor, leva o que tem de mais precioso: Jesus, o Filho de Deus, o Senhor. Isabel identifica-o imediatamente: «Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43); o Espírito Santo desperta nela ressonâncias de fé e de alegria: «Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio» (Lc 1, 44).
Também no voluntariado cada serviço é importante, mesmo o mais simples. E o seu sentido último é a abertura à presença de Jesus; é a experiência do amor que, vindo do Alto, põe a caminho e enche de alegria. O voluntário das Jornadas Mundiais da Juventude não é apenas um «agente», mas sempre um evangelizador, porque a Igreja existe e age para evangelizar.
Terminado o serviço a Isabel, Maria voltou para sua casa, em Nazaré. Com delicadeza e simplicidade, como veio, assim vai. Também vós, caríssimos, não vereis todos os frutos do trabalho realizado aqui em Cracóvia ou durante as «geminações». Descobri-los-ão na sua vida e rejubilarão as vossas irmãs e irmãos que servistes. É a gratuidade do amor! Mas Deus conhece a vossa dedicação, o vosso empenho e a vossa generosidade. Ele – podeis ter certeza – não deixará de vos recompensar por tudo o que fizestes por esta Igreja dos jovens, que se reuniu nestes dias em Cracóvia com o Sucessor de Pedro. Confio-vos a Deus e à Palavra da sua graça (cf. At 20, 32); confio-vos à nossa Mãe, modelo de voluntariado cristão; e peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim.

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA COM OS JORNALISTAS
 DURANTE O VOO DE REGRESSO DE CRACÓVIA
Domingo, 31 de julho de 2016

 (Padre Lombardi)
Santo Padre, muito obrigado por estar aqui conosco, no regresso desta viagem. Apesar do temporal desta tarde, parece-me que tudo correu tão bem, que estamos todos muito felizes e contentes e esperamos que também Vossa Santidade sinta o mesmo por estes dias. Como de costume, far-lhe-emos algumas perguntas. Mas se quiser dizer-nos algo para introduzir, estamos prontos a ouvi-lo...
(Papa Francisco)
Boa tarde! Agradeço-vos pelo vosso trabalho e companhia. Gostaria de vos apresentar, porque sois companheiros de trabalho, as condolências pela morte de Anna Maria Jacobini. Hoje recebi a irmã, o sobrinho e a sobrinha, estavam tão entristecidos por isto... É um acontecimento triste desta viagem.
Depois gostaria de agradecer ao padre Lombardi e a Mauro [De Horatis], porque esta será a última viagem que fazem conosco. O padre Lombardi esteve na Rádio Vaticano por mais de 25 anos e depois 10 nos voos. E Mauro 37, 37 anos encarregado das bagagens nos voos. Agradeço imenso a Mauro e ao padre Lombardi. E depois, no final, agradeceremos com um bolo.
Estou à vossa disposição. A viagem é breve... Faremos depressa esta vez.
(Padre Lombardi)
Obrigado, Santo Padre! A primeira pergunta, deixamo-la fazer, como de costume, a uma das nossas colegas polacas: a Magdalena Wolinska, de TVP.

(Magdalena Wolinska - TVP)
Santo Padre, no seu primeiro discurso no Wawel, logo que chegou a Cracóvia, disse que estava contente por começar a conhecer a Europa Centro-Oriental precisamente pela Polónia. Em nome da nossa nação, gostaria de perguntar-lhe como viveu a Polónia nestes cinco dias? Que impressão teve?
(Papa Francisco)
Era uma Polónia especial, porque era uma Polónia de novo «invadida», mas desta vez pelos jovens! Cracóvia, aquilo que vi, era tão belo. O povo polaco é muito entusiasta... Repare nesta tarde: com a chuva, ao longo das estradas… e não só os jovens, mas também as idosas... São bondosos, nobres. Eu conheci por experiência os polacos quando era criança: onde meu pai trabalhava, depois da guerra vieram trabalhar muitos polacos. Era gente boa… e isto permaneceu-me no coração. Reencontrar esta vossa bondade, que beleza! Obrigado.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a outra nossa colega polaca: Urzula Rzepczak, de Polsat. E peço a Marco Ansaldo para se preparar, aproximando-se...
(Urzula Rzepczak - Polsat)
Santo Padre, os nossos filhos jovens ficaram comovidos com as suas palavras, que correspondem muito bem à sua realidade e aos seus problemas. Mas Vossa Santidade usava também, nos seus discursos, as palavras e as expressões próprias da linguagem dos jovens. Como se preparou? Como conseguiu dar tantos exemplos tão próximos da vida deles, dos seus problemas e com as palavras deles?
(Papa Francisco)
Eu gosto de falar com os jovens. E gosto de ouvir os jovens. Põem-me sempre em dificuldade, porque me dizem coisas nas quais eu não pensei ou que pensei a meio. Os jovens inquietos, os jovens criativos... gosto disso e daí tomo aquela linguagem. Muitas vezes tenho de perguntar: «Mas que significa isto?» E eles explicam-me o significado. Eu gosto de falar com eles. Eles são o nosso futuro, e devemos dialogar. É importante este diálogo entre passado e futuro. É por isso que eu realço tanto a relação entre os jovens e os avós, e quando digo «avós» quero dizer os mais velhos e mesmo os que ainda não são muito velhos – mas eu já o sou – para lhes dar também a nossa experiência, para que ouçam o passado, a história e a agarrem e a levem por diante com a coragem do presente, como eu disse esta tarde. É importante, muito importante! Não gosto de ouvir dizer: «Mas estes jovens dizem disparates». Também nós dizemos muitos! Os jovens dizem disparates e dizem coisas boas, como nós, como todos. Mas é preciso ouvi-los, falar com eles, porque nós devemos aprender deles como eles devem aprender de nós. É assim. E deste modo se faz a história e se cresce sem fechamentos nem censuras. Não sei [se respondi]; é assim. É deste modo que aprendo estas palavras.
(Padre Lombardi) Muito obrigado. Agora passamos a palavra a Marco Ansaldo, de «La Repubblica», que faz a pergunta pelo grupo italiano... Entretanto prepare-se e aproxime-se Frances D'Emilio...

(Marco Ansaldo - «La Repubblica»)
Santidade, a repressão na Turquia e os quinze dias que se seguiram ao golpe, segundo a quase totalidade dos observadores internacionais, foram talvez piores do que o golpe de Estado. Foram atingidas categorias inteiras: militares, magistrados, administradores públicos, diplomatas, jornalistas. Cito dados do governo turco; fala-se de mais de 13.000 detidos, e mais de 50.000 pessoas irradiadas. Uma limpeza... Anteontem o Presidente Recep Tayyip Erdogan, a propósito das críticas externas, disse: «Cuidai da vossa vida!» Nós queremos perguntar-lhe: Porque é que até agora Vossa Santidade não interveio, não falou? Teme, porventura, que possam haver repercussões sobre a minoria católica na Turquia? Obrigado.
(Papa Francisco)
Quando tive que dizer algo que não agradava à Turquia mas de que eu tinha a certeza, disse-o com as consequências que conheceis. Disse-lhes aquelas palavras... Eu tinha a certeza. Não falei, porque ainda não tenho a certeza, com as informações que recebi, do que está a acontecer lá. Ouço as informações que chegam à Secretaria de Estado, e também as de algum analista político importante. Estou a estudar a situação inclusive com os colaboradores da Secretaria de Estado, e a situação ainda não é clara. É verdade; deve-se evitar o mal aos católicos – e, isto, todos o fazemos –, mas não à custa da verdade. Há a virtude da prudência – deve-se dizer isto, quando, como –, mas no meu caso vós sois testemunhas de que, quando tive de dizer algo relativo à Turquia, o fiz.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a Frances D'Emilio, que é a colega da Associated Press, a grande agência de língua inglesa.
(Frances D'Emilio - Associated Press)
Boa noite. A minha é uma pergunta que muitas pessoas se põem nestes dias, porque veio ao de cima na Austrália que a polícia australiana estaria indagando sobre novas acusações contra o Cardeal Pell e, desta vez, as acusações são relativas a abusos contra menores, que são muito diversas das acusações precedentes. A pergunta que eu faço e que fizeram muitos outros: na sua opinião, qual seria a coisa justa a fazer pelo Cardeal Pell, considerando a grave situação, o lugar tão importante e a confiança de que goza por parte de Vossa Santidade?
(Papa Francisco)
Obrigado. As primeiras notícias que chegaram eram confusas. Tratava-se de notícias de há quarenta anos, e nem sequer a polícia as tinha considerado num primeiro momento. Uma coisa confusa. Depois todas as denúncias foram apresentadas à justiça e, neste momento, estão nas mãos da justiça. Não se deve julgar antes que a justiça julgue. Se eu desse um juízo a favor ou contra o Cardeal Pell, não seria bom, porque julgaria antes. É verdade; a dúvida existe. E há aquele princípio claro do Direito: in dubio pro reo. Temos que esperar a justiça e não expressar antecipadamente um juízo mediático, porque isto não ajuda. O juízo dos mexericos, e depois? Não se sabe como vai acabar. Estar atentos ao que decidir a justiça. Quando a justiça se pronunciar, eu falarei. Obrigado.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a Hernán Reyes, de Télam. Peço-lhe para se aproximar. Como sabemos, é argentino; e agora, entre nós, representa a América Latina.
(Hernán Reyes - Télam)
Santidade, como se sente depois da queda de alguns dias? Vemos que está bem. Esta é a primeira pergunta. A segunda: na semana passada, o secretário-geral da Unasur, Ernesto Samper, falou de uma mediação do Vaticano na Venezuela. Trata-se de um diálogo concreto? Esta é uma possibilidade real? E como pensa que esta mediação, com a missão da Igreja, possa ajudar a estabilização do país?
(Papa Francisco)
Primeiro, a queda. Eu olhava para Nossa Senhora e esqueci-me do degrau. Estava com o turíbulo na mão... Quando me dei conta que caía, deixei-me cair e isso salvou-me, porque se tivesse feito resistência, teria havido consequências. Nada. Estou muito bem.
A segunda era? Venezuela. Há dois anos tive um encontro com o Presidente Maduro, muito, muito positivo. Depois ele pediu audiência no ano passado: era num domingo, no dia seguinte à chegada de Sarajevo. Mas entretanto ele cancelou aquele encontro, porque estava doente de otite e não podia vir. Depois disto, deixei passar algum tempo e escrevi-lhe uma carta. Houve contactos – tu mencionaste um – para um eventual encontro. Sim, com as condições que se põem nestes casos. E, neste momento, pensa-se – mas não tenho a certeza; isto não posso garantir-lho, está claro? – que, no grupo de mediação, alguém (não sei se o governo também… mas não tenho a certeza) quer um representante da Santa Sé. E isto, até ao momento em que parti de Roma. Mas as coisas estão neste ponto. O grupo inclui Zapatero da Espanha, Torrijos, outra pessoa e uma quarta – dizia-se – da Santa Sé. Mas não tenho a certeza disto.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a Antoine-Marie Izoard, de Media, França. E sabemos o que vive a França nestes dias...
(Antoine-Marie Izoard – I. Media)
Santo Padre, antes de mais nada felicito Vossa Santidade, o Padre Lombardi e também o Padre Spadaro pela festa de Santo Inácio.
A pergunta é um pouco mais difícil. Os católicos estão chocados – e não só em França – depois do bárbaro assassinato do padre Jacques Hamel na sua igreja enquanto celebrava a Santa Missa. Aqui, há quatro dias, Vossa Santidade disse-nos de novo que todas as religiões querem a paz. Mas este santo sacerdote de 86 anos foi claramente assassinado em nome do Islão. Nesta linha, Santo Padre, tenho duas perguntas breves. Porque é que Vossa Santidade, quando fala destes atos violentos, fala sempre de terroristas, mas nunca de Islão? Nunca utiliza a palavra «Islão». E depois, além das orações e do diálogo que obviamente são essencialíssimos, que iniciativa concreta Vossa Santidade pode empreender ou, porventura, sugerir a fim de contrastar a violência islâmica? Obrigado, Santidade.
(Papa Francisco)

Eu não gosto de falar de violência islâmica, porque todos os dias, quando folheio os jornais, vejo violência, aqui na Itália: um que mata a namorada, outro que mata a sogra... E estes são católicos batizados violentos! São católicos violentos... Se falasse de violência islâmica, deveria falar também de violência católica. Nem todos os islâmicos são violentos; nem todos os católicos são violentos. É como uma salada de frutas: há de tudo, há violentos destas religiões. Uma coisa é verdade: creio que, em quase todas as religiões, há sempre um pequeno grupo fundamentalista. Fundamentalista. Nós temo-los. E, se o fundamentalismo chega e mata – mas pode-se matar com a língua (isto não o digo eu, mas o apóstolo Tiago), e também com a faca – penso que não é justo identificar o Islão com a violência. Isto não é justo, nem é verdade! Tive um longo diálogo com o Grão-Imã da Universidade de al-Azhar e sei o que eles pensam: procuram a paz, o encontro. O Núncio dum país africano dizia-me que, na capital, há sempre uma fila de gente – está sempre cheio – diante da Porta Santa para o Jubileu: alguns abeiram-se do confessionário, outros rezam nos bancos. Mas a maioria prossegue e vai rezar ao altar de Nossa Senhora: estes são muçulmanos que querem celebrar o Jubileu. São irmãos. Quando estive na África Central, encontrei-me com eles e o próprio imã subiu para o papamóvel. Pode-se conviver bem. Mas existem pequenos grupos fundamentalistas. E pergunto-me também quantos jovens que nós, europeus, deixamos esvaziados de ideais, que não têm trabalho, que se entregam à droga, ao álcool... quantos destes jovens vão alistar-se em grupos fundamentalistas. Sim, podemos dizer que o autoproclamado Ei é um Estado islâmico que se apresenta violento, porque, quando nos mostra os seus bilhetes de identidade, mostra-nos como degola os egípcios no litoral líbico ou coisas deste género. Mas este é um pequeno grupo fundamentalista, que se chama Ei. Mas não se pode dizer – penso que não é verdade nem justo – que o Islão é terrorista.
(Antoine-Marie Izoard)
Uma sua iniciativa concreta para contrastar o terrorismo, a violência...
(Papa Francisco)
O terrorismo está em toda a parte! Pense no terrorismo tribal de alguns países africanos... O terrorismo – não sei se devo dizê-lo, porque é um pouco perigoso – cresce quando não há outra opção, quando, no centro da economia mundial, está o deus-dinheiro e não a pessoa, o homem e a mulher. Este é já o primeiro terrorismo. Expulsaste a maravilha da criação, o homem e a mulher, e no seu lugar puseste o dinheiro. Isto é terrorismo de base contra a humanidade inteira. Reflitamos nisto.
(Padre Lombardi)
Obrigado, Santidade!. Dado que houve esta manhã o anúncio do Panamá como sede da próxima Jornada Mundial da Juventude, há aqui um colega que lhe queria dar um pequeno presente para se preparar para tal Jornada.
(Javier Martínez Brocal – Rome reports Tv)
Santo Padre, antes, no encontro com os voluntários, disse-nos que talvez não iria ao Panamá. E isto não o pode fazer, porque nós o esperamos no Panamá!

(Papa Francisco)
Se eu não for, irá Pedro!
(Javier Martínez Brocal)
Nós pensamos que irá Vossa Santidade. Trago-lhe, da parte dos panamenses, duas coisas: uma t-shirt com o número 17, que é a data do seu nascimento, e o chapéu dos camponeses do Panamá. Pediram-me se o podia colocar na cabeça e saudar os panamenses. Obrigado!
(Papa Francisco)
Agradeço imenso aos panamenses por isto. Desejo-vos que vos prepareis bem, com a mesma força, a mesma espiritualidade e profundidade com que se prepararam os polacos, os habitantes de Cracóvia e todos os polacos.
(Antoine-Marie Izoard)
Santidade, em nome dos colegas jornalistas já que de certo modo sou obrigado a representá-los, queria dizer duas palavras também eu, se Vossa Santidade me permitir, sobre o Padre Lombardi, para lhe agradecer.
É impossível resumir 10 anos de presença do Padre Lombardi na Sala de Imprensa: com o Papa Bento, em seguida um interregno inédito e depois a sua eleição, Santo Padre, e as surpresas sucessivas. O que podemos referir com certeza é a sua constante disponibilidade, o empenho e a dedicação do Padre Lombardi; a sua capacidade incrível de responder ou não às nossas perguntas – muitas vezes estranhas – e isto é também uma arte. E ainda o seu humor um pouco britânico… em todas as situações, incluindo as piores. E temos muitos exemplos... [voltando-se para o Padre Lombardi] Obviamente acolhemos com alegria os seus sucessores, dois bons jornalistas; mas não esquecemos que o senhor, para além de jornalista, era e continua a ser padre e também jesuíta. Não deixaremos, em setembro, de celebrar condignamente a sua partida para outros serviços, mas queremos já hoje formular os nossos votos. Votos duma boa festa de Santo Inácio e ainda duma longa vida, de 100 anos – como se diz na Polónia – de serviço humilde. Sto lat: diz-se na Polónia. Sto lat, Padre Lombardi!

JMJ – Cracóvia – 2016
Textos do Papa Francisco
1.      Hino da Jornada..................................................02
2.      Encontro com o corpo diplomático...................04
3.      Encontro com o s bispos poloneses, 27.07.........09
4.      Saudação da janela episcopal...27.07.................27
5.      Homilia em Czestochowa …28.07......................29
6.      Abertura da JMJ Boas-vindas. 28.07...................35
7.      Saudação da janela episcopal..........28.07..........43
8.      Hospital pediátrico............................................45
9.      Via-Sacra............................................................47
10.  Saudação da janela episcopal...29.07................51
11.  Missa em Lagiewniki – Clero e religiosos...........53
12.  Visita a igreja São Francisco...............................58
13.  Vigília de Oração.30.07......................................60
14.  Angelus..............................................................69
15.  Encontro com os voluntários.............................71
16.  Conferência de imprensa no voo de regresso....77





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